2003-02-22

O Convento do Desagravo, em Vila Pouca da Feira, perto de Oliveira do Hospital, propriedade da fundação Bissaya-Barreto, foi adaptado a pousada. O convento não teria talvez grande interesse arquitectónico ou histórico. Mas isso não justifica a violentação a que foi sujeito por uma arquitectura mesquinha e medíocre. Acabou a época em que as recuperações de monumentos para pousadas criavam novos e magníficos monumentos. Lembro-me da Flor da Rosa, no Crato, de Santa Maria do Bouro e de Arraiolos. Pelo contrário, voltámos ao estilo "linha de Cascais", que nem pomposo consegue ser, de tão ignorante. É triste. Concordo com Paulo Varela Gomes, que dizia há uns anos que mais valiam as ruínas. Lembro-me bem do Convento do Desagravo, não propriamente arruinado, mas com aquele aspecto misterioso que estes monumentos têm quando estão abandonados. Sinto sempre uma vontade incontrolável de os explorar, de imaginar com teriam sido e como poderão vir a ser. Compará-lo com o que é agora... É uma ilusão pensar que a história é uma sucessão de progressos. Platão tinha razão: tudo se degrada. Os autores de semelhante atentado assinam orgulhosos a sua obra: Arquitectos António Monteiro, Crespo Osório e Pedro Santos. Pensar que a Ordem dos Arquitectos (OA) se propõe melhorar a arquitectura em Portugal tornando obrigatória a assinatura dos projectos por arquitectos... Acreditará a OA mesmo nisso, ou é só uma justificação para uma manobra de aumento da clientela por decreto? Inclino-me mais para a segunda hipótese.

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