2003-04-30
Não posso ir a um país mais civilizado sem sentir um choque ao voltar a casa. Será impossível organizarmo-nos? Será que, como alguns defendem, estamos condenados, não por razões genéticas, mas sim culturais, à total ineficiência? À maior das mediocridades? Recuso-me a acreditar em tal coisa, mas confesso que há dias em que me apetece emigrar.
2003-04-22
Mais de Oliver Stone sobre Fidel Castro. Uma pérola:
Eurico de Barros termina a notícia lapidarmente:
Depois de ter frisado que o líder cubano é, aos 75 anos, «o último grande revolucionário» do nosso tempo, «um mito» que «se transformou num sábio a cujas lições devíamos prestar atenção» e «uma das personagens fundamentais do século XX», Stone passou a responder às críticas de alguns jornalistas, que o confrontaram com o facto de Fidel Castro ser um ditador instalado no poder há mais de 40 anos e Cuba não saber o que são eleições livres.
«Não há eleições livres em parte nenhuma do mundo, nem nos EUA. Não há nunca eleições livres sem uma imprensa livre. Ou querem ignorar as ligações da grande imprensa com o grande capital, onde quer que seja no mundo?», ripostou o realizador, negando que Comandante seja «uma obra de propaganda» e que o retrato que faz de Fidel seja totalmente favorável. Segundo Stone, para os americanos, «Fidel é uma caricatura, um barbudo a fumar charutos». E acrescentou: «Eu quis retratar a figura humana. E não precisamos de concordar com as ideias dele para perceber que é um homem moral.»
Eurico de Barros termina a notícia lapidarmente:
A verdade é que em Comandante, Oliver Stone evita pôr perguntas muito incómodas a Fidel Castro, acabando por se render ao habilíssimo discurso do ditador. Stone frisa que Castro nunca lhe pediu para parar de filmar nem recusou responder a qualquer pergunta durante as muitas horas que dialogaram _ um «direito» que o autor de Salvador lhe deu. Fidel Castro nunca precisaria de o invocar, porque Comandante é um exercício de autocensura por parte de Oliver Stone.
Artistas? Intelectuais? Não merecem esse nome, os que publicaram em Cuba uma mensagem de apoio a Fidel de Castro pelas prisões de fusilamentos da semana passada. Alguns extractos:
Para que os nomes dos autores não sejam esquecidos:
En los últimos días, hemos visto con sorpresa y dolor que al pie de manifiestos calumniosos contra Cuba se han mezclado consabidas firmas de la maquinaria de propaganda anticubana con los nombres entrañables de algunos amigos. Al propio tiempo, se han difundido declaraciones de otros, no menos entrañables para Cuba y los cubanos, que creemos nacidas de la distancia, la desinformación y los traumas de experiencias socialistas fallidas.
Lamentablemente, y aunque esa no era la intención de estos amigos, son textos que están siendo utilizados en la gran campaña que pretende aislarnos y preparar el terreno para una agresión militar de los Estados Unidos contra Cuba.
Nuestro pequeño país está hoy más amenazado que nunca antes por la superpotencia que pretende imponer una dictadura fascista a escala planetaria. Para defenderse, Cuba se ha visto obligada a tomar medidas enérgicas que naturalmente no deseaba. No se le debe juzgar por esas medidas arrancándolas de su contexto.
Resulta elocuente que la única manifestación en el mundo que apoyó el reciente genocidio haya tenido lugar en Miami, bajo la consigna "Iraq ahora, Cuba después", a lo que se suman amenazas explícitas de miembros de la cúpula fascista gobernante en los Estados Unidos.
Son momentos de nuevas pruebas para la Revolución Cubana y para la humanidad toda, y no basta combatir las agresiones cuando son inminentes o están ya en marcha.
Hoy, 19 de abril de 2003, a cuarenta y dos años de la derrota en Playa Girón de la invasión mercenaria, no nos estamos dirigiendo a los que han hecho del tema de Cuba un negocio o una obsesión, sino a amigos que de buena fe puedan estar confundidos y que tantas veces nos han brindado su solidaridad.
Para que os nomes dos autores não sejam esquecidos:
Alicia Alonso (directora do Ballet Nacional de Cuba)
Miguel Barnet (investigador e director da Fundação Fernando Ortiz)
Leo Brouwer (compositor)
Octavio Cortázar (realizador)
Abelardo Estorino (dramaturgo)
Roberto Fabelo (pintor)
Pablo Armando Fernández (poeta)
Roberto Fernández Retamar (poeta)
Julio García Espinosa (realizador e guionista)
Fina García Marruz (escritora, poeta, investigadora literária)
Harold Gramatges (pianista e compositor)
Alfredo Guevara (realizador)
Eusebio Leal (historiador)
José Loyola (flautista, compositor e musicólogo)
Carlos Martí (Presidente da União de Escritores e Artistas de Cuba)
Nancy Morejón (poeta)
Senel Paz (escritor)
Amaury Pérez (músico)
Graziella Pogolotti (crítica de arte)
César Portillo de la Luz (guitarrista e compositor)
Omara Portuondo (cantora)
Raquel Revuelta (actriz)
Silvio Rodríguez (músico)
Humberto Solás (realizador)
Marta Valdés (cantora)
Chucho Valdés (realizador)
Cintio Vitier (escritor)
As Contas Trocadas Segundo o director adjunto do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, Rui Vieira Nery, apesar de o cachet dos artistas diminuir com a repetição dos concertos, é preferível não os repetir. O argumento é que "em teoria, estamos a reduzir os custos fixos da deslocação, mas com as despesas acrescidas nunca chega ao limiar entre equilíbrio [receita?] e despesa. Isto é, cada espectáculo adicional é um buraco financeiro". O argumento é absurdo. Como é evidente, poder-se-ia aumentar o número de repetições, reduzindo o número de diferentes espectáculos e satisfazendo a mesma quantidade de público com menos prejuízo. Talvez até se conseguisse atingir maior quantidade de público com o mesmo prejuízo de hoje. Claro que isso implicava reduzir a diversidade de espectáculos, mas julgo que poderia valer bem a pena, sobretudo se a intenção for chegar ao grande público.
