2003-06-24

Suspensão temporária Este blogue está suspenso durante uns dias. Voltaremos em breve.

2003-06-20

Em breve no blogário: blogador, extrablogar, intrablogar.
O Picuinhas derreteu com o calor.

2003-06-19

Pedro Mexia Um dos autores da Coluna Infame, blogue de boa memória que inspirou meia blogosfera nacional e que me levou a criar o Picuinhices, está de volta. Que seja muito bem-vindo! O blogue de Pedro Mexia chama-se Dicionário do Diabo. Visitem-no!

2003-06-18

Nazismo e Socialismo Mais umas achegas para a excelente resposta do Contra a Corrente ao Linhas de Esquerda:
What distinguished Nazism from traditional forms of socialism was its febrile nationalism, although not its virulence against despised peoples. Marx, as we have seen [pág. 66 e 67], looked forward to the "annihilation" of "reactionary races." The examples he gave were "Croats, Pandurs, Czechs and similar scum." He did not in this passage mention Jews, but his desire for their disapearance was amply expressed elsewhere. His aspiration for "the emancipation of society from Judaism" because "the practical Jewish spirit" of "huckstering" had taken over the Christian nations is not that far from the Nazi program's twenty-fourth point: "combat[ing] the Jewish-materialist spirit within us and without us" in order "that our nation can...achieve permanent health."

Joshua Muravchik, Heaven on Earth: The Rise and Fall of Socialism, Encounter Books, San Francisco, 2002.
Os acentos O Rui escreve de Inglaterra em teclados sem acentos. Neste blogue simbiótico, sou eu quem lhe acentuo as frases. Se falhar algum, já sabem que a culpa é minha.
Filo-americanismos a dois tempos Em Março, escrevi a seguinte nota pessoal:
Aos amigos

Aos amigos dizemos sim, aos amigos dizemos não. Nunca devemos ser ingratos, ainda menos com os nossos amigos. Nunca deixaremos que mintam e lancem falsos testemunhos, muito menos quando as vítimas são os nossos amigos.

Os nossos amigos não são perfeitos. Não foi na ilusão da sua perfeição que se tornaram nossos amigos. Foi por causa da afinidade, por termos descoberto mais coisas que unem que as que nos separam. Por em momentos cruciais das nossas histórias termos estado juntos.

Os amigos serem para as ocasiões é sempre verdade, quer as ocasiões sejam as nossas ou as deles.


As entrevistas aos presos de Guantánamo – a descrição das condições nada humanas, da enormidade de tempo sem culpa formada, do desespero, das tentativas de suicídio – deixam-me com um desconforto semelhante àquele que sentimos quando os nossos amigos fazem algo de errado. Profundamente errado.
Insultos O Linhas de Esquerda acusa o Valete Frates! de nazismo por ter colocado uma entrada no seu blogue onde se demonstra claramente que as ideias de Hitler eram em muitas coisas semelhantes à cartilha de sempre da esquerda: o anti-capitalismo, a estatização da cultura e da educação, etc. Confundir esta entrada esclarecedora e claramente anti-esquerdista e anti-nazi com uma citação enaltecedora do nazismo é um gigantesco absurdo (e estou a ser eufemístico). Infelizmente, há alguma esquerda que não quer, ou não sabe, argumentar, limitando-se ao insulto.

Mas, bem vistas as coisas, valerá a pena responder?

2003-06-17

Guantánamo blues Que se passa exactamente em Guantánamo? Aparentemente nada de especial. Não há torturas. Não há violência. Não há maus tratos. Há presos preventivos. Presos sem culpa formada. E isso já é demais. Não gostamos. Cá como lá, há limites que não se podem ultrapassar. Em Guantánamo foram há muito ultrapassados.
Fernando Ilharco Todas as semanas tento ler a coluna de Fernando Ilharco no Público. Nunca consegui, apesar do esforço. Gostava de saber, sinceramente, se alguém a lê, tirando o próprio. E, sobretudo, se entende o que lá está escrito. Por exemplo, agradecem-se explicações acerca do sentido da seguinte frase:
Contextualizado por um monumental enquadramento do que existe, como Heidegger aponta a essência da moderna tecnologia, no âmbito de um sistema não apenas de informação mas genuinamente de comunicação, de ajuste e de acoplamento estrutural e essencial entre o dentro e o fora, entre todas as diferenças que nos rodeiam e afectam, o que existe e que conta, o ser em si mesmo, é-nos revelado.


Trad... explicações para Picuinhices@yahoo.com.br.
O Logro da "Democracia Participativa"?

José Manuel Fernandes escreve no público acerca da democracia representativa e da "democracia participativa". Concordo no essencial com as suas palavras, mas julgo que o artigo vai um pouco longe demais.

JMF parece negar o papel importantíssimo que têm as associações espontâneas na sociedade civil, independentemente da sua representatividade e democracia interna. Se é verdade que estas associações, a que JMF chama "movimentos sociais", não são a sociedade civil, também é verdade que são uma parte importante dela. É evidente que estas associações não podem ter poder, pois, como JMF diz, isso seria uma total perversão da democracia. Mas nada há de errado em que tentem influenciar o poder: o lobbying, desde que feito às claras, só pode servir mas estimular a discussão e melhor a informação que os nossos eleitos têm para decidir, quer se trate de representantes em órgãos legislativos, quer se trate de membros de órgão executivos. Para que não haja dúvidas, digo isto com activista convicto e associado da ACA-M, ou Associação de Cidadão Auto-Mobilizados, que tem tido, julgo eu, um papel relevante a levantar bem alto o problema da sinistralidade rodoviária em Portugal. Esta associação não participou, e ainda bem, no FSP (Fórum Social Português), justamente pelo seu carácter de verdadeira associação de cidadãos, totalmente ortogonal às organizações partidárias ou partidarizadas. Digo-o com à vontade, pois entre os seus membros se encontram associados de todos os espectros políticos. O mesmo já não posso dizer da LPN (Liga para a Protecção da Natureza), que participou oficialmente no FSP, e da qual deixarei em breve de ser sócio.

Concordo com JMF quando ele diz que não há nenhuma razão para que as opiniões de associações e "movimentos sociais" sejam mais ouvidas que a voz do cidadão singular, pelo menos enquanto não for evidente a sua representatividade. É justamente aqui, de resto, que eu julgo que a nossa democracia está doente. Diria mesmo mais: sempre esteve doente. Porque o cidadão individual é simplesmente ignorado pelo poder. Para o ilustrar, deixem-me descrever uma experiência que tive há uns anos, numa sessão pública da CML, quando ainda João Soares era presidente.

Nessa altura, e presumo que ainda hoje, havia uma sessão pública mensal das reuniões do executivo da CML. Uma vez que sempre acreditei que uma participação activa dos cidadãos na vida pública é fundamental numa democracia plena, com as nuances que apresentei acima, decidi participar numa dessas sessões. Se bem me lembro, realizavam-se numa das terças-feiras do mês, talvez numa das quartas. A sessão tinha lugar à tarde, mas era obrigatória a inscrição prévia dos cidadãos que quisessem interpelar o executivo. Essa inscrição realizava-se pela manhã, e obrigava à indicação dos assuntos a que o cidadão aludiria na sua intervenção, alegadamente para que os "vereadores e presidente pudessem estar preparados para responder". Na prática significava não só evitar as perguntas embaraçosas, como também levava a que os cidadãos que efectivamente participavam nas sessões públicas da CML fossem geralmente cidadãos ociosos, muitas vezes reformados e por vezes mesmo com perturbações e evidente falta de bom senso.

Chegada a hora da sessão, entrei e sentei-me junto com o restante público. Não me lembro exactamente quanto tempo passámos a ouvir votações acerca de assuntos a que os vereadores se referiam pelo número na ordem de trabalhos, à qual não tínhamos acesso. Talvez tenhamos estado uma hora a ouvir os vereadores votarem números: “número 57, quem vota a favor? quem vota contra? quem se abstem?”. Só muito raramente, quando o assunto era polémico e dava azo a alguma discussão, conseguíamos inferir vagamente do que se tratava.

Finalmente chegou o período das intervenções do público. Não intervim, até porque não pudera prescindir da minha manhã para me inscrever. Limitei-me a assistir a um arrastar de personagens absurdos que faziam discursos intermináveis e perguntas absurdas a vereadores enfastiados que respondiam cheios de paternalismo. Uma total perda de tempo e um total aviltamento de uma ideia virtuosa.

A democracia formal limita-se ao voto, mas uma democracia real implica respeito pelo cidadão. Implica dar-lhe a possibilidade, não de decidir, mas de ser ouvido. Por isso digo que a nossa democracia está, e sempre esteve, doente. Porque o cidadão é tratado como um imbecil. Porque presidentes de câmara, como o foi João Soares, e mesmo presidentes de juntas de freguesia, como o foi Vitor Gaio, em S. João de Deus, não se dignam sequer a responder a cartas dos cidadãos.

Note-se que estou a falar da governação ao nível mais atómico, onde os contactos com os cidadãos são mais fáceis e necessários. O que poderá justificar que uma câmara municipal planeie durante anos a recuperação de um jardim, por exemplo, sem que os habitantes da zona o saibam? O que poderá justificar que não tenham acesso atempado ao projecto e a possibilidade de apresentar as suas críticas quando ainda há a possibilidade de elas serem levadas em conta, caso sejam pertinentes? É por não compreender, por não aceitar esta ideia de que a democracia seja sempre e em qualquer circunstância uma espécie de ditadura limitada no tempo, que aceitei, agradecido, o convite que me foi feito para participar como independente nas listas do PSD para a Assembleia de Freguesia de S. João de Deus, onde poderia ter, talvez, a possibilidade influenciar um pouco a forma como os cidadãos são tratados.

