Recordo um exemplo da minha experiência pessoal. Quando fui conselheiro cultural em Paris, dei uma entrevista a um correspondente do "Expresso" sobre questões de língua e cultura portuguesas em França. Nela dizia o que ainda hoje penso: que era irrealista pedir aos luso-descendentes que levassem os seus filhos a escolher o português como primeira língua estrangeira; que era legítimo que, por motivos de formação profissional e mercado de trabalho, eles escolhessem o inglês como primeira língua estrangeira desde que escolhessem o português como segunda língua estrangeira.
O texto da entrevista dizia isto mesmo. Mas havia uma caixa que afirmava apenas o seguinte: "É perfeitamente compreensível que os portugueses em França escolham o inglês como língua estrangeira." Nada nesta frase corresponde a coisas que eu não tenha dito, desde que se tenha em conta que eu disse mais coisas que vieram alterar o sentido final desta mesma frase. O modo como as coisas eram apresentadas suscitou uma montanha de telefonemas indignados.
Ironias do destino. Eduardo Prado Coelho deveria ter aprendido a lição. Citar fora do contexto é muitas vezes um acto deliberado de desinformação. Que dizer então da sua crónica no Público de quarta-feira?
Não foi sem espanto nem perplexidade que o mundo tomou conhecimento das declarações de Paul Wolfowitz à revista "Vanity Fair". Não pelo facto do que ele disse, que apenas confirma suspeitas que o cidadão comum já tinha, mas por ter tido o desplante de o dizer. Que afirmou Wolfowitz, número dois da hierquia da Defesa americana?
Que o famoso argumento de que o Iraque possuía armas de destruição maciça tinha sido avançado apenas por "razões burocráticas" - certamente as mesmas razões burocráticas que levam os responsáveis americanos a considerar que a contagem das vítimas civis na invasão do Iraque pelos EUA "não é uma prioridade". Por outras palavras, foi o que a administração americana arranjou de melhor para justificar a sua acção. E Wolfowitz acrescenta que, no seio da administração americana, "chegámos à conclusão que o tema das armas de destruição maciça era a única razão que permitia pôr toda a gente de acordo", embora a verdadeira razão, para este estratega, tenha sido o facto quase despercebido de permitir aos EUA retirar as suas tropas da Arábia Saudita, que eram um pretexto permanente para a rede Al-Qaeda, "permitindo assim abrir a porta a um Próximo Oriente mais pacífico".
Pois é, caro EPC, convém ter um pouco mais cuidado. Que tal ler to texto integral da entrevista?
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