José Miguel Trigoso, secretário-geral da PRP, diz no Público de hoje que auditorias aos projectos rodoviários vão evitar a construção de "estradas da morte", como o IP4 ou o IP5. E os responsáveis por essas estradas? Onde estão eles? Porque não são acusados de homicídio por negligência? As auditorias são uma boa ideia, mas se não forem acompanhadas pela indispensável responsabilização a posteriori dos técnicos, de nada servirão.
Notas Pascais de José Manuel Fernandes. A não perder:
Apetece-me antes pedir a maturidade a idade adulta. Pedir que se compreenda que o homem, as nações, o mundo, não são perfeitos, e que tudo leva o seu tempo. Afinal a II Guerra do Golfo começou há menos tempo do que aquele que durou a primeira, do que durou a guerra do Kosovo ou a operação no Afeganistão. E, até agora, causou muito menos baixas. Mais: já permitiu a livre expressão das diferenças religiosas e políticas. Uma grande liberdade na movimentação dos jornalistas. E as inevitáveis divergências. Tenham pois calma e releiam as previsões catastrofistas que fizeram há apenas um mês. Não sejam adolescentes: aprendam com os disparates que disseram e escreveram. Como é Páscoa, vou ser piedoso: deixo o trabalho de memória desses disparates aos seus autores.
As bases no Iraque O New York Times, repetido depois pelo Público, anunciam a intenção americana de instalar quatro bases militares de longo prazo no Iraque. Donald Rumsfeld negou já a notícia enfaticamente:
O New York Times no seu melhor.
``Obviously there will have been significant changes. I would personally say that a friendly Iraq that is not led by a Saddam Hussein would be a reason we could have fewer forces in the region, rather than more -- I mean, just logically.''
O New York Times no seu melhor.
As Lágrimas da Liberdade Impressionante relato de uma visita ao mais pobre dos bairros de Bagdad, Al-Mahdi. De Paulo Moura, no Público. Ou um repórter que não soube – ninguém saberia – ser um frio observador da infâmia.
2003-04-21
Karbala Centenas de milhar de peregrinos dirigem-se para Karbala, lugar sagrado para os Shiitas. A peregrinação estava proibida há 35 (?) anos pelo regime de Saddam Hussein. A grande maioria desses peregrinos manifesta-se livremente contra a presença dos norte-americanos no Iraque, como nunca pôde fazer sob a ditadura de Saddam Hussein. É compreensível e é, até certo ponto, um bom sinal. De facto, todos desejamos que as tropas possam sair tão rápido quanto possível. Mas não será um pouco... cedo demais? Esta impaciência pode ser mau sinal. Talvez demonstre a vontade de muitos de impor um regime islamista no Iraque. Esperemos que não e que por entre as manifestações haja gente suficiente com bom-senso para perceber que criar um governo interino para o Iraque demorará algum tempo. Mas algumas declaração revelam uma violência latente que não é bom augúrio:
No início a nossa oposição à ocupação estrangeira será exprimida por meios pacíficos. As pessoas tem apenas armas ligeiras, nada comparável à potência americana. Mas se a certo ponto a não-violência não der resultados, então decidiremos o que fazer.
2003-04-20
Surrealismo automático
...na antemente de sol dourada de jantava, esfolega Carlos da célula, alguma cada instante, falou do velha de botoeira... Castro Gomes. Depois animada, com aquela sorte, apenas ornara queixou calor ser feridade novo a soirée aconteve:
- Aí estão?
Ela só devoção indo eles em que cavalam no jaqueta fechada. E ninguém aludi a uma horror, um vago chapéu na Madeiro acabaria porém a tia em Santa lassificante. E agora, o Euzébio Silva, o banco na libras sonoros à quinta.
- Este Ega - e a epidemia, rec...
...na antes de hotel. No largo monogramas. E como eram um rendez-vous, chorando o braços, sorrisos alemães, no Brasil. Ora a Sr.ª Adélia, grulhavam, a sabia o Sr. Domingo envolvido num deslumbrado sobrecasaca mal acordava a ideia as feri-lo-hia, e abraço!
Craft já a impressionou-se aos seus vestia-se abanca, nervosamente, apanhou a portão onde morte. O avô não a tinha o estilo, deviam permanecera para sempre desejo seu relevo, enfureceu a Marinha menos: "O deus belos cada praça, de legenda, e des...
("Textos" gerados usando a técnica descrita no artigo seminal da teoria da informação, de Claude Shannon. Estatísticas do português obtidas a partir de "Os Maias".)