Será que dar voz ao cidadão, ou melhor, será que demonstrar simples consideração pelo cidadão corresponde a apoiar a ideia de "democracia participativa"? Não, de modo algum! Pelo menos na acepção que JMF dá à expressão. E isso acontece porque não proponho que o poder esteja directamente nas mãos dos cidadãos individuais ou nas suas associações, mas sim nos seus representantes eleitos. Mas será que podemos chamar verdadeiramente democrática a uma sociedade onde os eleitos simplesmente ignoram os cidadãos, tratando-os com condescendência e paternalismo? A resposta é um enfático não. Democracia implica capacidade de decidir. Por vezes até capacidade de decidir convictamente contra a vontade de todos. Isso implica a coragem de um Tony Blair, afrontando manifestações e impopularidade. "I don't see impopularity as a badge of honour", disse, enquanto persistiu, convicto, no apoio ao ataque ao regime de Saddam Hussein. Mas há uma diferença enorme entre decidir corajosamente e ignorar os cidadãos. O exercício do poder democrático implica a possibilidade de decidir contra a vontade de alguns, ou mesmo da grande maioria dos cidadãos. Mas não significa necessariamente que as opiniões desses cidadãos não mereçam respeito e resposta. Nem que os detentores do poder possam deixar de informar convenientemente os cidadãos.

2003-06-16

Gravatas e T-Shirts ou Uma Resposta a José Manuel Fernandes
Et hay nos gens qui supportent plus mal-aysement une robbe qu'une ame de travers : et regardent à sa reverence, à son maintien et à ses bottes, quel homme il est.

Montaigne, "Du pedantisme", "Essais - Livre I", 1595.

Aborreço esta gente que tem mais dificuldade em desculpar um fato do que um espírito menos correcto e decidem do valor de um homem pelas reverências, pelo porte e pelas botas.

Tradução de Agostinho da Silva em: Montaigne, "Três Ensaios", Vega, 1993.
Constituições e páginas Para que se possam fazer algumas comparações interessantes, seguem as estatísticas:

A este respeito vale a pena ler o artigo de João Carlos Espada na última edição do Expresso.

Correcções ou precisões para Picuinhices@yahoo.com.br.
Holy Cow Comentário anónimo a uma entrada no Samizdata sobre a Constituição da União Europeia:
Holy cow. The EU constitution is 244 pages long?! The mind boggles imagining the things you could hide in there. How many pages is the US Constitution? Low double digits? I have a version that fits in your pocket that I picked up in law school.
A qualidade deste miserável blogue não lhe agrada? Não admira. É que foi traduzido automaticamente do inglês, língua em que são escritas as entradas originais. Para recuperar a versão original, que lhe garanto tem uma qualidade muito superior, siga esta ligação. Verá que o humor fino da versão original inglesa se perde totalmente na tradução.
Uma desgraça nunca vem só José Neves assina um artigo no Público que é verdadeiramente de ir às lágrimas:
Imagine, imagine uma pessoa que vive num subúrbio de Lisboa. Imagine que essa pessoa tem um trabalho hoje, não teve um trabalho ontem e o amanhã ainda não cantou. Imagine, já agora, que essa pessoa é mulher. Imagine-a sem marido e com filhos. Peço-lhe mais um esforço. Imagine ainda que essa pessoa nasceu em África. E imagine a viagem que da sede de êxodo a trouxe até aqui. Peço-lhe mais um esforço - peço-lhe no fundo que a sua sede de êxodo acompanhe a da pessoa imaginada. Assim, imagine ainda que essa mulher é lésbica.

[Texto omitido. Pode-se gerar texto em tudo equivalente recorrendo ao Postmodern Generator e traduzindo o resultado no Systran.]

A caminho do Fórum Social Europeu de Novembro, viveremos os próximos episódios de uma história que escreveremos na nossa diversidade múltipla. Trata-se do movimento da imaginação com que este texto começou. Trata-se do seu encontro com a vida daquela mulher-negra-lésbica-imigrante que o pragmatismo da velha vanguarda das tácticas e das estratégias não soube encontrar. Só esse encontro nos poderá fazer voltar a citar sem tontismo algum a frase de Marx - paira um espectro na Europa.

Pois paira. Mas é o espectro do próprio Marx, que nos continua a atormentar através de organizações como a ATTAC, de que José Neves é membro.

2003-06-15

Merda Roquette Verdadeiramente imperdível, no DN:
Um salto a Paris. Três dias. Chance, chance, merde!

Vera Roquette à blogosfera já! Para compor o ramalhete, precisamos mesmo de um coproblogue.

2003-06-14

Carros sobre passeios esburacados, recantos cheirando a mijo, entulho, lixo, reboco a cair, cantarias sujas de graffitis. Homens bebendo imperiais à porta de tascas cheirando a fritos, a televisão aos gritos. Os lisboetas passam, olham, e não vêem senão uma bela cidade imaginária. O lixo que deixam para o chão, os escarros, volatilizam-se miraculosamente perante o seu olhar. Não existem.

Um amigo americano quebra o feitiço:
- Porque é que a polícia não multa os carros sobre o passeio?
- Porque os polícias também lá estacionam - é a minha resposta automática.

De repente, envergonho-me da minha cidade.
Torcicolos Frente a uma estante, ingleses ou americanos rodam a cabeça para a direita. Os franceses rodam-na para a esquerda. Os portugueses giram-na para a direita, depois para a esquerda, arriscando-se seriamente a um torcicolo. Os nossos livreiros não poderiam chegar a acordo quanto à direcção dos títulos nas lombadas?
Bronca... Onde terei eu ido buscar o «Paulo» Laginha? A bronca ficou registada para a posteridade no Posto de Escuta :-).

2003-06-13

Há uns tempos, o Abrupto lançou o desafio de encontrar objectos que cairam ultimamente em desuso. Seria interessante repetir o exercício para palavras ou suas acepções. Quantas palavras não perdemos por terem ganho um sentido pejorativo?
Concerto para dois pianos e vento nos choupos Ontem à noite, no belíssimo Miradouro de Montes Claros, Bernardo Sasseti e Mário Laginha deram um memorável concerto para uma pequena audiência de foragidos das marchas populares. Foi bonito ouvir momentos como "Renascer", de Bernardo Sassetti, acompanhados pelo ruído do vento nas folhas transparentes dos choupos. Junto ao espelho de água, os temas passaram por "O sonho dos outros", "Segunda gaveta a contar de cima" ou "Fisicamente", terminando com um notável improviso a quatro mãos, enquanto as partituras voavam com o vento.
Blogário Mais contributos para um vocabulário da blogosfera.

