2003-02-08

Ilda Figueiredo, em entrevista ao Independente, disse que "as provas [de não acatamento pelo Iraque das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas apresentadas por Colin Powell no Conselho de Segurança], tendo sido ocultadas até agora, não têm nenhum credibilidade". Alguém consegue perceber que tem a suposta ocultação das provas a ver com a sua credibilidade? Mais à frente diz: "[Os americanos e os britânicos] já bombardearam tudo o que havia para bombardear. Isto significa que, neste momento, não há resquícios de armamento relevante neste país [Iraque]. E a prova disso é que, até agora, os inspectores da ONU nada encontraram." Ilda Figueiredo, pelos vistos, consegue ver o que nem Hans Blix viu: que o Iraque está perfeitamente livre de armas de destruição maciça. Aliás, os inspectores sugeriram o prolongamento do seu trabalho não porque ele não esteja ainda completo (se é que um trabalho desse tipo alguma vez termina), mas sim porque lhes agrada passar férias pagas no turístico Iraque. Depois, diz que os EUA "são também quem tem mais desenvolvido todo o tipo de armas -- nucleares, químicas, etc." Este "etc." serve para sugerir a posse de armas biológicas, naturalmente... Aqui apetece citar Fareed Zakaria, no último número da Newsweek:

One highly intelligent [european] executive asked me why we wanted to get rid of Iraq's chemical and biological agents while maintaining our own arsenal of these weapons. When I explained that in fact the United States did not have such an arsenal, the gentleman looked skeptically at me and said, "officially." He found it entirely plausible the the oldest constitutional democracy in the world has secret weapons labs with armies of scientists manufacturing poison gas.


O problema é que, para gente como Ilda Figueiredo, os EUA não são democráticos. São, pelo contrário, um país onde as "grandes corporações" elegem presidentes (sim, é verdade, os papelinhos que os americanos deitam nas urnas não são votos, são cartas ao Pai Natal), um país desde sempre terrorista e onde "não votam senão 11% dos possíveis eleitores", como ouvi dizer durante um extraordinário debate realizado no ISCTE na primavera do ano passado, com o título revelador de "Guerra ao Terrorismo ou o Terrorismo da Guerra?". Para esta gente, a verdadeira democracia estava na defunta União Soviética (para usar uma velha praga portuguesa, "que tantos diabos acompanhem a sua alma aos infernos quanto cabem de mosquitos da terra ao céu e ainda assentes com um pilão").

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