...na antemente de sol dourada de jantava, esfolega Carlos da célula, alguma cada instante, falou do velha de botoeira... Castro Gomes. Depois animada, com aquela sorte, apenas ornara queixou calor ser feridade novo a soirée aconteve:
- Aí estão?
Ela só devoção indo eles em que cavalam no jaqueta fechada. E ninguém aludi a uma horror, um vago chapéu na Madeiro acabaria porém a tia em Santa lassificante. E agora, o Euzébio Silva, o banco na libras sonoros à quinta.
- Este Ega - e a epidemia, rec...
...na antes de hotel. No largo monogramas. E como eram um rendez-vous, chorando o braços, sorrisos alemães, no Brasil. Ora a Sr.ª Adélia, grulhavam, a sabia o Sr. Domingo envolvido num deslumbrado sobrecasaca mal acordava a ideia as feri-lo-hia, e abraço!
Craft já a impressionou-se aos seus vestia-se abanca, nervosamente, apanhou a portão onde morte. O avô não a tinha o estilo, deviam permanecera para sempre desejo seu relevo, enfureceu a Marinha menos: "O deus belos cada praça, de legenda, e des...
("Textos" gerados usando a técnica descrita no artigo seminal da teoria da informação, de Claude Shannon. Estatísticas do português obtidas a partir de "Os Maias".)
2003-04-19
Absurdo Os vizinhos do Iraque reuniram-se na Arábia Saudita. Um relato no Times of Oman:
Tudo o que disseram já foi dito antes por Bush e Blair, com excepção do papel das Nações Unidas. Estes encontros destinam-se mais a consumo interno do que propriamente para contribuirem alguma coisa para a resolução do problema iraquiano. Isso é evidente quando dizem que "the Iraqi people should already have been engaged in picking their own government". Tendo em conta que o regime de Saddam caiu há uma semana, não se vê como seria possível ter já havido eleições...
“This requires the withdrawal of foreign forces in order to enable the Iraqi people to choose their government in full freedom. Moreover, the United Nations must play an essential role” in Iraq, he said. Maher said the countries represented at the meeting — host Saudi Arabia, Iran, Jordan, Kuwait, Turkey and Syria, all neighbours of Iraq, in addition to Egypt and current Arab League chair Bahrain — hoped US and British forces would pull out of Iraq “as soon as possible”. He said none of the participants at the meeting could live with a military government in Iraq and the Iraqi people should already have been engaged in picking their own government.
“We call on the occupying authority, which we hope will withdraw from Iraq as soon as possible, to quickly put in place an interim government with a view to putting in place a constitutional government,” Prince Saud said.
“Iraq’s territory and wealth belong to Iraqis,” he said, adding that the United Nations must play a key role in the country.
Tudo o que disseram já foi dito antes por Bush e Blair, com excepção do papel das Nações Unidas. Estes encontros destinam-se mais a consumo interno do que propriamente para contribuirem alguma coisa para a resolução do problema iraquiano. Isso é evidente quando dizem que "the Iraqi people should already have been engaged in picking their own government". Tendo em conta que o regime de Saddam caiu há uma semana, não se vê como seria possível ter já havido eleições...
As Nações Unidas não vão longe Uma resolução com uma crítica firme às detenções de dissidentes em Cuba foi rejeitada na Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, tendo sido aprovada uma resolução bastante mais branda. Ainda assim, o Brasil e a Argentina abstiveram-se (a Venezuela votou contra). Cuba, naturalmente, regozijou com o resultado. A história na CBS News. Não esquecer que a comissão é presidida pela Líbia.
2003-04-18
A pedido da União dos Blogues Livres seguem mais resultados dos vários testes políticos disponíveis na webosfera:
The Student Center Political Test: Moderate/Independent
The Political Quiz Show: 24 pontos (George Bush)
US Party Matchmaking: Libertarian Party (62%)
The Student Center Political Test: Moderate/Independent
The Political Quiz Show: 24 pontos (George Bush)
US Party Matchmaking: Libertarian Party (62%)
Mentiras? É bom ter Miguel Sousa Tavares de volta ao Público, pois fazem-nos falta bons pensadores, sem papas na língua e com espírito independente. Dito isto, não posso deixar de comentar algumas das suas afirmações:
Será o que parece? Estará realmente Miguel Sousa Tavares a dizer que um erro num bombardeamente é equivalente a ganhar o controlo de um avião comercial pejado de passageiros e espetá-lo contra um edifício cheio de população civil? A guerra equivale-se ao terrorismo, para ele?
As dúvidas dissipam-se. Para Miguel Sousa Tavares é tudo o mesmo: fundamentalismo islâmico e a religiosidade de George W. Bush, um ataque terrorista e uma guerra a um regime despótico e assassino.
Mais à frente Miguel Sousa Tavares elenca as supostas mentiras "dos que temos como democratas":
Relativamente às ligações à Al-Qaeda, é verdade que os indícios eram, no mínimo, pouco convincentes. Mas o apoio ao terrorismo palestiniano era bem conhecido, nomeadamente quanto aos subsídios dados às famílias de bombistas suicidas. Quanto às armas de destruição em massa, é elucidativo ouvir o que Hans Blix tem para dizer sobre o assunto (desta vez extraído de uma entrevista publicada na revista Actual, do Expresso):
Mas Miguel Sousa Tavares continua:
Aqui tem razão. Não me parece que isso tenha acontecido.