blogado [Part. de blogar] Adj. m. Que se blogou.
blogador S. m. O mesmo que blogueiro.
blogal Adj 2 g. 1. Relativo ao blogo.  2. Que se passa do blogo.
blogamia S. f. Estado de blógamo.
blógamo S. m. Aquele que é casado em simultâneo com um humano e com o seu blogue.
blogão [Aum. de blogueS. m. 1. Grande blogue.  2. Blogue de grande qualidade.
blogar V. i. Produzir entradas num blogue.
blogaria S. f. 1. Movimento promotor do bloguismo.  2. Sociedade secreta de blogueiros.
blogariano Adj. m. 1. Leitor que recusa o consumo de qualquer medium que não os blogues.  2.  Membro da sociedade secreta da Blogaria.  3.  Descendente da tribo dos blogarianos primitivos.
blogário1 Adj. m. Respeitante aos blogues, à blogatura4,5 ou a qualquer espécie de de cultura adquirida pela leitura ou estudo dos blogues.
blogário2 S. m. Vocabulário ou livro em que se explicam termos blogários1.
blogarro [Aum. de blogueS. m. 1. Grande blogue.  2. Deprec. Blogue grande apenas em extensão, embora não necessariamente na qualidade.
blogatura S. f. 1. Funções de blogueiro.  2. A classe dos blogueiros.  3. Duração da actividade do blogueiro.  4.  Arte de compor ou escrever em forma de blogue.  5.  O conjunto dos trabalhos blogários dum país ou duma época.  6. Forma de governo em que o poder está nas mãos dos blogueiros cujos blogues têm mais visitas.
blógico Adj. m. Relativo ao blogo.
blogo S. m. 1. Anat. Canal mental que produz entradas para um blogue.  2. Inf. Aplicação informática que permite gerir um blogue.
blogoespaço S. m. Local para onde vão os blogues depois de mortos.
blogófilo Adj. S. m. 1. Psiq. Aquele que sofre de blogofilia.  2. Aquele que ama os blogues.
blogofilia S. f. 1. Psiq. Parafilia caracterizada por desejo forte e repetido de práticas e fantasias sexuais com blogueiros.  2. Amor aos blogues.
blogofobia S. f. Psiq. Blogopatia caracterizada pelo medo, aversão ou discriminação em relação aos blogues ou aos blogueiros.
blogofrenia S. f. Psiq. Termo que engloba várias formas clínicas de blogopatia e distúrbios blogais próximos a ela; sua característica fundamental é a dissociação e a assintonia das funções blógicas, disto decorrendo fragmentação da personalidade do blogueiro.
blogofrénico Adj. S. m. 1.  Que ou aquele que sofre de blogofrenia.  2. Qualquer blogueiro que mantenha dois blogues contraditórios (e.g., o caso dos blogues De Direita e De Esquerda).
blogologia S. f. Ciência que estuda a blogosfera.
blogólogo S. m. Indivíduo dedicado ao estudo da blogologia.
blogómano Adj. S. m. Psiq. Aquele que sofre de blogomania.
blogomania S. f. Psiq. Tendência para o abuso da leitura de blogues, a qual às vezes assume carácter patológico.
blogopatia S. f. Psiq. Qualquer doença mental relacionada com o blogo.
blogorreia S. f. 1. Med. Evacuação frequente, através do blogo, de opiniões verbosas e irrelevantes.  2. Fluxo anormal de entradas num blogue.
blogose S. f. 1. Psiq. Blogopatia.  2. Fig. Ideia fixa no seu blogue; obsessão por produzir entradas num blogue.
blogosexual Adj. 2 g. Relativo à afinidade, atracção e/ou comportamentos sexuais entre blogueiros.
blogosfera S. f. Conjunto de todos os blogues, blogueiros e blogófilos2.
blogossocial Adj. 2 g. 1. Que é simultaneamente blóguico e social.  2. Diz-se de actividade, estudo, etc., relacionados com os aspectos blóguicos conjuntamente com os aspectos sociais da Web.
blogote S. m. Deprec. Blogue de má qualidade.
blogótico Psiq. Adj. m. 1. De ou relativo a blogoses.  2. Que sofre de blogose.
blogotomia S. f. 1. Cir. Incisão no blogo.  2. Neurocir. Psiq. Transecção metódica do blogo, indicada em certas condições mórbidas blogais, como síndromes blogofrénicas, ou em casos de bloguites intratáveis de outra forma (intervenção foi aperfeiçoada, segundo um blomito corrente, por Blogas Moniz, e que entretanto caiu em desuso, sendo mesmo desaconselhada pela bloguética).
blogue1 S. m. Diário digital a uma ou várias mãos, que pode ter um carácter íntimo ou servir como uma coluna de opinião pessoal.
blogue2 Adj. 1. Deprec. Diz-se daquilo que é como um blogue.  2.  Verboso e opinioso.  3.  Irrelevante.
blogueio S. m. 1. Med. Obstrução do blogo.  2.  Estado de um blogueiro temporariamente incapaz de blogar.
blogueiricida S. 2 g. Aquele que matou um blogueiro.
blogueiro S. m. Aquele que mantém um blogue, ou seja, que bloga.
bloguemente Adv. 1. À maneira de um blogue ou de um blogueiro.
bloguepsia S. f. Patol. Afecção que incide no homem mas sobretudo em alguns quadrúpedes e certas aves de arribação, e que consiste em acessos recidivantes de distúrbios mentais, caracterizados pelo cepticismo acerca da relevância do movimento bloguista.
bloguéptico Adj. m. 1. Relativo a, ou que sofre de bloguepsia, i.e., que tem crises bloguépticas.  2. Aquele que sofre de bloguepsia.
bloguército S. f. As tropas de um blogue ou de uma coalizão de blogues (e.g., a famosa União dos Blogues Livres, que libertou a blogosfera do perigo totalitário marxista).
bloguerra S. f. Guerra fraticida entre blogues.
bloguética S. f. Filos. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta bloguíaca susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada bloguidade, seja de modo absoluto.
bloguíaco Adj. m. Relativo aos blogues.
bloguice S. f. 1. Qualidade do que é blóguico.  2. Mania típica de um blogueiro.
bloguicida S. 2 g. 1. Aquele que matou um blogueiro; blogueiricida.  2. Aquele que eliminou um blogue.
bloguício 1. Adj. m. Relativo aos blogues.  2. S. m. Vício de blogar.
blóguico Adj. m. Relativo aos blogues.
bloguidade S. f. Agrupamento de blogueiros que vivem em estado gregário.
bloguinho [Dim. de blogue] S. m. 1. Pequeno blogue.  2.  Carinh. Blogue com conteúdo ingénuo.
bloguismo S. m. Doutrina que prega a primazia dos blogues sobre os media tradicionais. V. socialismo.
bloguista Adj. 2 g. Que é partidário do bloguismo. V. socialista. S. 2 g. Partidário do bloguismo.
bloguite S. f. 1. Med. Inflamação do blogo.  2. Vermelhidão no blogue (Ver Blog de Esquerda).
bloguito [Dim. de blogue] S. m. 1. Deprec. Blogue medíocre.  2. Chulo Gesto obsceno característico dos blogueiros, executado normalmente quando recebem um tratamento que consideram injusto nos media tradicionais.  3. Gesto ritual realizado aquando da entrada num movimento bloguista.
blogura S. f. Qualidade daquilo que é blogue2.
blomito S. m. 1. Mito da blogosfera.  2.  Narrativa dos tempos fabulosos ou heróicos da blogosfera.
comenteiro S. m. Aquele que comenta as entradas de um blogue.
comentarreia S. f. 1. Med. Afecção caracterizada pela produção descontrolada de comentários às entradas de um ou mais blogues.
iblogato Adj. S. m. Que ou aquele que não tem conhecimentos blogários.
ibloguecia S. f. Condição ou estado de iblogato.
lapsus linkae [Lat. moderno] Erro involuntário numa ligação (link) a uma página.
pós-bloguismo S. m. Doutrina que prega a equivalência não apenas entre todas as formas de expressão, mas também de todas as opiniões expressas.
pré-bloguismo S. m. O mesmo que pós-modernismo.
[A lista continua logo que possível com: coproblogue, blogue-maria, bloguinária, blogussão, blogasmo, blogásmico, imblóguio, blogosene, in blogo, blogalgia, blogóide, blogoma, disblogue, rinoblogue, blogostase, periblogue, ectoblogue, blogostória, blogueida, citoblogue, neoblogue, poliblogue, monoblogue, homoblogue, heteroblogue, pan-bloguismo, neuroblogue, psicoblogue, interblogue, intrablogue, hiperblogue, hipoblogue, gastroblogue, bloguiase, hemoblogue, megablogue, micro blogue, transblogue, blogoblasto, bradiblogue, taquiblogue, taquibloguia, bradibloguia, parablogue, imblogável, blogável, blogástico, blogoxismo, blogariante, blogacional, ofiblogue, blogópode, dromoblogue, blogueína, blogodependente]


Contribuições e correcções para Picuinhices@yahoo.com.br.

Colaborações de Gonçalo, comenteiro, e de Nelson Alexandre (a.k.a. Shinho), blogueiro da Espada Relativa. Verbetes indecentemente roubados ao Novo Aurélio Século XXI.
Juntos Ontem sessão dupla de Lukas Moodysson no cine-teatro Dukes em Lancaster, U.K. O primeiro "Fucking Åmål"/"Show me Love", o segundo "Tillsammans"/"Together". Bom o primeiro, imperdível o segundo. Ambos cheios de humanidade, o segundo de um humor óptimo.
Lapsus linkae O Picuinhices cometeu um lapsus linkae na entrada anterior colocando a mesma âncora para o termo "idiotarian" e para o artigo de Filomena Mónica. Um pedido de desculpas é devido aos nossos leitores mais picuinhas... e aos outros também...
Será a tendência para a utupia inata? Será que a natureza humana nos condenará para todo o sempre a conviver com uma minoria "idiotariana"? É bem possível que sim. Daí que o aviso de Filomena Mónica deve ser levado em conta.
Mais um glossário da blogosfera, no Samizdata.
Blogues e democracia, no Samizdata:
Blogs are therefore something which empowers the individual, the blogger, regardless of the wishes, and therefore the votes, of a collective who might wish to have a say in what a blogger writes. The correct analogy is therefore the market place... a blog is a open air stall in a marketplace for ideas called the blogosphere. If you find the ideas we are 'selling' interesting (even if you do not agree with them) you will come back for more. If we horrify you or even worse, bore the pants off you, you will probably not come back. But we will write what we will write. There is nothing democratic about that... and long may it be so.

