2005-02-27

Epílogo

Termina aqui a minha colaboração no Picuinhices. No momento da despedida quero sublinhar a minha gratidão ao Manuel Sequeira, pelo convite que me fez e a todos os leitores que distinguiram este blogue com a sua visita e comentários. O Picuinhices continuará, com a marca pessoal do Manuel. Para mim é tempo de novidades: A Mão Invisível, com o qual já colaboro há alguns dias e O Insurgente, que a partir de hoje se dá a conhecer.

2005-02-21

Desejos

Que o PS consiga um bom governo, que dure quatro anos. Mesmo com políticas com as quais não concordo.

Que o PSD consiga ver-se livre rapidamente do "Guerreiro Menino".

O epitáfio do hipocondríaco

Não são precisos "rescaldos": há muito que o "caldo" estava frio e entornado.

Não tenho tempo para pasmos nem para asnos. Pasmos com a tradução eleitoral de elementos de caracterização sociológica do país que são razoavelmente evidentes. Asnos, que por mais bordoada eleitoral que levem naquelas cabeças ocas persistem em não se afundarem sozinhos e, sem sombra de vergonha ou dignidade, dão ao partido o "abraço da morte", tentando rasteiramente inviabilizar a única candidatura presidencial fora do espaço socialista que pode ser ganhadora.

A coisa resume-se no conhecido epitáfio do hipocondríaco: "eu não vos dizia?"...

2005-02-20

Nem uma alegria

O "Guerreiro Menino" não me deu a única alegria que esperava esta noite: a sua demissão de Presidente do PSD.

2005-02-19

The Lake Isle of Innisfree

de W. B. Yeats:

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made:
Nine bean-rows will I have there, a hive for the honey-bee;
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to where the cricket sings;
There midnight's all a glimmer, and noon a purple glow,
And evening full of the linnet's wings.

I will arise and go now, for always night and day
I hear lake water lapping with low sounds by the shore;
While I stand on the roadway, or on the pavements grey,
I hear it in the deep heart's core.

Quem já viu sabe porquê.

Teodoros, para sempre

Ludgero Marques, da AEP, está preocupado com os chineses. Os empresários chineses "desrespeitam os direitos sociais e de protecção do ambiente". Os empresários chineses, esses ogres. Essa gente exploradora. Pobres trabalhadores chineses, explorados! Pobres cidadãos chineses, expostos à poluição! Honra seja feita a Ludgero Marques, paladino dos oprimidos, dos explorados, dos que são expostos à poluição!

Claro, a solução para este problema, segundo Ludgero Marques, "é que sejam accionados os mecanismos de defesa das indústrias tradicionais, como a portuguesa, que estão a sofrer com esta 'agressão chinesa', sustentada 'práticas desleais'" (do Público).

Como é evidente, não há sombra de preocupação com os trabalhadores chineses. É irrelevante, para Ludgero Marques, se estas medidas levam ou não trabalhadores chineses ao desemprego, empresários chineses à falência, e consumidores europeus a preços dos texteis artificialmente altos. Mais perverso que Teodoro, Ludgero consegue argumentar, como tantos outros, que o proteccionismo na realidade é para o próprio bem dos chineses, novos velhos mandarins, donos de "cabedais infindáveis". É só tocar à campainha e esperar que Bruxelas ouça.

Boa viagem, Mr. Chance! Bem-vindo, Mr. Chance!

O engano acabará amanhã, pelo menos para alguns. O nosso Mr. Chance, que ao contrário do verdadeiro está convicto do seu papel, embora não tenha a mais pequena noção das suas limitações, da sua pequenez e do seu ridículo, partirá. Terminará talvez a sua actuação no palco mais apertado da Câmara de Lisboa, mas partirá. Será então a vez de um novo Mr. Chance, mais um numa sequência de actuações sempre equivalentes, sempre com o mesmo personagem, embora com diferentes actores. Boa viagem, Guerreiro Menino! Bem-vindo, caro Engenheiro!

2005-02-18

O caminho para a liberdade

Num país varrido por rajadas de mediocridade e colectivismo, não há grandes recompensas para quem se atreve a virar costas ao redil do socialismo e fazer o caminho para a liberdade. Razão mais do que suficiente para comemorar os dois anos d'O Intermitente. Um exemplo raro de defesa da liberdade individual na blogosfera nacional.

2005-02-16

"Não pare de ler esta carta"

Assim começa uma sequência de frases desconexas, com fraca sintaxe, pejada de ilogismos e reveladora de uma verdadeira paranóia. A coisa é assinada por Pedro Santana Lopes. Deixaram-ma dentro de um envelope, na caixa do correio. Em circunstâncias normais concluiria tratar-se de uma brincadeira ou de uma manobra para desacreditar o suposto signatário. Mas, sendo o nosso primeiro ministro quem é, tenho de concluir que é autêntica. Enfim, talvez a coisa tenha tido pelo menos um dos efeitos pretendidos: estou quase convencido a votar. Outro efeito talvez não tenha sido o desejado: é que não tenho já sombra de dúvida contra quem o farei.

Transcrevo para a posteridade (leia-se ao mesmo tempo que se ouve o "Guerreiro Menino"; a experiência é inesquecível):

2005-02-12

Propriedade pouco privada

António Champalimaud, segundo o Público, fez uma colecção de arte que os herdeiros pretendem leiloar em Londres. Para o fazerem, no entanto, precisam de autorização do Ministério da Cultura:
O parecer técnico positivo já foi dado pelo Instituto Português de Museus (IPM). "Foi pedida a exportação de 194 peças. O parecer é favorável. Não está em causa a importância das peças, mas não eram indispensáveis às colecções públicas", diz o director do IPM, Manuel Bairrão Oleiro. De qualquer forma, acrescenta, as peças não poderiam ser classificadas, porque entraram no país há menos de 50 anos. A sua saída só podia ser impedida de forma "transitória", uma medida que não foi equacionada.
Note-se bem que "as peças não eram indispensáveis às colecções públicas"... Se algum burocrata da cultura, ou do "património cultural" (a palavra "património" neste contexto tem uma conotação particularmente perversa), tivesse achado o contrário, nada feito. Conclui-se que Champalimaud não era tão rico como se diz. Pelo contrário, a parte da sua riqueza representada pela sua colecção afinal estava-lhe simplesmente confiada pelo nosso magnânime estado, que, talvez influenciado pelo facto de 25% das receitas irem reverter para fundação presidida por Leonor Beleza - coisa que deveria ter relevância nula para o caso -, a decidiu agora ceder aos herdeiros. Sortudos.

2005-02-11

Interfada

A ciberguerra volta recorrentemente aos meios de comunicação social. É uma guerra sem exércitos, mas com agências secretas e com cidadãos aparentemente comuns. Ainda não teve consequências verdadeiramente dramáticas, mas lá chegaremos. Desta vez a ciberguerra é uma "interfada". O alvo são os "sionistas", para variar.

2005-02-08

Arabs Against Discrimination

Foi criada a AAD (Arabs Against Discrimination), uma associação árabe cujo objectivo é dar a ler ao mundo o que se vai escrevendo em hebraico, respondendo assim ao MEMRI (Middle East Media Research Institute), organização congénere que vem traduzindo (selectiva e não inocentemente) o que se escreve no mundo árabe. Esperemos que a soma destas duas visões (muito) parciais nos permita ter uma perspectiva mais completa sobre o médio oriente. E que os todos os conflitos no médio oriente em breve sejam como este: só de palavras.

2005-02-07

Navegou e venceu

Ellen MacArthur acabou de bater o recorde do mundo de circum-navegação solitária, sem escalas, num magnífico trimarã de 23 metros. Um feito.

2005-02-05

Agradecimentos

Os nossos agradecimentos sentidos a todos os que nos felicitaram por dois anos na blogosfera. Ao Xanelcinco, que não é por acaso que fica em primeiro lugar na lista, ao Office Lounging, a'O Observador, ao Jaquinzinhos , a'O Intermitente e ao por tu graal, estes sim por ordem arbitrária, muito obrigado.

Agradecimentos também ao MacGuffin, que se prepara também para fazer dois anos.

(É possível que faltem alguns agradecimentos nesta lista, pois o Technorati não tem ajudado nada...)

2005-02-04

Umbiguismo

O número de Dezembro da Communications of the ACM* é dedicado à blogosfera. Material interessante, embora de acesso restrito (possível através do b-on, para as instituições aderentes).

* ACM é a Association for Computing Machinery, uma das duas melhores organizações profissionais e científicas na área da informática, em conjunto com a IEEE Computer Society.