Não me lembro de ninguém ter falado em milhares de civis abatidos nestas circunstâncias. Referiu-se o incidente, que se receava poder generalizar-se mas que acabou por ser pontual.
A administração americana lançou um aviso forte a esse respeito, relativamente à exibição televisiva dos prisioneiros de guerra, mas não me lembro de ter afirmado nunca que tinham havido torturas. Referiu-se a certa altura que algumas mortes de soldados americanos pareciam ter correspondido a execuções. O assunto não voltou a ser referido, pelo que neste ponto Miguel Sousa Tavares tem aparentemente razão.
A mistura entre o ataque às emissões da televisão iraquiana, correia de transmissão de um regime totalitário, e ao Hotel Palestina, presumivelmente devido a um erro, é pouco honesta.
Aqui Miguel Sousa Tavares antecipa-se à realidade. Estão neste momento a decorrer as conversações sobre o governo interino do Iraque. Esperemos para ver.
Começaram já a desembarcar equipamento e medicamentos em alguns hospitais de Bagdad. Tudo leva a crer que a situação começa a estar sob controlo. Recordo que a guerra começou há menos de um mês...
Não é verdade. Essa intenção foi manifestada desde o início. É verdade que cometeram um erro indesculpável ao não controlar as pilhagens em Bagdad, mas de resto parecem estar tentar ocupar-se do Iraque e da sua reconstrução.
Quanto ao caos e à anarquia, tem razão, embora o problema tenha já sido em grande medida resolvido. As sementes da guerra civil, admitindo que existem, já lá estavam antes da intervenção. Temos de esperar para ver como e se conseguirão impedir que essas sementes acabem por germinar.
Recordo que o "massacre" foi de alguns milhares de civis, que não foram alvejados propositadamente. É necessário manter os números em proporção. Houve muito mais vítimas do que o desejável, mas muito menos do que se receava. Ninguém pode dizer que estas mortes se justificaram. Mortes de civis numa guerra não se justificam. Quanto a mim o que se justificou foi o ataque em si, que de resto foi feito na sua generalidade com tanto cuidado quanto é possível numa guerra.
Nós não podemos aceitar o sofrimento de Ali, da mesma forma que não aceitamos o sofrimento das vítimas da barbárie do 11 de Setembro. Nós não podemos aceitar o terror como resposta ao terror porque não podemos aceitar que o sofrimento dos inocentes seja uma forma legítima de guerra, em Manhattan ou em Bagdad.
Será o que parece? Estará realmente Miguel Sousa Tavares a dizer que um erro num bombardeamente é equivalente a ganhar o controlo de um avião comercial pejado de passageiros e espetá-lo contra um edifício cheio de população civil? A guerra equivale-se ao terrorismo, para ele?
Isso significa que, em nome dos valores em que acredito e da civilização a que pertenço, eu não aceito o terrorismo, nenhuma forma de terrorismo: o muçulmano ou árabe, o israelita ou americano. Não aceito a fé religiosa que manda matar, ou com aviões desviados contra as cidades ou com "tomahawks" despejados do céu, em nome de Alá, de Jeová ou do pretenso Deus cristão que inspira aquela gente perigosa que se apoderou do Governo dos Estados Unidos.
As dúvidas dissipam-se. Para Miguel Sousa Tavares é tudo o mesmo: fundamentalismo islâmico e a religiosidade de George W. Bush, um ataque terrorista e uma guerra a um regime despótico e assassino.
Mais à frente Miguel Sousa Tavares elenca as supostas mentiras "dos que temos como democratas":
E nós não podemos aceitar que os que temos como democratas nos mintam, sem vergonha. Que nos mintam sobre a ameaça terrorista do Iraque, que nos mintam sobre as suas armas de destruição maciça,
Relativamente às ligações à Al-Qaeda, é verdade que os indícios eram, no mínimo, pouco convincentes. Mas o apoio ao terrorismo palestiniano era bem conhecido, nomeadamente quanto aos subsídios dados às famílias de bombistas suicidas. Quanto às armas de destruição em massa, é elucidativo ouvir o que Hans Blix tem para dizer sobre o assunto (desta vez extraído de uma entrevista publicada na revista Actual, do Expresso):
E quer regressar [às inspecções]?
Sim, claro. Esse é o nosso trabalho. Ninguém está mais curioso do que nós quanto às armas de destruição maciça no Iraque.
[...]
Considera que as armas de destruição maciça eram razão suficiente para se ir para a guerra?
(Pausa prolongada) Penso que com uma autorização do Conselho de Segurança teria sido justificação suficiente para uma intervenção armada, sim. No fim de contas, o Iraque violou um tratado de não proliferação e também não colaborou como devia no cumprimento da Resolução 687.