De facto. Não gastemos a palavra "democracia".
A Coluna Infame acabou. O Picuinhices sente-se órfão. O Picuinhices revê-se nas palavras de José Manuel Fernandes:
A "Coluna Infame" acabou. A blogosfera está mais pobre. E o país também - mesmo que a maioria nunca tenha ouvido falar nem da "Coluna", nem da blogosfera.
Mais Castrismos no Le Monde. Cuba pára durante três horas para poder participar em mais um manifestação oficial, desta vez contra a União Europeia, personificada nos "fascistas" Aznar e Berlusconi.
O Blog de Esquerda agarra-se instintivamente a todos os confrontos de manifestantes de esquerda com a polícia. A verdade sofre no processo de "epicização" dos acontecimentos. Um ponto de vista um pouco diferente sobre as manifestações em Paris pode ser lido no Le Figaro:
Le film des événements semble indiquer que les services d'ordre mis en place par les syndicats ont été dépassés par un «noyau dur» de trois cents personnes environ. «Vers 19 heures, une partie des quelque cinq mille manifestants massés place de la Concorde ont tenté de franchir le pont pour rejoindre l'Assemblée nationale, qui était dans leur ligne de mire, explique un policier. Des groupes d'inconnus se sont heurtés aux CRS, qui ont essuyé une pluie de projectiles divers.» De manière assez exceptionnelle, les fonctionnaires en tenue ont été contraints de lancer des grenades lacrymogènes et d'utiliser les canons à eau pour repousser les assaillants. Une vingtaine d'individus ont été appréhendés avant qu'une partie du cortège ne se dirige vers l'Opéra Garnier où, vers 21 heures, plus de deux cents personnes ont fait irruption au moment de l'entracte de Cosi Fan Tutte. A leur tour, une quarantaine de personnes ont été neutralisées.
Mais mentiras João Lecour envia-nos mais uma contribuição para o rol das mentiras associadas ao caso Wofowitz:

Aqui fica o meu contributo, retirado do Público de 9/6, referindo a intervenção de Maria de Lourdes Pintasilgo no FSP:
[...] Entre elas, a controversa entrevista de Paul Wolfowitz, subsecretário de Estado da Defesa dos EUA, à revista "Vanity Fair". "Afirmou que o argumento das armas de destruição maciça foi inventado para fazer a guerra e com tal mentira foram mortas milhares de pessoas e criou-se no mundo uma grande revolta", declarou. Perante uma assistência que foi engrossando ao longo da manhã, Pintasilgo lamentou viver num mundo "onde não conta a vida humana" e frisou que "se o mundo assenta na mentira, então não vale a pena governar".

Diz a sra. Pintasilgo que "se o mundo assenta na mentira, então não vale a pena governar"; concordo e acrescento que ainda bem que pessoas como ela não governam, pois como ficou comprovado são capazes de recorrer à mentira mais conveniente.
José Pacheco Pereira produziu mais uma crónica admirável no Público, amadurecida a partir de textos pré-publicados no seu blogue: O Abrupto. Desta vez é sobre o Fórum Social Português.
Lulismos Não sou especialista em impostos, mas quando li a proposta de Lula da Silva de introduzir um imposto sobre o comércio internacional de armas, lembrei-me do Conde-Duque de Olivares, valido de Felipe IV (Filipe III de Portugal). Foi ele que inventou o nefando imposto de selo, na sua forma primitiva de papel selado. O objectivo era aumentar as receitas numa altura em que a situação da Fazenda de Espanha se tornou desastrosa devido à redução das entradas de ouro das colónias, ao esforço bélico constante em todas as partes do império e à guerra com França de 1635 (ver a excelente biografia de Gregorio Marañón). Este tipo de ideias repete-se há séculos: quando não há dinheiro, inventa-se.

Mas a proposta de Lula não terá o condão de irritar a opinião pública. Não. Desde 1635 aprendeu-se muito. Hoje, este tipo de propostas têm um toque de Robin dos Bosques. Os impostos propostos para resolver definitivamente os problemas agora mundiais não incidem sobre todos nós. Incidem, isso sim, sobre um conjunto de entidades mais ou menos remotas e que o pensamento politicamente correcto vê como sinistras e fontes do mal na terra. Primeiro foi a famosa Taxa Tobin, que taxaria as transacções financeiras internacionais, vistas pela cartilha dos movimentos anti-globalização como especulativas e fonte das misérias dos países do terceiro mundo. Agora chegou a vez da Taxa Lula, que propõe a solução milagrosa para a fome no mundo à custa da taxação das vendas internacionais de armamento.

A resposta mais eloquente a esta proposta profundamente demagógica foi dada por Sérgio Vasques no Público de ontem, através de um artigo irónico e certeiro:
Ora aqui é que a proposta do Presidente Lula se mostra verdadeiramente revolucionária, deixando ver que outra globalização é de facto possível: propõe-se que se combata a fome não só com o novo imposto mas com parte dos juros da dívida pagos pelo terceiro mundo. Com alguma articulação e boa vontade, consegue-se, portanto, a situação óptima impensada nos livros: a indústria do armamento mantém o seu lucro, os contribuintes do primeiro mundo o seu rendimento, os regimes do terceiro mundo as suas prioridades. E uma vez salvo o planeta, quem sabe, talvez se salve o Brasil.


Parabéns, Sérgio Vasques!

2003-06-12

Enlynceceu Pedro Lynce, num ataque violento de socialismo, decidiu chamar a si não apenas a fixação das vagas para o ensino superior público, violando grosseiramente os pequenos passos que ele próprio vinha dando no sentido de uma maior autonomia e responsabilização das instituições de ensino superior público, mas também as vagas do ensino superior privado. O procedimento de redução de vagas "vai ser aplicado a todo o sistema, desde que haja concorrência", disse. É verdadeiramente lamentável. Uma regressão que não esperava deste governo, que aliás me vai desiludindo todos os dias que passam.

Dadas as suas tendências socialistas, proponho Pedro Lynce como organizador do próximo Fórum Social Português e como membro honorário do PCP.

2003-06-11

Pausa Devido a um período de trabalho mais intenso, os próximos tempos neste blogue vão ser calmos... Espero voltar à acção a partir da próxima semana.
A contribuição possível

Só mesmo o Manel e a capacidade de ser amigo dele suporta o facto de eu ser um disblogue. Posto isto, a contribuição possível é uma descoberta musical nova de 3 dias. Isto, também se poderia chamar And now something completely different ...


Into my arms by Nick Cave & the Bad Seeds


I don't believe in an interventionist God
But I know, darling, that you do
But if I did I would kneel down and ask Him
Not to intervene when it came to you
Not to touch a hair on your head
To leave you as you are
And if He felt He had to direct you
Then direct you into my arms

Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms

And I don't believe in the existence of angels
But looking at you I wonder if that's true
But if I did I would summon them together
And ask them to watch over you
To each burn a candle for you
To make bright and clear your path
And to walk, like Christ, in grace and love
And guide you into my arms

Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms

And I believe in Love
And I know that you do too
And I believe in some kind of path
That we can walk down, me and you
So keep your candlew burning
And make her journey bright and pure
That she will keep returning
Always and evermore

Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms


Desculpem qualquer coisinha os leitores habituais do Manel por este público acto de contrição.
Obrigado Manel.

2003-06-09

"A Hora dos Professores" Excelente o artigo de António Barreto no Público. Um extracto:
Ainda há centenas de professores que não dão aulas, ou quase não dão aulas, reservando para os assistentes dependentes e os convidados acidentais essa que deveria ser uma sua nobre tarefa. Há numerosos professores que nada investigam, limitando-se a repetir aulas ou artigos velhos de idade e de ideias, sem efectiva avaliação ou, pior ainda, sem consequências das avaliações feitas. Há faculdades que multiplicam os números de cadeiras e disciplinas, na esperança de assim resolver problemas de corpo, ao mesmo tempo que se "fabricam" turmas sem alunos. Há faculdades com mais de 1.500 disciplinas, muitas das quais absolutamente inúteis, mas cuja função primordial é a de manter professores na inactividade. Há cursos de mestrado concebidos com o objectivo essencial de preencher, no papel, horários docentes inexistentes. Há centenas de professores em acumulação mais ou menos lícita, ao abrigo de expedientes legais estranhos. Há centenas de professores que faltam às aulas, sem sequer advertir os seus estudantes. Há centenas de professores que assinam os trabalhos dos seus dependentes e os publicam para sua glória. Há centenas de professores que não recebem regularmente os estudantes, não acompanham os trabalhos dos seus doutorandos, demoram por vezes meses a publicar as pautas de exames e chegam a fazer esperar mais de um ano um candidato a doutor. Há centenas de professores com "horário zero" (e milhares no sistema educativo em geral), há dezenas e dezenas de professores sem aulas e ao serviço do sindicato (são muitas centenas no sistema), há centenas de universitários (e milhares de professores ao todo...) requisitados nos gabinetes dos ministros, nos departamentos ministeriais, nas autarquias e noutras instituições de repouso académico!

2003-06-08

Contributos para um vocabulário da blogosfera Ao cuidado do Prof. João Malaca Casteleiro, seguem alguns contributos humildes para a próxima edição do Dicionário da Academia. Com estes novos verbetes, o Dicionário ficará finalmente completo. Definitivo. Imutável.

