Rui: É que não há mesmo melhoras:
Uma das diferenças principais entre a esquerda e a direita tem a ver com a capacidade de acreditar, ou não, no Homem, na Humanidade, na natureza humana (chamem-lhe o que quiserem). A direita não acredita e faz gala de exibir o seu desprezo pelas multidões, pela "maralha", enquanto defende que no fundo somos todos intrinsecamente maus como as cobras, com as devidas e beatíficas excepções. Nós, na esquerda, somos lúcidos e por isso também temos os nossos momentos de cepticismo (basta ir ao Centro Comercial Colombo nas vésperas de Natal). Mas depois temos essa arma extraordinária que é a esperança. Sabemos que o Homem não é intrinsecamente bom, mas esperamos que um dia venha a ser. Enquanto houver gestos como o da Cristina, vale a pena resistir ao desânimo e sobreviver às desilusões.
Manuel: De onde veio isso?
Rui: Adivinha, vá... ;-)
Manuel: EPC? Caramba! Como fui capaz? ;-)
Rui: Ná. Nem ele nos seus piores dias é capaz de uma coisa destas... Foi o nosso amigo "Zé Mario" do Blog de Esquerda.
Manuel: Oh... Falhei...
Rui: É curioso, depois de tanta ternurice "estala a bomba e o preconceito está no ar".
Manuel: Vale a pena responder-lhe.
Rui: É tao mau e tão preconceituoso que acho que não. Tudo o que nós lhe dissermos deve-se à nossa "maldade".
Manuel: Vale, vale. É bom que estas coisas fiquem esclarecidas.
Rui: É triste ver como esta gente é preguiçosa. Dão-lhe um qualquer catecismo e pronto... é evangelizar minha gente...
Manuel: É verdade que a direita é céptica em relação à natureza humana. Que não tem ilusões. Mas não despreza ninguém. Antes pelo contrário. Quanto à esperança, o Zé Mário não clarifica (convenientemente) se essa esperança é próxima ou longíqua. Se for próxima, abre-se de novo o caminho para o "homem novo" socialista. O tal que foi criado à força. Se não, não tem relevância política. O cepticismo em relação à natureza humana é que a leva a propor sistemas políticos com órgãos independentes, que se controlam mutuamente, e a deixar muito fora da alçada do estado.
Rui: Ora nem mais. O que torna totalmente falaciosa a crenca na bondade humana da esquerda. Nada mais do que o liberalismo faz fé na "não-maldade" do Homem. Isto é, por defeito, a "maralha" porta-se bem. Quando não, isto é quando cercia a liberdade dos outros, então os orgãos (surpresa, surpresa, do Estado) intervêm. That's it!
Manuel: É verdade. É uma posição de princípio de confiança, embora com mecanismos de coerção preparados para intervir em caso de abuso. Mas é também uma posição de realismo. O ser humano só pode ser feliz se for livre de fazer as suas asneiras, de se desenvolver autonomamente. Se puder chamar seu a alguma coisa.
Rui: Por oposição a isto, nos outros sistemas é que a desconfiança apriorística existe. Exemplo: se tu tens a inicativa de fazer alguma coisa, então és um porco capitalista que só queres é ganhar dinheiro à custa dos outros... é simplista mas é a realidade... vai daí o melhor é o Estado fazer tudo porque nos somos é todos uns grandes malandros...
Manuel: Lutar por um comunitarismo com o qual a natureza humana é incompatível é que é perverso.
Rui: Só faz sentido quando resulta de uma escolha também ela livre: e.g., as comunidades religiosas. Nada contra, podiam ter escolhido outra forma de vida totalmente diferente.
Manuel: Verdade. Totalmente verdade. A esquerda o que gosta, no fundo, é que haja um Lynce que, numa atitude totalmente centralista, e lembrando os planos quinquenais, decide omnisciente sobre o número de vagas a reduzir em todos os cursos de todas as universidades públicas. Irónico? Não... Se o ministro fosse de esquerda, i.e., verdadeiramente honesto e inteligente, tomaria as suas decisões de forma incontestável... Seria apenas necessário fazer-lhe uma vénia e esperar por outras decisões infalíveis.
Rui: "Brincando" com o Luís, chamei àquela coisa do reduzir as vagas nas grandes cidades "a Pol Potização" do ensino superior.
Manuel: Absolutamente! Os kibutz, por exemplo. Se querem, nada a objectar! É isso o liberalismo. Mas a intenção do socialismo era impor o comunitarismos aos outros. A ideia é bonita, em abstracto. Por isso deve ser aplicada. Os cidadãos não querem? Coitados, não sabem o suficiente. Imponha-se.
Manuel: Exactamente! Um total absurdo que arruína a imagem positiva que o ministro vinha criando com o aumento das propinas e as alterações na gestão das escolas.
Rui: Claro que concordo que os estabelecimentos de ensino superior representam uma coisa importante para as cidades do interior. Lancaster é um óptimo exemplo. No entanto... Lancaster tem os alunos que tem à custa da qualidade de ensino que tem, dos Professores que tem, e do facto destes terem aqui condições que são suficientemente interessantes para estar aqui e não em Londres ou qualquer outra cidade do Sul.
Manuel: Exacto. É muito soviético isto de levar as pessoas para o interior piorando as condições no litoral...
Rui: Por exemplo, o meu orientador não dá aulas porque a Universidade acha que é mais importante ele apenas orientar Ph.D. e ter projectos internacionais de onde sai o salário dele - o qual se não me engano é acordado individualmente - oooppppsss que lá toquei noutro dogma - o da contractação colectiva ... desculpem... é esta maldade que do meu lado direito me vem
Manuel: Nos EUA também é assim. O serviço docente depende da investigação feita. O salário é contratado individualmente. Pelos vistos dá resultado...
Rui: Que ideia absurda a tua. Entao essa gente dos EUA não são todos uns "grunhos" brutos, incultos e do culto da violencia????
Manuel: Uns cóbois ignorantes que não sabem onde fica Portugal no mapa. E que chamam grecians aos gregos!
Rui: Assim como qualquer português aponta no mapa - com venda e depois de 50 piruetas - o estado do Wisconsin, ou o Estado do Pará... somos assim poços sem fundo de cultura...
Manuel: Exacto. Sabes, no fundo liberalismo é uma posição de simples bom senso. Por isso é tão usual os jovens serem esquerdistas e, já adultos, irem crescendo para a direita... Só não acontece a quem é imune à experiência.
Rui: É o preconceito sabes. Nada mais do que o preconceito. O confortável e pouco exigente preconceito.
Rui: Era tão bom tudo ser assim....
Manuel: E uma cegueira que impede de ver a forma como realmente somos.
Rui: Norte americano -> cóboi ignorante
Rui: De direita -> gente intrinsecamente boa mas que se perdeu e perdeu a esperanca nos outros.
Rui: É como te ia dizendo no início. É por estas e por outras que me questiono se valerá a pena responder...
Manuel: Vale! Importas-te que coloque esta conversa no blogue?
Rui: Siga, siga, sempre serve de "resposta".
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