Mas Miguel Sousa Tavares continua:
que nos mintam sobre a população civil usada como escudos pelo exército iraquiano,
Aqui tem razão. Não me parece que isso tenha acontecido.
que nos mintam sobre "os milhares de civis" abatidos a tiro pelas milícias iraquianas quando pretenderiam fugir de Bassorá,
Não me lembro de ninguém ter falado em milhares de civis abatidos nestas circunstâncias. Referiu-se o incidente, que se receava poder generalizar-se mas que acabou por ser pontual.
que nos mintam sobre os prisioneiros de guerra da coligação supostamente torturados e abatidos à queima-roupa e que afinal aparecem libertados e sem maus tratos alguns,
A administração americana lançou um aviso forte a esse respeito, relativamente à exibição televisiva dos prisioneiros de guerra, mas não me lembro de ter afirmado nunca que tinham havido torturas. Referiu-se a certa altura que algumas mortes de soldados americanos pareciam ter correspondido a execuções. O assunto não voltou a ser referido, pelo que neste ponto Miguel Sousa Tavares tem aparentemente razão.
que nos mintam sobre o respeito que lhes merece a liberdade de imprensa e depois bombardeiem sem pudor as estações de televisão que lhes contrariam a propaganda,
A mistura entre o ataque às emissões da televisão iraquiana, correia de transmissão de um regime totalitário, e ao Hotel Palestina, presumivelmente devido a um erro, é pouco honesta.
que nos mintam quando prometem levar ao Iraque a liberdade e a democracia e depois lhes pretendam impor dirigentes fantoches sem qualquer credibilidade interna e chefiados por um general americano que também fornece a componente essencial das bombas que mataram os que ele agora pretende administrar,
Aqui Miguel Sousa Tavares antecipa-se à realidade. Estão neste momento a decorrer as conversações sobre o governo interino do Iraque. Esperemos para ver.
que nos mintam quando prometeram levar água, comida e remédios ao Iraque e afinal se constata que não tinham qualquer plano para assistir as vítimas da guerra que desencadearam
Começaram já a desembarcar equipamento e medicamentos em alguns hospitais de Bagdad. Tudo leva a crer que a situação começa a estar sob controlo. Recordo que a guerra começou há menos de um mês...
e que, para além da segurança dos poços de petróleo, nada mais os preocupava e só a pressão do escândalo mundial os vai fazer finalmente e relutantemente ocuparem-se do país que devastaram.
Não é verdade. Essa intenção foi manifestada desde o início. É verdade que cometeram um erro indesculpável ao não controlar as pilhagens em Bagdad, mas de resto parecem estar tentar ocupar-se do Iraque e da sua reconstrução.
Que nos mintam quando prometeram levar ao Iraque a paz e o progresso e tenham deixado instalar o caos, a anarquia e as sementes da guerra civil entre nações e tribos.
Quanto ao caos e à anarquia, tem razão, embora o problema tenha já sido em grande medida resolvido. As sementes da guerra civil, admitindo que existem, já lá estavam antes da intervenção. Temos de esperar para ver como e se conseguirão impedir que essas sementes acabem por germinar.
Nós não podemos aceitar tanta mentira sem remorso, tanta irresponsabilidade, tanta ignorância, tanto aventureirismo arrogante. Como explicar a todos os milhares de Alis do Iraque que as mortes, o sofrimento, a destruição, as pilhagens, tudo valeu a pena em troca de se terem livrado de Saddam? Como explicar a esse miserável povo, "liberto" pelo massacre aéreo, que a "nossa" vitória é também a vitória deles?
Recordo que o "massacre" foi de alguns milhares de civis, que não foram alvejados propositadamente. É necessário manter os números em proporção. Houve muito mais vítimas do que o desejável, mas muito menos do que se receava. Ninguém pode dizer que estas mortes se justificaram. Mortes de civis numa guerra não se justificam. Quanto a mim o que se justificou foi o ataque em si, que de resto foi feito na sua generalidade com tanto cuidado quanto é possível numa guerra.
As Reacções do Costume No Público Última Hora referem-se as reacções dos estudantes às propostas governamentais de aumentar as propinas até ao limite de 770 € anuais, de penalizar os chumbos e de reduzir o peso dos estudantes nos órgãos de gestão das escolas superiores:
Perdi as minhas ilusões quando, há já quase 20 anos, as associações académicas organizaram uma greve protestando contra o aumento do preço das refeições nas cantinas de 20$ para 50$: a maior parte dos dirigentes associativos defendem os interesses mais mesquinhos e imediatos dos estudantes. A qualidade do ensino, da investigação e das instalações, por exemplo, surgem normalmente como apêndices destinados a dar alguma credibilidade às reivindicações, mas o essencial é sempre o mesmo: dinheiro e poder.
Quanto ao dinheiro, estamos a falar de 770 € no máximo, divididos por cerca de 30 semanas, ou 7 meses, de aulas (não contando com avaliações). Ou seja, de cerca 110 € por mês (22 contos), menos do que se paga em muitos infantários ou em qualquer escola secundária privada. O preço por hora de aula frequentada também é interessante. Admitindo que há 20 horas de aulas por semana e que o calendário escolar tem 28 semanas por ano, conclui-se que os alunos pagarão no limite 1,4 € por cada hora de aulas. Convenhamos que é barato. Muito barato.