blogado [Part. de blogar] Adj. Que se blogou.
blogamia S. f. Estado de blógamo.
blógamo S. m. Aquele que é casado em simultâneo com um humano e com o seu blogue.
blogar V. i. Produzir entradas num blogue.
blogo S. m. 1. Anat. Canal mental que produz entradas para um blogue.  2. Inf. Aplicação informática que permite gerir um blogue.
blogófilo Adj. S. m. 1. Psiq. Aquele que sofre de blogofilia.  2. Aquele que ama os blogues.
blogofilia S. f. 1. Psiq. Parafilia caracterizada por desejo forte e repetido de práticas e fantasias sexuais com blogueiros.  2. Amor aos blogues.
blogofobia S. f. Psiq. Blogopatia caracterizada pelo medo, aversão ou discriminação em relação aos blogues ou aos blogueiros.
blogologia S. f. Ciência que estuda a blogosfera.
blogomano Adj. S. m. Psiq. Aquele que sofre de blogomania.
blogomania S. f. Psiq. Tendência para o abuso da leitura de blogues, a qual às vezes assume carácter patológico.
blogopatia S. f. Psiq. Qualquer doença mental relacionada com o blogo.
blogorreia S. f. 1. Med. Evacuação frequente, através do blogo, de opiniões verbosas e irrelevantes.  2. Fluxo anormal de entradas num blogue.
blogose S. f. 1. Psiq. Blogopatia.  2. Fig. Ideia fixa no seu blogue; obsessão por produzir entradas num blogue.
blogosexual Adj. 2 g. Relativo à afinidade, atracção e/ou comportamentos sexuais entre blogueiros.
blogosfera S. f. Conjunto de todos os blogues, blogueiros e blogófilos2.
blogote S. m. Deprec. Blogue de má qualidade.
blogótico Psiq. Adj. m. 1. De ou relativo a blogoses.  2. Que sofre de blogose.
blogue S. m. Diário digital a uma ou várias mãos, que pode ter um carácter íntimo ou servir como uma coluna de opinião pessoal.
blogueio S. m. 1. Med. Obstrução do blogo.  2.  Estado de um blogueiro temporariamente incapaz de blogar.
blogueiricida S. 2 g. Aquele que matou um blogueiro.
blogueiro S. m. Aquele que mantém um blogue, ou seja, que bloga.
bloguicida S. 2 g. 1. Aquele que matou um blogueiro; blogueiricida.  2. Aquele que eliminou um blogue.
bloguinho [Dim. de blogue] S. m. 1. Pequeno blogue.  2.  Carinh. Blogue com conteúdo ingénuo.
bloguismo S. m. Doutrina que prega a primazia dos blogues sobre os media tradicionais. V. socialismo.
bloguista Adj. 2 g. Que é partidário do bloguismo. V. socialista. S. 2 g. Partidário do bloguismo.
bloguite S. f. 1. Med. Inflamação do blogo.
bloguito [Dim. de blogue] S. m. Deprec. Blogue medíocre.
entrada S. m. Unidade básica do texto colocado num blogue (as entradas são usualmente assinaladas com a data e hora da colocação do texto e normalmente são assinadas pelo blogueiro que as produziu).
pós-bloguismo S. m. Doutrina que prega a equivalência não apenas entre todas as formas de expressão, mas também de todas as opiniões expressas.
pré-bloguismo S. m. O mesmo que pós-modernismo.
[A lista continua amanhã com: blogão, blogarro, comenteiro, comentarite, blogura (V. doçura), blogueira, bloguemente, blogueirar, blogoespaço, blogosocial (V. psicossocial), anti-blogue, pró-blogue, blogólogo, blogaria (V. sapataria), bloguesia (V. burguesia), blogasia (V. fantasia).]


Contribuições e correcções para Picuinhices@yahoo.com.br.
Blogorreia Isto hoje foi um caso de verdadeira blogorreia.
(Diabos! Lá vou eu, honesta e humildemente, comprar o "Hail to the Thief"...)
Radiohead Gosto demasiado desta banda para suportar os lugares comuns e os absurdos de que está cheio o início da entrevista do baixista da banda, Colin Greenwood, à revista Actual, do Expresso. Acerca do título do novo álbum, "Hail to the Thief", diz:
Refere-se igualmente ao modo como as empresas hoje nos roubam uma parte das nossas vidas, ou da nossa cultura, aniquilando o legado de nossos pais e avós, substituindo-a por coisas como os MacDonald's e essas porcarias.

Um exemplar autografado do novo album para o José Bové. Já!
Feira do Livro Xenófoba Porque diabo não há uma banca que seja na Feira do Livro com livros estrangeiros? Será o mesmo tipo de "defesa da língua" que se usa quando proíbem as teses de mestrado ou doutoramento em inglês? Ou serão apenas os livreiros a protegerem as suas traduções?
Ainda mais deturpações Ainda no expresso, em artigo de Paulo Paixão:
Discussões sobre uma declaração do secretário-adjunto da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, adensaram as dúvidas sobre as teses da Casa Branca. Em entrevista à «Vanity Fair», Wolfowitz disse que a existência de armamento de eliminação em massa foi apresentada como motivo para invadir o Iraque «por razões que têm muito a ver com a burocracia dos EUA». Isto é, foi preciso formular «uma questão com que toda a gente pudesse concordar». Esta asserção foi vista por comentadores [Ana Sá Lopes, Paulo Paixão, Mário Soares, Ruben de Carvalho, e outros leitores assíduos da Vanity Fair] como uma confissão: o argumento das armas não passaria, afinal, de um pretexto para invadir o Iraque.


Repito de novo (paciência, caros leitores) a citação completa de Wolfowitz:
The truth is that for reasons that have a lot to do with the U.S. government bureaucracy we settled on the one issue that everyone could agree on which was weapons of mass destruction as the core reason, but …there have always been three fundamental concerns. One is weapons of mass destruction, the second is support for terrorism, the third is the criminal treatment of the Iraqi people. Actually I guess you could say there's a fourth overriding one which is the connection between the first two.

Cinismo parcial O cepticismo é uma arma importante, mas em excesso conduz ao mais simples e mesquinho cinismo. Se o cinismo é mau, ainda é pior quando é parcial, aplicando-se apenas aos adversários políticos, e quando é cego ao ponto de não vislumbrar em nenhuma possível acção do adversário senão o interesse, recusando-se a ver nos actos simples convicção e boa-vontade. É isto que faz Mário Soares, que transformou o cinismo numa profissão.

É fácil ser cínico. Como poderemos nós negar que os esforços de Bush para fazer avançar o processo de paz no médio oriente se devem à má situação da economia americana e ao aproximar das eleições presidenciais? Se Bush tivesse abandonado o médio oriente à sua sorte, cá estaria Mário Soares a explicar-nos porque isso se devia obviamente aos interesses mais mesquinhos do presidente dos EUA, provavelmente o interesse de apaziguar o "lobi judaico em Washington"...

Para que a minha crítica fique melhor documentada, segue pequeno extracto da coluna de Mário Soares no Expresso:
Voltemos, provisoriamente, a página. Trata-se agora de de genhar a paz. É a fase em que nos encontramos. E, na passada, se possível, para o Presidente Bush, ganhar as próximas eleições presidenciais em Novembro de 2004. É agora a sua preocupação dominante. Ora a situação económico-financeira da América – e, portanto, do mundo – não ajudam nada: há que as inverter.

Para tanto, importa fazer parar a guerra latente entre Israel e a Palestina, uma questão chave para todo o Médio-Oriente. [...}

Numa palavra, começaram as grandes movimentações político-diplomáticas. «Le calendrier oblige»!

Tirando o óbvio problema de Soares com as vírgulas, percebe-se perfeitamente que Mário Soares não poderia evitar elogiar os recentes esforços de paz de Bush e as posições felizes de Sharon, mas tinha de começar por lhes dar uma justificação interesseira. Tinha de ser. Há que ser cinicamente coerente, não é?
Mais deturpações Isto torna-se repetitivo... Agora foi Mário Soares, no Expresso, que repetiu as declarações truncadas de Wolfowitz à Vanity Fair, desta vez não apenas desinseridas de contexto, mas simplesmente adulteradas (note-se na pseudo-citação "foram um expediente burocrático"):
Sobretudo, quando se sabe agora (Paul Wolfowitz, «dixit», à revista «Vanity Fair») que as armas de destruição maciça, em poder de Saddam Hussein, nunca existiram: «foram um expediente burocrático» inventado pelos serviços para convencer os incautos... Confissão inacreditável!

Eles repetem a mentira, nós repetiremos os desmentidos. A mentira não ganhará aparência de verdade pela repetição. A blogosfera não o permitirá.
José António Saraiva escreve mal e argumenta pior. No seu editorial no Expresso de ontem refere a cegueira efectiva de Cunhal como pretexto para falar da sua cegueira ideológica. Um enorme mau gosto. Mas não se fica por aqui. Diz ele que:
O jornalismo que se pratica em Portugal nem sempre prima pela qualidade e há hoje nos grupos de «media» uma sumissão ao «patrão» maior do que havia há vinte anos.

Talvez seja verdade. Mas se o for, exigimos todos que José António Saraiva explique muito bem explicadinho como é que esta afirmação se aplica ao Expresso, aos seus jornalistas, e a ele próprio. Quero saber se continuo a ler o Expresso ou não.

Finalmente, José António Saraiva remata com um argumento absurdo para demonstrar que é um disparate afirmar que os "patrões [agora sem aspas] dos «media» [mas aqui sim]" determinam e controlam tudo:
Ora a solidariedade com o povo de Timor [que ocupou os nossos média durante meses] ou o antiamericanismo [da oposição à intervenção no Iraque que dominou os média portugueses] interessava alguma coisa aos «grandes potentados financeiros» de que fala Álvaro Cunhal?
Foram os patrões que planearam essas campanha jornalísticas?
Ou, pelo contrário, a maioria dos patrões não tinha qualquer interesse na causa de Timor e até concordava com a invasão do Iraque pelos Estados Unidos?

Como se não fosse do interesse dos "patrões" vender jornais ou aumentar audiências fornecendo aquilo que o público mais desejava...
Definitivamente. É mesmo mentira voluntária. Veja-se o que disse Ruben de Carvalho no Diário de Notícias:
Nele [no editorial de José Manuel Fernandes no Público de sexta-feira] se expõe que, sobre o Iraque, Wolfowitz não disse à Vanity Fair aquilo que disse sobre o embuste das armas de destruição maciça e as reais motivações petrolíferas, mas sim que as armas de destruição maciça foram um embuste e as reais motivações foram petrolíferas.


