2004-12-12

Internacionalismo humanitário

No mês passado, foi assinado em Nairobi um acordo entre as facções responsáveis pelo genocídio em Darfur, Sudão. O acordo, patrocinado pela ONU, previa a disponibilização de auxílio financeiro ao Sudão a partir de Janeiro de 2005, impondo o fim dos conflitos como condição prévia. Sobre a eventual imposição de sanções, nem uma palavra. A violência continua. As negociações também, agora na Nigéria e sob o patrocínio da União Africana. As vítimas podem certamente esperar mais um pouco. Afinal de contas, desde o início dos massacres em 2003, ainda “só” morreram 70 000 pessoas, havendo um milhão e meio de refugiados. É pouco, por comparação com o genocídio no Ruanda.

A propósito do Ruanda, na República Democrática do Congo a chacina prossegue a bom ritmo: de acordo com relatórios do International Rescue Committee, mais de 1 000 pessoas morrem todos os dias. A Guerra do Congo é a mais mortífera da actualidade. O estado de caos é generalizado. As facções “militares” pouco mais são do que bandos de salteadores, roubando indiscriminadamente os civis como forma de sustento. Estes tentam escapar de um bando, apenas para cair sob o controlo de outro bando de assassinos avulsos. A missão da ONU no Congo, MONUC, faz conferências de imprensa para desmentir publicamente factos do seu conhecimento e que os bons jornalistas conseguem descobrir: que tropas congolesas renegadas estão a soldo do Ruanda e possibilitam a este país a manutenção do controlo militar sobre parte do território do Congo. A MONUC envolve um total de mais de 12 000 tropas, a que acrescem forças policiais civis e centenas de “administrativos”. Os elementos do International Rescue Committee citados na notícia da BBC descrevem as tropas da MONUC como “mal equipadas, mal treinadas, e desmotivadas”. Não são apenas inúteis: são contraproducentes. Esta “missão”, só entre Julho de 2003 e Junho de 2004, custou mais de 608 milhões de dólares.

No território do Congo há pelo menos 12 organizações “não governamentais” (NGO’s). O pais fervilha de símbolos de auxílio e de protecção: UNHCR, MONUC, OCHA, UNICEF, WFP. Se ao menos os desgraçados soubessem ler, se calhar não morriam para ali assim, aos milhares por dia.

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