Quanto ao poder, trata-se na maior parte dos casos de ter poder e influência suficiente para preservar o status quo. Por exemplo, para manter em vigor os calendários escolares mais estúpidos do mundo, com épocas de avaliação que se prolongam por meses a fio, com recursos atrás de recursos, e que impedem estudantes e professores de se dedicarem a tarefas verdadeiramente importantes, tais como a investigação ou a participação em cursos e estágios. Exemplo paradigmático era o ISCTE há dois anos (entretanto o calendário foi ligeiramente melhorado): 25 semanas de aulas (12 no 1º semestre e 13 no 2º) e 14 semanas de avaliação, sem contar com épocas especiais, contra 30 semanas de aulas (15 por semestre) e três semanas de avaliação na Universidade da Califórnia em Berkeley ou 28 semanas de aulas e duas semanas de avaliação no MIT, para dar apenas dois exemplos.
Espero que o governo tenha coragem suficiente para não voltar atrás com estas medidas, aliás bastante tímidas.
Em entrevista ao "Expresso", o ministro Pedro Lynce fala de um novo regime de propinas, com um valor mínimo ainda não definido, mas que poderá ser superior aos 350 euros que os estudantes pagam actualmente, e um valor máximo de 770 euros anuais, a entrar em vigor já no próximo ano lectivo, mas só para os novos estudantes universitários. A lei actual fixa a propina anual no valor de um salário mínimo nacional, o que quer dizer que a proposta do ministro eleva a quantia para o dobro da actual.
Pedro Lynce propõe também que os alunos que não completarem pelo menos 50 por cento das disciplinas em que se inscreveram tenham de pagar, no ano seguinte, uma taxa suplementar de 25 por cento sobre a propina, mas cujo valor nunca poderá ultrapassar a propina máxima.
O ministro revelou ainda que, no próximo ano, haverá menos 3500 vagas no ensino superior e que os estudantes perderão peso nos órgãos universitários a favor dos docentes doutorados, que passarão a ter mais de 50 por cento dos votos.
"Que belo fim de semana que o ministro nos deu", comentou o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), que convocou para hoje mesmo uma reunião de emergência para debater o assunto. Nuno Mendes afirma nem querer acreditar no que leu: "Estou muito desiludido. Ao longo destes anos tenho tentado ser ponderado, moderado e sério nas análises que faço, mas depois disto a impressão que me dá é que o ministro olha para os estudantes como um alvo a abater".
O dirigente académico considera que a medida de Pedro Lynce de aumentar a propina apenas para os novos alunos é uma "jogada inteligente", mas "maquiavélica".
Quanto à intenção governamental de retirar poder aos estudantes nos órgãos universitários, Nuno Mendes diz que desde 1997 que está no movimento associativo e que nunca viu nada assim. "Parte de um homem que sempre disse estar contra 'lobbies' e que agora dá tudo o que tem e o que não tem aos professores", criticou.
Perdi as minhas ilusões quando, há já quase 20 anos, as associações académicas organizaram uma greve protestando contra o aumento do preço das refeições nas cantinas de 20$ para 50$: a maior parte dos dirigentes associativos defendem os interesses mais mesquinhos e imediatos dos estudantes. A qualidade do ensino, da investigação e das instalações, por exemplo, surgem normalmente como apêndices destinados a dar alguma credibilidade às reivindicações, mas o essencial é sempre o mesmo: dinheiro e poder.
Quanto ao dinheiro, estamos a falar de 770 € no máximo, divididos por cerca de 30 semanas, ou 7 meses, de aulas (não contando com avaliações). Ou seja, de cerca 110 € por mês (22 contos), menos do que se paga em muitos infantários ou em qualquer escola secundária privada. O preço por hora de aula frequentada também é interessante. Admitindo que há 20 horas de aulas por semana e que o calendário escolar tem 28 semanas por ano, conclui-se que os alunos pagarão no limite 1,4 € por cada hora de aulas. Convenhamos que é barato. Muito barato.
Quanto ao poder, trata-se na maior parte dos casos de ter poder e influência suficiente para preservar o status quo. Por exemplo, para manter em vigor os calendários escolares mais estúpidos do mundo, com épocas de avaliação que se prolongam por meses a fio, com recursos atrás de recursos, e que impedem estudantes e professores de se dedicarem a tarefas verdadeiramente importantes, tais como a investigação ou a participação em cursos e estágios. Exemplo paradigmático era o ISCTE há dois anos (entretanto o calendário foi ligeiramente melhorado): 25 semanas de aulas (12 no 1º semestre e 13 no 2º) e 14 semanas de avaliação, sem contar com épocas especiais, contra 30 semanas de aulas (15 por semestre) e três semanas de avaliação na Universidade da Califórnia em Berkeley ou 28 semanas de aulas e duas semanas de avaliação no MIT, para dar apenas dois exemplos.
Espero que o governo tenha coragem suficiente para não voltar atrás com estas medidas, aliás bastante tímidas.
Manifestações no Iraque O combate político no Iraque começou e com ele as manifestações, muitas contra a presença de tropas dos aliados. Estas manifestações são um bom sinal, desde que não degenerem em violência. São sinal de que começa um período perigoso e confuso, mas também de que houve uma verdadeira libertação no Iraque. Uma libertação que saiu cara e acerca da qual os iraquianos têm sentimentos contraditórios, sem dúvida, mas uma libertação. Serão os primeiros passos para uma democracia? Assim o espero, embora haja o perigo de os iraquianos democraticamente abandonarem o único aspecto positivo da ditadura de Saddam Hussein: o estado laico. É importante tentar evitar os problemas que ocorreram na Argélia, mas será possível?
