2003-02-04

Algumas pérolas de Mário Soares, em entrevista à Rádio Renascença, publicada no Público de ontem:


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Hoje continuo a ser pró-americano, amigo da América, amigo do pluralismo dos EUA, mas não sou amigo da administração Bush. Porque esta tem a ver com o mccarthysmo, o ku-klux-klan, as religiões sombrias, essa coisa fanática de pensar que o mundo vai acabar e começar a rezar antes dos conselhos de ministros e coisas desse estilo, que é o contrário do laicismo, de todo o progresso. Disso não sou amigo, sou adversário.

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O anti-clericalismo de Mário Soares revela-se, mas agora travestido em simples ateísmo anti-religioso. O problema, depreende-se, é Bush ser religioso e não o esconder. Curiosamente, todos os que criticam Bush por invocar Deus nas sua intervenções, esqueceram as mesmas invocações feitas por Lula (de uma forma aliás perfeitamente legítima, como as de Bush) nos seus discursos de posse.

Sessão de posse, no Congresso Nacional:


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Agradeço a Deus por chegar onde cheguei. Sou agora o servidor público número um do meu País.


Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir unido a cada cidadão e cidadã deste País no dia a dia dos próximos quatro anos.

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Após a cerimónia de posse:


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Eu apenas tive a graça de Deus de, num momento histórico, ser o porta-voz dos anseios de milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.

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É o primeiro dia de combate à fome. E tenho fé em Deus que a gente vai garantir que todo brasileiro e brasileira possa, todo santo dia, tomar café, almoçar e jantar, porque isso não está escrito no meu programa. Issoo está escrito na Constituição brasileira, está escrito na Bíblia e está escrito na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

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Será que estes discursos são "o contrário do laicismo, de todo o progresso"? Será que, por isso, Soares "não [é] amigo, [é] adversário" de Lula? Duvida-se.

Mas há mais:


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Mas o que está em jogo é a nova estratégia para o mundo, que se chama a guerra preventiva para defender aos interesses vitais dos Estados Unidos. Esse é que é o ponto. É legítimo que um país diga que pode fazer uma guerra preventiva sempre que os seus interesses vitais estejam em jogo? Mas isso foi o que fez o Hitler! Evidentemente que a comparação não tem sentido, não há nenhuma paralelo entre o Hitler e o senhor Bush...


Nesse aspecto não está de acordo com o professor Freitas do Amaral.


Estou de acordo, acho que o livro dele é bom e tenho-o defendido sempre. O professor Freitas do Amaral fez esse paralelo porque neste aspecto é legítimo. Como é que justificou o Hitler a entrada na Checoslováquia? Eu lembro-me! E a invasão da França e da Polónia? Foi para defender interesses vitais da Alemanha!

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Claro como água. Afirma que a comparação entre Hitler e Bush "não tem sentido" ao mesmo tempo que faz essa mesma comparação...


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Até porque não se sabe ainda quem fez o 11 de Setembro. Sabe-se que vagamente há uma organização internacional chamada Al-Qaeda, do fanatismo islâmico.

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A teoria da conspiração, no melhor estilo de Diana Andringa e Thierry Meyssan.

Particularmente interessante é a parte da entrevista em que Mário Soares fala de socialismo e capitalismo. Decididamente, Soares tirou da gaveta o socialismo, o verdadeiro, aquele que não está para terceiras vias. A memória de 1989 desvanece-se: o socialismo está de volta em força.

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