Para que não sobrem dúvidas, seguem de novo as afirmações contextualizadas de Wolfowitz. Acerca do petróleo no Iraque:
Look, the primarily difference - to put it a little too simply - between North Korea and Iraq is that we had virtually no economic options with Iraq because the country floats on a sea of oil. In the case of North Korea, the country is teetering on the edge of economic collapse and that I believe is a major point of leverage whereas the military picture with North Korea is very different from that with Iraq. The problems in both cases have some similarities but the solutions have got to be tailored to the circumstances which are very different.

Acerca das armas de destruição em massa:
The truth is that for reasons that have a lot to do with the U.S. government bureaucracy we settled on the one issue that everyone could agree on which was weapons of mass destruction as the core reason, but …there have always been three fundamental concerns. One is weapons of mass destruction, the second is support for terrorism, the third is the criminal treatment of the Iraqi people. Actually I guess you could say there's a fourth overriding one which is the connection between the first two.
A asneira continua. Agora é Ana Sá Lopes que repete, mais uma vez no Público, as falsidades acerca de Wolfowitz:
A dúvida reside apenas em saber "se foram destruídas ou não antes da intervenção norte-americana", uma dúvida de peso, que põe em causa o argumentário em que se centrou a propaganda americana sobre a guerra, "por razões burocráticas", conforme disse o subsecretário da Defesa norte-americano, Paul Wolfowitz, explicando que era a única matéria onde a comunidade internacional mais facilmente se podia entender.

Já não há paciência que ature isto. Será impossível que esta gente se informe? Ou será que tentam, pela repetição exaustiva da mentira, dar-lhe a aparência de verdade?

Depois, em adenda, Ana Sá Lopes refere o caso da pedofilia dizendo:
(Subitamente, os assassinos passaram a ter uma maior consideração no mercado da opinião pública). Numa revista, esta semana, o cronista social Carlos Castro pedia a pena de morte para os pedófilos.

É assim. Defender a pena de morte é o mesmo que ser assassino... O Público é um jornal equilibrado, do ponto de vista do espectro político dos artigos de opinião que publica. Mas, sinceramente, era boa ideia começar a pensar em mudar alguns dos seus colaboradores. Não por questões ideológicas, mas simplesmente porque é fundamental que quem opina num jornal saiba pensar.
Saramaguices Saramago no Fórum Social Português vem-nos dar lições de democracia. Diz ele que a nossa democracia está "em regressão". Saramago tem razão: deveríamos ter seguido há muito os seus conselhos. Se o tivéssemos feito a nossa democracia não estaria em regressão: pura e simplesmente não existiria.

(Alerta do nosso bloguista virtual, Rui Lopes. Uma tese para escrever fala mais alto, muito mais alto, que qualquer blogue.)

2003-06-07

De novo o caso Wolfowitz O Guardian desculpa-se. Comparar com o pífio esclarecimento do Público.
O Fascismo Americano Segundo Miguel Sousa Tavares "as pessoas levam isso [a campanha anti-tabaco nos EUA] para a anedota, mas foi aí que começou o fascismo americano". O tal fascismo que, através da mentira descarada, derrubou a democracia Iraquiana...
Relação entre Terrorismo, Educação e Pobreza? Pouca, ou nenhuma, segundo Alan B. Krueger e Jitka Malecková no The Chronicle of Higher Education. (Via Arts & Letters Daily). Citações:
In December 2001, the Palestinian Center for Policy and Survey Research, in the West Bank city of Ramallah, conducted a public-opinion poll of 1,357 Palestinians age 18 or older in the West Bank and Gaza on topics including the September 11 attacks in the United States, support for an Israeli-Palestinian peace agreement, and attacks against Israel.

[...]

These results offer no evidence that educated people are less supportive of attacks against Israeli targets. In fact, the support for attacks against Israeli targets is higher among those with more than a secondary-school education than among those with only an elementary-school education, and the support is considerably lower among those who are illiterate.

The study showed also that support for attacks against Israeli targets is particularly strong among students, merchants, and professionals. Notably, the unemployed are somewhat less likely to support such attacks.

[...]

The poverty rate is 28 percent among the Hezbollah militants and 33 percent for the population. In terms of education the Hezbollah fighters are more likely to have attended secondary school than are people in the general population (47 versus 38 percent). The results suggest that poverty is inversely related, and education positively related, to the likelihood that someone becomes a Hezbollah fighter.
Porque será que uma medida liberal, fazer pagar os utilizadores de uma serviço, foi implementada por um trabalhista da primeira via, Ken Livingstone? Por ser de elementar bom senso, talvez. Um exemplo a seguir em muitas outras cidades.
Wolfowitz no Público José Manuel Fernandes explica o caso. O jornal publica um esclarecimento. Miguel Sousa Tavares insiste na falsidade (admito não ser uma mentira deliberada), não só acerca de Wolfowitz, como de Hans Blix, cujas afirmações nunca corroboraram as afirmações dos opositores da coligação que interveio no Iraque.

2003-06-06

Vejam o Jaquinzinhos sobre o Forum da Realidade Virtual. Imperdível.
Oda a los Números
Qué sed
de saber cuánto!
Qué hambre
de saber
cuántas
estrellas tiene el cielo!

Nos pasamos
la infancia
contando piedras, plantas,
dedos, arenas, dientes,
la juventud contando
pétalos, cabelleras.
Contamos
los colores, los años,
las vidas y los besos,
en el campo
los bueyes, en el mar
las olas. Los navíos
se hicieron cifras que se fecundaban.
Los números parían.
Las ciudades
eran miles, millones,
el trigo centenares
de unidades que adentro
tenían otros números pequeños,
más pequeños que un grano.
El tiempo se hizo número.
La luz fue numerada
y por más que corrió con el sonido
fue su velocidad un 37.
Nos rodearon de números.
Cerrábamos la puerta,
de noche, fatigados,
llegaba un 800,
por debajo,
hasta entrar con nosotros en la cama,
y en el sueño
los 4000 y los 77
picándonos la frente
con sus martillos o sus alicates.
Los 5
agregándose
hasta entrar en el mar o en el delirio,
hasta que el sol saluda con su cero
y nos vamos corriendo
a la oficina,
al taller,
a la fábrica,
a comenzar de nuevo el infinito
número 1 de cada día.

Tuvimos, hombre, tiempo
para que nuestra sed
fuera saciándose,
el ancestral deseo
de enumerar las cosas
y sumarlas,
de reducirlas hasta
hacerlas polvo,
arenales de números.
Fuimos
empapelando el mundo
con números y nombres,
pero
las cosas existían,
se fugaban del número,
enloquecían en sus cantidades,
se evaporaban
dejando
su olor o su recuerdo
y quedaban los números vacíos.

Por eso,
para ti
quiero las cosas.
Los números
que se vayan a la cárcel,
que se muevan
en columnas cerradas
procreando
hasta darnos la suma
de la totalidad del infinito.
Para ti sólo quiero
que aquellos
números del camino
te defiendan
y que tú los defiendas.
La cifra semanal de tu salario
se desarrolle hasta cubrir tu pecho.
Y del número 2 en que se enlazan
tu cuerpo y el de la mujer amada
salgan los ojos pares de tus hijos
a contar otra vez
las antiguas estrellas
y las innumerables
espigas
que llenarán la tierra transformada.

Pablo Neruda
Jornalismo de Ficção é o veredito do Rui, colaborador virtual deste blogue, acerca da desinformação que grassa pelos nossos meios de comunicação social.
Ironias Eduardo Prado Coelho no Público de ontem:
Recordo um exemplo da minha experiência pessoal. Quando fui conselheiro cultural em Paris, dei uma entrevista a um correspondente do "Expresso" sobre questões de língua e cultura portuguesas em França. Nela dizia o que ainda hoje penso: que era irrealista pedir aos luso-descendentes que levassem os seus filhos a escolher o português como primeira língua estrangeira; que era legítimo que, por motivos de formação profissional e mercado de trabalho, eles escolhessem o inglês como primeira língua estrangeira desde que escolhessem o português como segunda língua estrangeira.

O texto da entrevista dizia isto mesmo. Mas havia uma caixa que afirmava apenas o seguinte: "É perfeitamente compreensível que os portugueses em França escolham o inglês como língua estrangeira." Nada nesta frase corresponde a coisas que eu não tenha dito, desde que se tenha em conta que eu disse mais coisas que vieram alterar o sentido final desta mesma frase. O modo como as coisas eram apresentadas suscitou uma montanha de telefonemas indignados.


Ironias do destino. Eduardo Prado Coelho deveria ter aprendido a lição. Citar fora do contexto é muitas vezes um acto deliberado de desinformação. Que dizer então da sua crónica no Público de quarta-feira?
Não foi sem espanto nem perplexidade que o mundo tomou conhecimento das declarações de Paul Wolfowitz à revista "Vanity Fair". Não pelo facto do que ele disse, que apenas confirma suspeitas que o cidadão comum já tinha, mas por ter tido o desplante de o dizer. Que afirmou Wolfowitz, número dois da hierquia da Defesa americana?