2003-04-17
Hans Blix e as Armas de Destruição em Massa Tentativa de transcrição (de memória) de uma entrevista na BBC World:
Esta entrevista deve ter desiludido muita gente, mas Blix tem razão. Encontrem-se ou não armas de destruição em massa no Iraque, a decisão foi tomada com base numa possibilidade que se considerou suficientemente forte para a justificar.
As armas de destruição em massa foram o pretexo para a intervenção no Iraque. Julga será que foi mesmo essa a razão?
Sim. Nunca foram apresentadas provas da destruição dessas armas, pelo que havia a possibilidade de elas existirem. Depois do 11 de Setembro, os EUA decidiram que não podiam correr o risco de um novo ataque, possivelmente com armas nucleares, químicas ou biológicas. Os EUA apresentaram provas dos seus serviços secretos. Os EUA não fabricaram provas. Puseram essas palavras na minha boca, mas eu nunca o afirmei.
Esta entrevista deve ter desiludido muita gente, mas Blix tem razão. Encontrem-se ou não armas de destruição em massa no Iraque, a decisão foi tomada com base numa possibilidade que se considerou suficientemente forte para a justificar.
Balanço Pedro Mexia, na Coluna Infame, faz o primeiro balanço da guerra. Uma correcção e uma adenda às características:
Positivas:
- o número de de vítimas civis inferior ao que se receava (o número de vítimas militares iraquianas está por contabilizar).
Negativas:
- o número de de vítimas civis superior ao que se desejava.
Positivas:
- o número de de vítimas civis inferior ao que se receava (o número de vítimas militares iraquianas está por contabilizar).
Negativas:
- o número de de vítimas civis superior ao que se desejava.
2003-04-16
Seguindo uma sugestão do Liberdade de Expressão, e mesmo sabendo que este tipo de testes valem o que valem, resolvi verificar onde me localizo no Political Compass. Aqui ficam os resultados:
Economic Left/Right: 3.38 (ou seja, mais para a direita)
Authoritarian/Libertarian: -4.26 (ou seja, mais para o libertário)
Hmm...
Adenda:
Fiz também o World's Smallest Political Quiz. Resultados:
Your Personal Self-Government Score is 80%.
Your Economic Self-Government Score is 60%.
Ou seja, Libertário.
Ainda acabo por me convencer disto...
Economic Left/Right: 3.38 (ou seja, mais para a direita)
Authoritarian/Libertarian: -4.26 (ou seja, mais para o libertário)
Hmm...
Adenda:
Fiz também o World's Smallest Political Quiz. Resultados:
Your Personal Self-Government Score is 80%.
Your Economic Self-Government Score is 60%.
Ou seja, Libertário.
Ainda acabo por me convencer disto...
Guerra Civil nas Estradas de Portugal Se quer ajudar a acabar com ela, ajude a ACA-M, Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados. Pode, por exemplo,
- participar na nossa campanha de identificação e participação de Pontos Negros ou
- assinar a nossa petição à PSP de Lisboa pedindo mais acção protectora dos peões.
2003-04-15
A Loucura Os comunistas comem crianças ao pequeno almoço? Não. Agora são os judeus que bebem sangue árabe nas suas festas religiosas. Investigação do MEMRI:
Author of Saudi Blood Libel and Professor at King Faysal University Lectures at Arab League Think Tank: 'U.S. War on Iraq Timed To Coincide With Jewish Holiday Purim'
On April 9, 2003, Dr. Umayma Jalahma briefed the Arab League's "Center for Coordination and Follow-Up" and claimed that the U.S. war in Iraq was timed to coincide with the Jewish holiday Purim. Dr. Jalahma, a professor of Islamic Studies at Saudi Arabia's King Faysal University, made headlines last year when she claimed that Jews use human blood to make pastries for the Purim holiday. In an article published in the Saudi daily Al-Riyadh on March 12, 2002, Dr. Jalahma wrote about "the Jewish holiday of Purim... for this holiday, the Jewish people must obtain human blood so that their clerics can prepare the holiday pastries... that affords the Jewish vampires great delight as they carefully monitor every detail of the blood-shedding with pleasure... After this barbaric display, the Jews take the spilled blood, in the bottle set in the bottom [of the needle-studded barrel], and the Jewish cleric makes his coreligionists completely happy on their holiday when he serves them the pastries in which human blood is mixed."
Naomi Klein, no Guardian, diz que:
Tirando a retórica ("pulverizado" parece me um pouco excessivo...), parece que continua a haver quem ponha a palavra liberdade entre aspas, deixando a entender que os iraquianos estarão pior amanhã do que estavam sob Saddam e usando a expressão "wonderful world of democracy" com ironia. É razoável e desejável ser-se crítico e estar-se atento àquilo que os EUA vão fazer no Iraque, pois todos desejamos que haja verdadeira democracia no Iraque, mas não desta forma. Comparar, por exemplo, com o artigo sensato de David Aaronovitch (excepto na parte em que diz que "the rebuilding will require American troops, UN policemen, French expertise, Russian engineers, Arab diplomacy, forbearance in Iran and Turkey, and, above all, Iraqi bravery", pois parece-me que há aqui um país ou dois a mais...).
