Uma das questões mais sensíveis na academia é a elaboração de “rankings” de instituições e de investigadores. De entre os estudos disponíveis, um dos mais interessantes é o realizado pelo economista Tom Coupé, cujos resultados surgem no artigo “Revealed Performances 1990-2000”, a publicar no Journal of European Economic Association. No estudo, que se refere apenas a departamentos de Economia, são utilizadas duas amostras de dados. A primeira, contém observações para o período 1990-2000 e respeita às instituições académicas. A segunda, mais alargada, inclui dados relativos a publicações dos investigadores para o período de 1969 a 2000. Este estudo tem algumas vantagens sobre outros semelhantes.
Em primeiro lugar, são considerados diversos problemas de “medida”: a contagem de artigos no caso de co-autorias, o tratamento de filiações académicas múltiplas, a calibragem das diferenças de qualidade nos jornais científicos considerados, as contagens de citações de um determinado artigo científico e do(s) respectivo(s) autores, etc..
Em segundo lugar, a classificação das instituições académicas feita para o período de 1990-2000 é reproduzida para o período de 1978-1982, o que permite, por comparação, ter uma ideia aproximada da evolução das universidades europeias e americanas ao longo de um período de tempo razoavelmente longo. Eis os principais resultados:
Com base no número de artigos publicados, a Universidade de Harvard lidera o ranking em todos os onze critérios considerados, pelo que pode ser considerada a melhor universidade do mundo, no que respeita à Economia (mas veja-se o que se diz a seguir, sobre os efeitos da dimensão das instituições). A seguir surgem Chicago, Pennsylvania, Stanford e o MIT. A primeira universidade europeia é a LSE (London School of Economics and Political Science), no 15º lugar. Daí em diante só reaparece uma universidade europeia no 33º lugar (Cambridge). Se em vez do número de artigos for utilizado o número de citações, Harvard permanece imbatível e Chicago volta a ser segunda. A LSE desce um lugar mas a apreciação geral em termos de comparação transatlântica é a mesma.
As melhores notícias para a Europa não estão no ranking, mas sim nas alterações observadas entre o sub-período de 1990-1994 e o período subsequente. Entre as universidades a registarem maiores subidas na segunda metade da década de 90 estão algumas europeias: o University College of London, a Erasmus University (Roterdão) e a Universidade de Toulouse, por exemplo. Uma comparação “alargada” produz resultados semelhantes: no “top 100”, as universidades americanas dominam, superando por um factor entre 2 e 3 o número de instituições europeias, mas estas parecem estar a recuperar, tendo conseguido duplicar o número de universidades presentes no “top 100”, que passou de 15 para 30 instituições. No entanto o domínio americano continua a ser enorme, com mais de metade das 100 melhores universidades em Economia sediadas nos EUA.
A dimensão das instituições académicas é relevante. Uma das formas de controlar o efeito da dimensão consiste em restringir o número de académicos considerados por cada instituição, por exemplo aos cinco, dez ou cinquenta mais “produtivos”. A ordenação das instituições altera-se, mas o “top 10” continua a ser exclusivamente americano. No topo regista-se a descida de Harvard para o terceiro lugar, por troca com o MIT (1º) e Yale (2º). De entre as europeias, o comportamento da (já mencionada) Universidade de Toulouse é interessante: quando a classificação é feita apenas com base nos cinco mais produtivos, esta universidade regista uma enorme subida, passando de 73º para 11º lugar. Mas à medida que se alarga o número de académicos considerados, para 10 e depois para os cinquenta mais produtivos, Toulouse cai consideravelmente na classificação, o que sugere que mais do que um bom departamento de Economia terá um “núcleo duro” de investigadores, reduzido e de elevada qualidade. A melhor universidade europeia continua a ser a LSE, que tem menos oscilações no ranking em função da calibragens destinadas a controlar os efeitos da dimensão.
O estudo conclui-se com um exercício semelhante para os economistas. Os detalhes e variações estão disponíveis no artigo. Para os "curiosos" aqui fica o top 10 dos economistas que mais publicaram na década de 90:
1º) Peter Phillips (Yale)
2º) Jean Tirole (Toulouse)
3º) James Heckman (Chicago)
4º) Alan Krueger (Princeton)
5º) Joseph Stiglitz (Banco Mundial)
6º) Donald Andrews (Yale)
7º) W-Kip Viscusi (Harvard)
8º) Jean-Jacques Laffont (Toulouse)
9º) Amartya Sen (Cambridge)
10º) Bruce-D. Smith (Austin)
Entre eles há apenas três prémios Nobel (Heckman em 2000, Stiglitz em 2001 e Sen em 1998), o que é consistente com a ideia geral segundo a qual o Nobel da Economia é um “prémio de carreira” e não um indicador de inovação recente (muito menos futura). A Universidade de Toulouse volta a destacar-se, graças ao IDEI (Institut d’Économie Industrielle), fundado pelo (falecido) Jean-Jacques Laffont.
A classificação em função do número de citações é substancialmente diferente, o que sugere que a quantidade e a qualidade não terão uma correlação especialmente elevada no caso da investigação económica. Para os portugueses, a classificação em termos de citações traz a única boa notícia: Sérgio Rebelo, da Northwestern University, surge num excelente 14º lugar. Seria interessante comparar o número de citações académicas de Sérgio Rebelo com o número de vezes que, durante o mesmo período de tempo foi mencionado nos jornais portugueses...
2004-12-09
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário