2003-05-07

Filipe Gonzalez Talvez tenha exagerado, e não haja perigo nenhum. Talvez os disparates se devam às liberdades que o distanciamento ao poder permite. Liberdades essas de que usufruem todos os blogues, inclusivamente este, que não estará talvez isento do seu disparate ocasional. Ainda assim, não posso deixar passar estas afirmações de Felipe Gonzalez:
Caiu a capital, quase sem resistência, como o resto do país – felizmente! –, vão caindo as cartas do obsceno baralho, apesar de Saddam não aparecer, e começaram também a cair as mentiras desta guerra. Onde e quando serão encontradas as ameaças para a paz mundial? Dizem-nos, apontando para outros objectivos, que devem ter transferido as armas e as cartas altas para a Síria, ou ameaçam os iranianos para que não interfiram na comunidade xiita iraquiana, pois consideram esse um assunto interno do Iraque, ou seja, da competência dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

Contudo, podem-se, hoje, colocar dúvidas sobre a existência de algum arsenal de armas de destruição em massa. Não deve excluir-se, inclusive, que apesar de não as terem empregado nem em desespero de causa, venhamos a ter alguma surpresa, por terem entregue algumas a grupos terroristas niilistas, como última jogada.

Um difícil exercício na corda bamba, sem rede. Filipe Gonzalez afirma, ou melhor, insinua que a possibilidade de existência de armas de destruição em massa era uma mentira deliberada dos EUA. No entanto, mais à frente, diz que se podem colocar dúvidas sobre a existência dessas mesmas armas, e que podem inclusivamente ter sido entregues a grupos terroristas. Afinal, em que ficamos? Será que Gonzalez quer dizer que EUA mentiram acerca das armas porque disseram que era provável que as armas ainda existissem quando estavam, erradamente, convencidos do contrário? Mas isso é totalmente absurdo... Só se pode concluir, por isso, que Gonzalez tentou denegrir os EUA, acusando-os de mentirem, mas deixando uma porta aberta para a possibilidade de eles, afinal, terem dito a verdade... Só um leitor menos atento poderia cair nesta esparrela, mais a mais porque a justificação essencial para a intervenção dos EUA e do Reino Unido foi a não demonstração por parte do Iraque da destruição das armas que comprovadamente havia possuido no passado, facto que foi atestado repetidamente por Hans Blix.

(Segundo Gonzalez o baralho é "obsceno". Sê-lo-á por causa das suas figuras sinistras ou pelo acto de as colocarem num baralho de cartas? Desconfia-se que seja apenas pela segunda razão...)

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