2004-12-14

Painéis de São Vicente (de dentro): conclusão

A junção das três peças do “retábulo profano” produz duas conclusões simples. Primeiro, não faz grande diferença se as eleições são em 2005 ou em 2006; se são ganhas pelo centro-direita ou pelo centro-esquerda: os portugueses, que sempre elegeram ora uns ora outros, não querem as “reformas”. Desde que o equilíbrio representativo resultante não coloque o governo na dependência da extrema esquerda (marxista ou trotskysta), as próximas eleições legislativas serão o que sempre foram: uma tecnologia cara de redistribuição de empregos no topo da administração pública e de rotação parcial dos grupos de interesse beneficiários do ciclo político.

Segundo, é pouco relevante discutir se há ou não referendo constitucional. Os portugueses estão largamente desinformados sobre o conteúdo do tratado constitucional aprovado pelos governos europeus em Roma no passado mês de Outubro e assim continuarão porque são indiferentes ao projecto de constituição para a Europa. Pouco lhes importa as novas regras de decisão, a adesão da Turquia, a discussão sobre a ausência de futuro da "Europa social", ou as visões estratégicas de uma União Europeia em expansão. Se lhes desagrada o alargamento a leste não é por considerações de política internacional, é apenas porque com o alargamento aumenta o número de necessitados sentados à mesa dos subsídios. Movidos pelo instinto de preservação das "regalias", votarão disciplinadamente onde o "sindicato" lhes recomendar.

Dos políticos nacionais ou da União Europeia, os portugueses querem o mesmo de sempre: dinheiro para festas e poucas maçadas.

Sem comentários: