A substituição pacífica e por mecanismos institucionais de governos é normal nas democracias liberais.
O governo ainda em funções testava até ao limite a "educação política" de qualquer um.
A dissolução da Assembleia da República, por entre DVD's lançados pela janela, cartas sentimentais de demissão, metáforas de "terríveis incubadoras" e apelos messiânicos à nação não é normal: é o último acto de um espectáculo medíocre.
A dissolução da Assembleia da República imediatamente após a votação do Orçamento de Estado é pura irresponsabilidade política e revela uma de duas coisas: ou uma extraordinária ausência de sentido de Estado, ou um calculismo político-partidário que não olha a meios para atingir os fins.
A chegada ao poder executivo de um governo formado com elementos da oposição ao anterior governo é uma trivialidade, ainda que seja o regresso ao poder de um partido onde não ocorreu qualquer renovação notória (veja-se a bancada parlamentar do PS).
Com a marcação das eleições legislativas para Fevereiro, a ausência de quadros políticos de qualidade poderá ser suprida pelo PS, em Janeiro. Estou certo que determinados elementos da "sociedade civil" descobrirão súbitas virtudes no Fórum "Novas Fronteiras" afortunadamente a realizar pouco antes das eleições.
O enfraquecimento da "voz política" do principal partido da oposição, que transformou o seu grupo parlamentar numa espécie de advogados de defesa da calamidade guterrista, permitiu a ascensão política (e jornalística) de um novo radicalismo de esquerda, marginal, pululante e desagregador.
Esse radicalismo de esquerda não tem expressão política nacional, constitui um fenómeno (sub)urbano, visível nas áreas cosmopolitas de Lisboa e do Porto e elege deputados graças a um sistema eleitoral proporcional, desenhado com o propósito exclusivo de conferir representação política alargada.
A maximização da representação política não é o único (se calhar nem sequer o principal) critério normativo de um bom sistema eleitoral.
Se o novo radicalismo de esquerda chegar ao poder executivo, na ausência de uma maioria absoluta de um só partido, Portugal não viverá "apenas" um período difícil: será fatal para qualquer esperança de reforma liberalizante da sociedade.
Resta esperar que os eleitores compreendam que nas actuais circunstâncias, o "voto útil" é uma manifestação de bom senso e de sentido da responsabilidade cívica.
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