O editorial é pomposo e vazio, com as suas repetidas referências à psicanálise a que os portugueses se deveriam submeter. D. José Policarpo enche uma página de lugares comuns e vazio de real informação. Mário Soares é igual a si próprio. Começa bem, mas termina com as suas já habituais diatribes anti-americanas. Desta vez, pelo menos, não sugere nenhuma conspiração americana por trás do 11 de Setembro. Menos mal, nesse ponto, mas vejamos outros:
A enigmática China, que começa a sentir-se cercada pelos Estado Unidos, não ficará tão silenciosa como até aqui, sobretudo se as fanfarronadas do Secretário americano para a Defesa, Donald Rumsfeld, contra a Coreia do Norte, viessem a concretizar-se.
Infelizmente a minha memória é curta, mas não terei eu ouvido ou lido algures o próprio Mário Soares sugerir que, para serem corerentes com o que fazem no Iraque, os EUA não deveriam estar a propor soluções diplomáticas para a Coreia do Norte? Talvez não tenha dito. Mas o efeito é o mesmo. A nossa esquerda não sabe o que quer. Ou melhor, sabe. Atacar os EUA em quaisquer circunstâncias. O que quer que os EUA façam. Um pouco à frente, Mário Soares refere-se a Lula:
[...] no outro extremo do mundo, o nosso irmão Brasil, com Lula, se o cerco que lhe fizerem não for excessivo, poderá vir a dar-nos algumas boas surpresas.
O interessante é que não é a primeira vez que os defensores de Lula, antecipando o seu futuro fracasso, apresentam desde já uma explicação para ele: o "cerco" capitalista, "a conspiração" americana, "as forças sinistras da direita religiosa americana". Lula não será nunca responsável por nada, obviamente.
Mais à frente, depois de uma sequência de palavras alinhadas atrás de palavras num completo desperdício de tinta, da autoria do nosso Primeiro Ministro, José Manuel Durão Barroso, temos direito a mais um pedaço de prosa dessa figura incontornável da asneira lusitana: Maria de Lurdes Pintassilgo. Diz ela que "a ignorância é a mais grave disfunção do mundo político". Presume-se que se exclui desse mundo, mas faz mal. Veja-se, por exemplo, esta brilhante incursão na física, com os mesmos resultados lamentáveis que Alan Sokal desmontou no seu genial "Imposturas Intelectuais":
Hoje é certo que nada se pode prever -- a imprevisibilidade é uma lei geral da Física que se estende a todos os domínios.
A senhora é engenheira, não o esqueçamos. Deve, por isso, ter boas bases para esta nova teoria. Aliás, sendo já lei, presume-se que a teoria tenha já sustentação empírica. Talvez tenha sido comprovada por uma vida inteira de previsões falhadas, quem sabe... Enfim, proponho que esta nova Lei da Física receba o nome da sua autora. Enunciemos, pois, a lei Pintassílgo: "tudo é imprevisível". Deve ser terrível deitar-se sem saber se o Sol se levantará no dia seguinte à hora prev..., perdão, adivinhada pelos astrónomos.
Depois vem o texto de Adriano Moreira. Sinceramente, admito que o senhor seja de facto uma sumidade em relações internacionais. Mas será que lhe custava muito escrever de uma forma clara e directa? Não há texto de Adriano Moreira que não seja denso e retorcido. Não, não são as ideias que são complicadas: é mesmo a forma. Não compreendo o que se ganha com isso.
E a coisa continua... Depois comentarei os restantes textos, se é que alguma vez terei paciência para os ler todos.
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