Ainda à espera

A Comissão Independente de Inquérito ao programa Oil for Food, presidida pelo ex-chairman do Federal Reserve Paul Volcker, divulgou ontem mais um relatório intermédio, contendo novas conclusões sobre os indícios de corrupção de altos funcionários da ONU (cf. “À espera de Volcker”, publicado aqui em 22-11-2004). Este relatório surpreende pela linguagem e pelo conteúdo.

Benon Sevan, o responsável directo pelo programa, é acusado de "conduta não ética" mas não de corrupção; não se encontra qualquer referência explícita a subornos recebidos por Sevan ou por outros responsáveis do programa, ou a actos que possam constituir crime (a palavra "criminal" é mencionada apenas uma vez nas 246 páginas do relatório). Em declarações à imprensa, Paul Volcker disse:
"I think it is a fact that Mr. Sevan placed himself in a grave and continuing conflict of interest situation that violated explicit U.N. rules and violated the standards of integrity essential to a high-level international civil servant."
Até os 160 000 dólares que Sevan alega terem-lhe sido “dados” por uma tia, ficam sem explicação alternativa, embora o relatório sugira que a “modesta pensão de reforma” da generosa tia, uma senhora de idade residente no Chipre, não daria para tanto. Infelizmente parece que a senhora sofreu um acidente fatal num elevador antes de ser interrogada...

Kofi Annan já se comprometeu a retirar a imunidade diplomática a qualquer funcionário da ONU que venha a ser acusado de crimes relacionados com este escândalo. O relatório final da comissão Volcker está previsto para Junho, mas a avaliar pelo teor dos relatórios intermédios, é mais provável que essas acusações resultem das investigações conduzidas pelos EUA. No momento em que forem formalizadas acusações criminais contra responsáveis do programa, não basta ao Secretário-geral da ONU cumprir a promessa que fez. A responsabilidade pelas eventuais fraudes e corrupção é decidida pelos tribunais competentes, mas a responsabilidade de Kofi Annan é de ordem diferente: é política e deve levar à sua demissão.

2005-02-03

Parabéns a nós

Fazemos dois anos.

Profetas a seco

Golda Meir é (também) recordada por frases memoráveis, como esta: “Moses dragged us for 40 years through the desert to bring us to the one place in the Middle East where there was no oil”. O pior é que também não tem lá muita água. A motivação dos principais conflitos político-militares é velha como o mundo: a disputa violenta pelos direitos de propriedade sobre recursos económicos. Com o tempo os recursos variam (no Médio Oriente tendem a ser líquidos); o discurso político propõe novas formas de legitimação, mas a lógica permanece a mesma de sempre. Para se encontrar “a solução” para uma paz duradoura no Médio Oriente não bastam promessas de “cimeiras”, ou de auxílio financeiro: é preciso encontrar água. E que chegue para todos; descendentes ou não do “povo de Moisés ”.

2005-02-02

Charlie's gone, Teddy, it's all over now

Pouco tempo antes das presidenciais 2004 nos EUA, Jon Stewart, o "frontman" do Daily Show, insuspeito de qualquer simpatia pelo GOP, disse que achava John Kerry "o homem certo para nos tirar do Vietname". Alguém se esqueceu de explicar ao Senador Edward Kennedy que era uma (excelente) piada, que a Guerra do Vietname já acabou e que o Iraque é uma história muito diferente. Ninguém lhe explicou e ele, coitado, parece que não chega lá sozinho.

Terrorismo e indulgência

Se deitarem a mão a uma cadeira atirá-la-ão contra a montra da loja mais próxima; se deitarem a mão a um avião atestado de combustível, projectam-no contra edifícios em Nova Iorque. O ódio político à “globalização” é o mesmo; a disposição para recorrer à violência contra inocentes é a mesma; a loja do lado e o World Trade Center têm para o terrorista o mesmo “valor simbólico”. Só os meios e a disposição pessoal é que os distinguem: o jihadista da Al Qaeda vive como um selvagem, escondido no meio das montanhas inóspitas da Ásia Central e não se importa de morrer (ou mandar morrer) em nome da "causa"; o “alter globalista”, depois da sua rebeldiazinha diária, quer voltar para casa (dos papás?) e continuar a usufruir do bem estar que a sociedade “globalizada” e orientada pela motivação económica lhe proporciona. O jihadista é menos hipócrita.