2003-06-16

Uma desgraça nunca vem só José Neves assina um artigo no Público que é verdadeiramente de ir às lágrimas:
Imagine, imagine uma pessoa que vive num subúrbio de Lisboa. Imagine que essa pessoa tem um trabalho hoje, não teve um trabalho ontem e o amanhã ainda não cantou. Imagine, já agora, que essa pessoa é mulher. Imagine-a sem marido e com filhos. Peço-lhe mais um esforço. Imagine ainda que essa pessoa nasceu em África. E imagine a viagem que da sede de êxodo a trouxe até aqui. Peço-lhe mais um esforço - peço-lhe no fundo que a sua sede de êxodo acompanhe a da pessoa imaginada. Assim, imagine ainda que essa mulher é lésbica.

[Texto omitido. Pode-se gerar texto em tudo equivalente recorrendo ao Postmodern Generator e traduzindo o resultado no Systran.]

A caminho do Fórum Social Europeu de Novembro, viveremos os próximos episódios de uma história que escreveremos na nossa diversidade múltipla. Trata-se do movimento da imaginação com que este texto começou. Trata-se do seu encontro com a vida daquela mulher-negra-lésbica-imigrante que o pragmatismo da velha vanguarda das tácticas e das estratégias não soube encontrar. Só esse encontro nos poderá fazer voltar a citar sem tontismo algum a frase de Marx - paira um espectro na Europa.

Pois paira. Mas é o espectro do próprio Marx, que nos continua a atormentar através de organizações como a ATTAC, de que José Neves é membro.

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