Causas e Consequências Em Espanha, a esquerda repete a argumentação que já tinha usado aquando do 11 de Setembro, embora agora a respeito dos atentados em Marrocos. Se antes os verdadeiros causadores do massacre das torres gémeas tinham sido os próprios EUA, agora os atentados resultaram naturalmente do apoio dado por Aznar aos EUA e ao Reino Unido na guerra contra o regime de Saddam. Os argumentos têm uma aparência de razoabilidade, mas são profundamente desonestos. Em primeiro lugar esquecem convenientemente que a Al Qaeda é constituída por humanos, como humanos foram os bombistas que se fizeram explodir em Marrocos. Logo, pelo menos do ponto de vista moral, os seus comportamentos não devem ser vistos como determinados por este ou aquele factor exterior, mas sim como resultado de decisões individuais livres. De facto, é razoável supor que os bombistas e os membros da Al Qaeda estão na posse do seu livre arbítrio: se há assassínio indiscriminado de inocentes, isso deve-se às suas decisões, e não a quem tomou atitudes que os bombistas usaram como justificação para os seus actos. Estabelecendo uma comparação abusiva, seria como explicar a violação pela forma como a vítima se veste. Se é possível fazê-lo à luz de uma explicação biológica para o acto, não o é do ponto de vista moral. Independentemente da forma como se veste, a vítima da violação é sempre vítima, e a violação sempre um crime.
É evidente que isto não significa que as nossas acções não se devam reger pelas expectativas das reacções dos outros e das consequências dessas reacções. Não o fazer seria irracional. É por isso que, infelizmente, muitas mulheres limitam a sua liberdade, para limitarem os riscos. Será desta forma que raciocina a esquerda, nomeadamente a espanhola, quando diz que os atentados são consequência das acções dos EUA e, agora, da Espanha? Sinceramente, não o creio. Mas admitamos que sim. Todas as decisões de limitação da liberdade própria devido às possíveis acções de terceiros, nomeadamente quando essas acções não têm qualquer justificação moral ou racional, devem ser tomadas com muito cuidado, como é evidente. A liberdade é preciosa. Mas mais ainda quando dessa liberdade de acção dependem muitas consequências que se esperam ser positivas ou quando se prevê que a inacção terá consequências claramente negativas. No caso da intervenção no Iraque as consequências positivas são claras como água. Basta estar atento ao que se passa no Iraque para se perceber que os iraquianos foram libertos de um regime brutal, de um regime que massacrou o seu próprio povo, que o gaseou e fuzilou, e a quem privava de qualquer liberdade. Outra consequência positiva terá sido a mensagem, implícita na intervenção, de que nunca mais os ditadores estarão seguros. Mas mais importante ainda, passou a mensagem muito clara de que terroristas e seus apoiantes (e Saddam era um apoiante explícito do terrorismo palestiniano) serão combatidos até ao fim, sem contemplações. As consequências negativas seriam a noção de que vale a pena apoiar o terrorismo e brincar com as Nações Unidas, como Saddam fez. É em conjunto com estas consequências positivas da intervenção e com as consequências negativas expectáveis de uma não-intervenção que devemos avaliar os benefícios (?) de uma não-intervenção. Neste caso, como noutros, a escolha só pode ser uma: apoiar a intervenção no Iraque. Pela nossa liberdade, mas sobretudo pela liberdade dos iraquianos. Ainda que venhamos a sofrer de ataques assassinos por parte da Al-Qaeda.
(Nota: A resposta ao Valete Frates está na calha...)
2003-05-20
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário