2003-03-04
Tem sido habitual ultimamente os opositores da guerra declarem-se contra a administração Bush, mas aliados "do povo americano, das elites americanas, das universidades americanas", como afirmou Mário Soares no encontro contra a guerra da Aula Magna. Curiosamente, poucas, muito poucas destas declarações de "pró-americanismo" incluem a tradição democrática e liberal americana. A razão é evidente: quem o afirma são os mesmos que aproveitaram os problemas legais surgidos durante as últimas presidenciais nos EUA para acusar o sistema americano de "imperfeito" ou "deficiente". São os mesmos que, como Fernando dos Santos Neves no Público de hoje, acham que "a América de Bush [se situaria] no rol dos países párias e terroristas por excelência". Claramente, nos EUA não há um sistema perfeito. É verdade que os EUA têm a sua dose de asneiras em política externa. Mas muito mais interessante do que constatá-lo seria fazer um momento de autocrítica. Sendo um sistema imperfeito, será que, na sua globalidade, é pior que o português? Ou que o Francês? Haverá sistemas perfeitos? Haverá países sem erros no seu passado? Cômputo geral, as acções americanas no mundo ao longo do século passado foram positivas ou negativas? Mas este exercício é impossível de fazer... Poucos dos que fazem as acusações viram a queda do bloco soviético como uma vitória da democracia e da liberdade. E menos ainda reconheceram o papel imprescindível que os EUA tiverem nessa queda. Perante tais descolagens da realidade, são inúteis os argumentos.
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