2003-06-08

Cinismo parcial O cepticismo é uma arma importante, mas em excesso conduz ao mais simples e mesquinho cinismo. Se o cinismo é mau, ainda é pior quando é parcial, aplicando-se apenas aos adversários políticos, e quando é cego ao ponto de não vislumbrar em nenhuma possível acção do adversário senão o interesse, recusando-se a ver nos actos simples convicção e boa-vontade. É isto que faz Mário Soares, que transformou o cinismo numa profissão.

É fácil ser cínico. Como poderemos nós negar que os esforços de Bush para fazer avançar o processo de paz no médio oriente se devem à má situação da economia americana e ao aproximar das eleições presidenciais? Se Bush tivesse abandonado o médio oriente à sua sorte, cá estaria Mário Soares a explicar-nos porque isso se devia obviamente aos interesses mais mesquinhos do presidente dos EUA, provavelmente o interesse de apaziguar o "lobi judaico em Washington"...

Para que a minha crítica fique melhor documentada, segue pequeno extracto da coluna de Mário Soares no Expresso:
Voltemos, provisoriamente, a página. Trata-se agora de de genhar a paz. É a fase em que nos encontramos. E, na passada, se possível, para o Presidente Bush, ganhar as próximas eleições presidenciais em Novembro de 2004. É agora a sua preocupação dominante. Ora a situação económico-financeira da América – e, portanto, do mundo – não ajudam nada: há que as inverter.

Para tanto, importa fazer parar a guerra latente entre Israel e a Palestina, uma questão chave para todo o Médio-Oriente. [...}

Numa palavra, começaram as grandes movimentações político-diplomáticas. «Le calendrier oblige»!

Tirando o óbvio problema de Soares com as vírgulas, percebe-se perfeitamente que Mário Soares não poderia evitar elogiar os recentes esforços de paz de Bush e as posições felizes de Sharon, mas tinha de começar por lhes dar uma justificação interesseira. Tinha de ser. Há que ser cinicamente coerente, não é?

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