Que o famoso argumento de que o Iraque possuía armas de destruição maciça tinha sido avançado apenas por "razões burocráticas" - certamente as mesmas razões burocráticas que levam os responsáveis americanos a considerar que a contagem das vítimas civis na invasão do Iraque pelos EUA "não é uma prioridade". Por outras palavras, foi o que a administração americana arranjou de melhor para justificar a sua acção. E Wolfowitz acrescenta que, no seio da administração americana, "chegámos à conclusão que o tema das armas de destruição maciça era a única razão que permitia pôr toda a gente de acordo", embora a verdadeira razão, para este estratega, tenha sido o facto quase despercebido de permitir aos EUA retirar as suas tropas da Arábia Saudita, que eram um pretexto permanente para a rede Al-Qaeda, "permitindo assim abrir a porta a um Próximo Oriente mais pacífico".


Pois é, caro EPC, convém ter um pouco mais cuidado. Que tal ler to texto integral da entrevista?
A Arrogância da Esquerda Continua Diz o Linhas de Esquerda:
Zé Mário do BDE afirma que a esquerda ainda acredita na humanidade. Eu partilho dessa opinião e acrescento que a esquerda na sua maioria é o garante e o poço da moralidade social. Não dos falsos moralismos, que se confundem com os bons costumes inscritos na bíblia do jet-set, mas aqueles que permitem uma sociedade avançar coesa para o futuro. Sentimentos como a solidariedade, a partilha, o voluntarismo entre outros são abraçados pela esquerda de uma maneira mais aberta e desinteressada. Resumindo, penso que a capacidade para o altruísmo é superior na esquerda do que na direita não implicando que a primeira tenha o monopólio dele.

É por isso que durante anos, nos meios de esquerda (familiares) por onde me movimentei, a caridade era apresentada como imoral e destinando-se a satisfazer o amor próprio de quem praticava o acto caridoso. O argumento era sempre o de que devia ser a acção social do estado a resolver o problema, acção social essa que, se não funcionava bem, era por não termos ainda um estado verdadeiramente socialista. Pelos vistos este discurso absurdo e profundamente estúpido continua. Note-se bem: "não dos falsos moralismos, que se confundem com os bons costumes inscritos na bíblia do jet-set". Um acto altruista vindo da esquerda? É verdadeiro e desinteressado. Vindo da direita? É falso e interesseiro. Não é isto o maior dos preconceitos e a maior das arrogâncias?
Via o excelente e atento Valete Frates!, mais sobre as manipulações das afirmações de Wolfowitz:

NOVA MANIPULAÇÃO JORNALÍSTICA: O DISCURSO DE WOLFOWITZ NOTICIADO PELO GUARDIAN (e pelo Público)

Parece que um jornal Alemão noticiou uma entrevista de Paul Wolfowitz. A tradução dessa notícia em alemão foi manipulada e permitiu ao Guardian noticiar que Wolfowitz justificava a guerra no Iraque com o argumento do petróleo. O Público faz hoje eco desta notícia.

No entanto, desde ontem que se sabe que esta notícia é MENTIRA.

O Instapundit revela TODA A VERDADE (aqui). Daniel Drezner também blogou sobre o assunto.

Como se pode ler na transcrição da entrevista, o que Wolfowitz disse foi o seguinte:
Look, the primarily difference - to put it a little too simply - between North Korea and Iraq is that we had virtually no economic options with Iraq because the country floats on a sea of oil. In the case of North Korea, the country is teetering on the edge of economic collapse and that I believe is a major point of leverage whereas the military picture with North Korea is very different from that with Iraq. The problems in both cases have some similarities but the solutions have got to be tailored to the circumstances which are very different.


Portanto, o grande crime de Wolfowitz foi dizer que enquanto o petróleo iraquiano colocava o regime saddamita ao abrigo da pressão das sanções económicas, o mesmo não acontece com a Coreia do Norte. Sacanas dos neo-conservadores, cambada de imperialistas, cambada de colonialistas, cambada de...americanos.

É este o jornalismo a que temos direito? É isto jornalismo?

Esperemos pelo desmentido e pelo pedido de desculpas...(sentados).

P.S. Entretanto o Guardian já retirou a notícia do site (aqui)...e PUBLICOU O PEDIDO DE DESCULPAS (aqui). Agora só falta o Público...

P.S.2 Linhas de Esquerda sent the e-mail that motivated this post.

P.S.3 Pelos vistos, já outros blogs Intermitente, Jaquinzinhos, Abrupto, Liberdade de Expressão) tinham tratado esta questão. De qualquer forma, nestes casos nunca é demais denunciar estas manobras de desinformação.

P.S.4 A alegria com que a esquerda acolhe estas mentiras e a forma escarniçada como se agarra a elas (contra toda a evidência), ilustram bem o estado de alma em que se encontra.

(Entrada do blogue Valete Frates!, transcrita sem a devida autorização, mas por uma boa causa.)
Daniel Oliveira volta a atacar Diz ele no Blog de Esquerda:
O Pedro Lomba desafia a lógica e isso é divertido. O Pedro Lomba está contente, mesmo muito satisfeito, porque ao contrário do que dizia a extrema-esquerda histérica anti-americana primária, os americanos não plantaram armas de destruição massiva no Iraque. Não! Foram honestos. Atacaram e nem se preocupam em esconder que era tudo uma mentira. O senhor Wolfowitz contou tudo à comunicação social: foi ele que inventou a história porque achou que ela resultava. O homem é um génio. Um irresponsável, mas um génio. Um fanfarrão desbocado, mas um génio. Um dia, sentado à lareira, ainda há-de apontar para uma velha fotografia de Bagdad destruída e dizer ao seu neto, com um sorriso doce e orgulhoso, «fui eu, meu querido, isto fui eu que fiz». Assassinos sim. Mas honestos.

Pelos vistos Daniel Oliveira não tem lido jornais (nem blogues). Caso contrário teria evitado repetir a indignação sem fundamento que nos últimos dias invadiu editoriais e artigos de opinião: há já dias que se sabe que a citação das palavras de Wolfowitz feita pela Vanity Fair foi retirada do seu contexto, tendo-se com isso deturpado total e propositadamente o seu sentido.

Numa coisa, porém, Daniel Oliveira tem razão. É absurdo que Pedro Lomba, que apoiou a intervenção no Iraque, se regozije agora pelo facto de os EUA não terem "plantado as provas" no terreno, como a esquerda em peso desejou que acontecesse. Esse regozijo lança fundadas suspeitas de que no fundo Pedro Lomba receou que os EUA de facto falsificassem provas da existência de armas de destruição em massa no Iraque, pois de outra forma não teria esperado pelas declarações da administração americana de que ainda não há sinais delas. Além disso, coloca-o na posição desconfortável de, no caso de as armas serem mesmo encontradas, ter de ser coerente e admitir que afinal elas possam de facto lá ter sido "plantadas": como poderia ele provar o contrário?

Pedro Lomba nunca deveria ter invertido o ónus da prova. Quem disse que as provas seriam falsificadas que o demonstre, se puder. A verdade é simplesmente que essas afirmações revelam cinismo doentio e raiva cega. A mesma raiva que leva Daniel Oliveira a terminar a sua diatribe dizendo que os membros da administração de Bush, e Wolfowitz em particular, são "assassinos". Onde Daniel Oliveira foi encontrar os assassinos... Será que uma excursão às valas comuns no Iraque apuraria o seu faro político?

2003-06-05

As citações desonestas de Wolfowitz continuam. Vejam o Valete Frates! e o Intermitente.

2003-06-04

Aos habitantes da Biblioteca de Babel faltava o Google, o maravilhoso Google.
Ocorreu-me que o crescimento da Web a transformará numa Biblioteca de Babel:

Cuando se proclamó que la Biblioteca abarcaba todos los libros, la primera impresión fue de extravagante felicidad. Todos los hombres se sintieron señores de un tesoro intacto y secreto. No había problema personal o mundial cuya elocuente solución no existiera: en algún hexágono. El universo estaba justificado, el universo bruscamente usurpó las dimensiones ilimitadas de la esperanza. En aquel tiempo se habló mucho de las Vindicaciones: libros de apología y profecía, que para siempre vindicaban los actos de cada hombre del universo y guardaban arcanos prodigiosos para su porvenir. Miles de codiciosos abandonaron el dulce hexágono natal y se lanzaron escaleras arriba, urgidos por el vano propósito de encontrar su Vindicación. Esos peregrinos disputaban en los corredores estrechos, proferían oscuras maldiciones, se estrangulaban en las escaleras divinas, arrojaban los libros engañosos al fondo de los túneles, morían despeñados por los hombres de regiones remotas. Otros se enloquecieron ... Las Vindicaciones existen (yo he visto dos que se refieren a personas del porvenir, a personas acaso no imaginarias) pero los buscadores no recordaban que la posibilidad de que un hombre encuentre la suya, o alguna pérfida variación de la suya, es computable en cero.


La Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges

Alguém terá alguma vez analisado os escritos de Borges do ponto de vista matemático?

2003-06-03

Desprezo da direita Uma conversa:

Rui: É que não há mesmo melhoras:
Uma das diferenças principais entre a esquerda e a direita tem a ver com a capacidade de acreditar, ou não, no Homem, na Humanidade, na natureza humana (chamem-lhe o que quiserem). A direita não acredita e faz gala de exibir o seu desprezo pelas multidões, pela "maralha", enquanto defende que no fundo somos todos intrinsecamente maus como as cobras, com as devidas e beatíficas excepções. Nós, na esquerda, somos lúcidos e por isso também temos os nossos momentos de cepticismo (basta ir ao Centro Comercial Colombo nas vésperas de Natal). Mas depois temos essa arma extraordinária que é a esperança. Sabemos que o Homem não é intrinsecamente bom, mas esperamos que um dia venha a ser. Enquanto houver gestos como o da Cristina, vale a pena resistir ao desânimo e sobreviver às desilusões.

Manuel: De onde veio isso?
Rui: Adivinha, vá... ;-)
Manuel: EPC? Caramba! Como fui capaz? ;-)
Rui: Ná. Nem ele nos seus piores dias é capaz de uma coisa destas... Foi o nosso amigo "Zé Mario" do Blog de Esquerda.
Manuel: Oh... Falhei...
Rui: É curioso, depois de tanta ternurice "estala a bomba e o preconceito está no ar".
Manuel: Vale a pena responder-lhe.
Rui: É tao mau e tão preconceituoso que acho que não. Tudo o que nós lhe dissermos deve-se à nossa "maldade".
Manuel: Vale, vale. É bom que estas coisas fiquem esclarecidas.
Rui: É triste ver como esta gente é preguiçosa. Dão-lhe um qualquer catecismo e pronto... é evangelizar minha gente...
Manuel: É verdade que a direita é céptica em relação à natureza humana. Que não tem ilusões. Mas não despreza ninguém. Antes pelo contrário. Quanto à esperança, o Zé Mário não clarifica (convenientemente) se essa esperança é próxima ou longíqua. Se for próxima, abre-se de novo o caminho para o "homem novo" socialista. O tal que foi criado à força. Se não, não tem relevância política. O cepticismo em relação à natureza humana é que a leva a propor sistemas políticos com órgãos independentes, que se controlam mutuamente, e a deixar muito fora da alçada do estado.
Rui: Ora nem mais. O que torna totalmente falaciosa a crenca na bondade humana da esquerda. Nada mais do que o liberalismo faz fé na "não-maldade" do Homem. Isto é, por defeito, a "maralha" porta-se bem. Quando não, isto é quando cercia a liberdade dos outros, então os orgãos (surpresa, surpresa, do Estado) intervêm. That's it!
Manuel: É verdade. É uma posição de princípio de confiança, embora com mecanismos de coerção preparados para intervir em caso de abuso. Mas é também uma posição de realismo. O ser humano só pode ser feliz se for livre de fazer as suas asneiras, de se desenvolver autonomamente. Se puder chamar seu a alguma coisa.
Rui: Por oposição a isto, nos outros sistemas é que a desconfiança apriorística existe. Exemplo: se tu tens a inicativa de fazer alguma coisa, então és um porco capitalista que só queres é ganhar dinheiro à custa dos outros... é simplista mas é a realidade... vai daí o melhor é o Estado fazer tudo porque nos somos é todos uns grandes malandros...
Manuel: Lutar por um comunitarismo com o qual a natureza humana é incompatível é que é perverso.
Rui: Só faz sentido quando resulta de uma escolha também ela livre: e.g., as comunidades religiosas. Nada contra, podiam ter escolhido outra forma de vida totalmente diferente.
Manuel: Verdade. Totalmente verdade. A esquerda o que gosta, no fundo, é que haja um Lynce que, numa atitude totalmente centralista, e lembrando os planos quinquenais, decide omnisciente sobre o número de vagas a reduzir em todos os cursos de todas as universidades públicas. Irónico? Não... Se o ministro fosse de esquerda, i.e., verdadeiramente honesto e inteligente, tomaria as suas decisões de forma incontestável... Seria apenas necessário fazer-lhe uma vénia e esperar por outras decisões infalíveis.
Rui: "Brincando" com o Luís, chamei àquela coisa do reduzir as vagas nas grandes cidades "a Pol Potização" do ensino superior.
Manuel: Absolutamente! Os kibutz, por exemplo. Se querem, nada a objectar! É isso o liberalismo. Mas a intenção do socialismo era impor o comunitarismos aos outros. A ideia é bonita, em abstracto. Por isso deve ser aplicada. Os cidadãos não querem? Coitados, não sabem o suficiente. Imponha-se.
Manuel: Exactamente! Um total absurdo que arruína a imagem positiva que o ministro vinha criando com o aumento das propinas e as alterações na gestão das escolas.
Rui: Claro que concordo que os estabelecimentos de ensino superior representam uma coisa importante para as cidades do interior. Lancaster é um óptimo exemplo. No entanto... Lancaster tem os alunos que tem à custa da qualidade de ensino que tem, dos Professores que tem, e do facto destes terem aqui condições que são suficientemente interessantes para estar aqui e não em Londres ou qualquer outra cidade do Sul.
Manuel: Exacto. É muito soviético isto de levar as pessoas para o interior piorando as condições no litoral...
Rui: Por exemplo, o meu orientador não dá aulas porque a Universidade acha que é mais importante ele apenas orientar Ph.D. e ter projectos internacionais de onde sai o salário dele - o qual se não me engano é acordado individualmente - oooppppsss que lá toquei noutro dogma - o da contractação colectiva ... desculpem... é esta maldade que do meu lado direito me vem
Manuel: Nos EUA também é assim. O serviço docente depende da investigação feita. O salário é contratado individualmente. Pelos vistos dá resultado...
Rui: Que ideia absurda a tua. Entao essa gente dos EUA não são todos uns "grunhos" brutos, incultos e do culto da violencia????
Manuel: Uns cóbois ignorantes que não sabem onde fica Portugal no mapa. E que chamam grecians aos gregos!
Rui: Assim como qualquer português aponta no mapa - com venda e depois de 50 piruetas - o estado do Wisconsin, ou o Estado do Pará... somos assim poços sem fundo de cultura...
Manuel: Exacto. Sabes, no fundo liberalismo é uma posição de simples bom senso. Por isso é tão usual os jovens serem esquerdistas e, já adultos, irem crescendo para a direita... Só não acontece a quem é imune à experiência.
Rui: É o preconceito sabes. Nada mais do que o preconceito. O confortável e pouco exigente preconceito.
Rui: Era tão bom tudo ser assim....
Manuel: E uma cegueira que impede de ver a forma como realmente somos.
Rui: Norte americano -> cóboi ignorante
Rui: De direita -> gente intrinsecamente boa mas que se perdeu e perdeu a esperanca nos outros.
Rui: É como te ia dizendo no início. É por estas e por outras que me questiono se valerá a pena responder...
Manuel: Vale! Importas-te que coloque esta conversa no blogue?
Rui: Siga, siga, sempre serve de "resposta".

2003-06-01

Esther Mucznick tem razão quando diz que Arafat, "O Velho", é o maior obstáculo à paz no médio oriente. Não tem razão quando diz que a Europa, ao continuar a prestar vassalagem ao "Velho", continuará a ser irrelevante no processo de paz. Na realidade, a Europa arrisca-se a ter um relevantíssimo papel: fazer o processo descarrilar.
Helena Matos responde a Mahomed Yiossuf Mohamed Adgamy. Não resisto a colocar aqui os versos sobre a liberdade que cita no final da sua resposta:

Chorei quando vi passar
Livre sobre mim voando
O bando de cortiçóis
Nem grades nem grilhetas os detinham
Não foi por inveja que fiquei chorando...
Apenas nostalgia de ser livre.


Al-Mu'tamid (tradução de Adalberto Alves)
As Contas de Ralf Dahrendorf Como pode Ralf Dahrendorf repetir números que já ouvi citados por anti-americanos de um primarismo confrangedor? Onde encontrou Ralf Dahrendorf informação acerca dos resultados eleitorais nos EUA? Como concluiu ele que "poucos presidentes americanos têm sido apoiados por mais de dez por cento dos eleitores"? Alguns números obtidos na Federal Election Comission:

  • População total nos EUA: 280 562 489 (estimada em Julho de 2002, segundo o CIA Fact Book)
  • Eleições presidenciais de 2000:

    • População em idade de votar: 205 815 000 (aproximadamente 73% da população)
    • População registada para votar: 156 421 311 (76% da população em idade de votar)
    • Total de votos expressos: 105 405 100 (67,5% da população registada e 51,3% da população em idade de votar)
    • Votos expressos em George W. Bush: 50 456 002 (47,87% dos votantes, 24,5% da população em idade de votar)
    • Votos expressos em Al Gore: 50 999 897 (48,38% dos votantes)

  • Eleições presidenciais de 1996:

    • População em idade de votar: 196 498 000 (aproximadamente 70% da população)
    • População registada para votar: 146 211 960 (74,4% da população em idade de votar)
    • Total de votos expressos: 96 277 634 (65,8% da população registada e 49,0% da população em idade de votar)
    • Votos expressos em Bill Clinton: 47 402 357 (49,24% dos votantes, 24,1% da população em idade de votar)
    • Votos expressos em Bob Dole: 39 198 755 (40,71% dos votantes)


10% de apoio ao presidente eleito? Afinal, Clinton e Bush foram eleitos por 24,1% e 24,5% da população em idade de votar, respectivamente... Nem metade dos possíveis votantes estão registados? Afinal, são cerca de 75%! Nem metade dos registados vota? Afinal são cerca de 66%! Dos que votam, menos de metade votam no candidato vencedor? Sim, desta vez é verdade. Mas convenhamos que 47,87% e 49,24% são pouco menos de metade...

Nada pior do que a desinformação.