2003-03-23

Em Portugal, se exceptuarmos talvez o Independente, as redacções dos jornais de referência são tradicionalmente de esquerda. É o caso, por exemplo, do Público, onde as posições liberais de José Manuel Fernandes equilibram a balança ideológica do jornal. As redacções estão presas pela obrigação de apresentar factos e não opinões. Por vezes isso não acontece, deixando alguns artigos transparecer claramente a opinião dos jornalistas. Ainda assim, é provavelmente verdade que as redacções se sentem constrangidas, pelo que os cartoons acabam por servir de escapatória. De facto, é interessante como eles revelam claramente (e acredito que involuntariamente) o que as redacções dos jornais pensam. Veja-se o caso do Bartoon no Público e do Cravo & Ferradura, no Diário de Notícias. No Bartoon do Público de ontem, por exemplo, um soldado americano de pala no olho conversa com o empregado de balcão, que lê o jornal: "'Segundo Bush, a intervenção militar no Iraque visa criar um mundo mais pacífico. Um mundo mais pacífico?' 'Sim, mas sem exageros'". No Cravo e Ferradura do Diário de Notícias de 14 de Março, um empregado dos correios franceses comenta com um colega a presença da estátua da liberdade, deitada no chão, frente ao edifício dos correios: "Jacques, temos uma devolução". Note-se que admiro o humor de ambos os autores (Luís e Bandeira). O seu alinhamento com a esquerda é apenas a constatação de um facto.

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