A people, starved and sickened by sanctions, then pulverised by war, is going to emerge from this trauma to find that their country had been sold out from under them. They will also discover that their new-found "freedom" - for which so many of their loved ones perished - comes pre-shackled by irreversible economic decisions that were made in boardrooms while the bombs were still falling. They will then be told to vote for their new leaders, and welcomed to the wonderful world of democracy.
Tirando a retórica ("pulverizado" parece me um pouco excessivo...), parece que continua a haver quem ponha a palavra liberdade entre aspas, deixando a entender que os iraquianos estarão pior amanhã do que estavam sob Saddam e usando a expressão "wonderful world of democracy" com ironia. É razoável e desejável ser-se crítico e estar-se atento àquilo que os EUA vão fazer no Iraque, pois todos desejamos que haja verdadeira democracia no Iraque, mas não desta forma. Comparar, por exemplo, com o artigo sensato de David Aaronovitch (excepto na parte em que diz que "the rebuilding will require American troops, UN policemen, French expertise, Russian engineers, Arab diplomacy, forbearance in Iran and Turkey, and, above all, Iraqi bravery", pois parece-me que há aqui um país ou dois a mais...).
A doce ilusão de Claude Imbert no Le Point:
A Europa e os EUA têm de se manter na mesma órbita, a órbita da civilização ocidental. Não iremos nunca orbitrar a França. Esse tempo passou há muito. A França acabará por cair em si.
La France a joué gros. Et les dés roulent encore. On voit bien ce qui, d'abord, l'obsède et guide sa conduite : éviter qu'un Occident rassemblé et chrétien ne semble, derrière l'Amérique, affronter de plein fouet le monde arabo-musulman. Chirac partage là-dessus la hantise du pape. D'ores et déjà, la France a recouvré du prestige partout où, dans le monde, l'hyperpuissance américaine exaspère. Elle a rameuté ailleurs, et chez elle, le mol et massif assentiment des partisans de la paix. Cela fait du monde.
Mais, en même temps, la France a pris le risque de creuser entre l'Amérique et nous un fossé impressionnant. Pour éviter, en Occident, de se trouver bousculée par la puissante machinerie bushiste, elle doit désormais convertir à ses raisons nos voisins du Vieux Continent. Cette partie-là n'est pas perdue, mais elle a mal débuté. L'ardeur spectaculaire mise chez nous à contrarier cette guerre irakienne a pour effet pervers de contrarier notre dessein européen, tant il apparaît qu'une partie de l'Europe renâcle encore à quitter, aussi peu que ce soit, l'orbe américain. Le projet européen n'est certes ni mort ni enterré. Mais il faudra attendre que le temps se fasse, pour nous, galant homme.
A Europa e os EUA têm de se manter na mesma órbita, a órbita da civilização ocidental. Não iremos nunca orbitrar a França. Esse tempo passou há muito. A França acabará por cair em si.
O blogmania pegou. Há por aí alguns blogues muito interessantes:
Ligações em breve no topo destas páginas...
P.S. Bom, alguns blogues já existem há uns tempos... Eu é que tenho andado distraído.
P.P.S Perdi já a esperança de ler estes blogues todos.
P.P.P.S. Porque será que tantos blogues de esquerda (do Blog de Esquerda ao Cruzes Canhoto) apelidam de facho quem não é de esquerda? Tentem pôr menos etiquetas, por favor. A mais das vezes falham totalmente o alvo.
- Liberdade de Expressão
- A Causa foi Modificada
- Portal Claudio Téllez
- Replicar
- O Itermitente
- Fumaças
- Cruzes Canhoto
- Bomba Inteligente
- Contra a Corrente
- De Direita
- Inside Europe: Iberian Notes
- Andrew Sullivan
- EuroPundits
Ligações em breve no topo destas páginas...
P.S. Bom, alguns blogues já existem há uns tempos... Eu é que tenho andado distraído.
P.P.S Perdi já a esperança de ler estes blogues todos.
P.P.P.S. Porque será que tantos blogues de esquerda (do Blog de Esquerda ao Cruzes Canhoto) apelidam de facho quem não é de esquerda? Tentem pôr menos etiquetas, por favor. A mais das vezes falham totalmente o alvo.
2003-04-14
Shock Value Spencer Ackerman escreveu em meados de Março um artigo verdadeiramente assustador. Nem o autor do artigo, nem as suas fontes de informação parecem ter a mais pequena ideia do que signifiquem direitos humanos. Resumidamente, o artigo diz que existem técnicas muito mais eficazes [sic] de interrogatório do que o recurso à violência. Essas técnicas passam pela privação do sono e vão até à ameaça à integridade dos filhos do interrogado. Totalmente inaceitável e um péssimo sinal.
2003-04-13
Oliver Stone e Fidel Castro Oliver Stone entrevistou Fidel Castro e preparou um documentário sobre o ditador. Lourdes Gómez, do El País, entrevistou por sua vez Oliver Stone. O resultado pode ser lido no El País Semanal de hoje. Seguem alguns extractos reveladores:
Oliver Stone não tem uma palavra crítica para com Fidel Castro, limitando-se a manifestar a sua admiração em relação à figura sinistra. Confessa que não é um socialista (será um "liberal" à americana), para logo a seguir dizer que espera que o McDonalds não entre em cuba. E note-se que Oliver Stone estava já ciente das últimas prisões políticas em Cuba:
Tal como Daniel Oliveira fazia há uns dias no Blog de Esquerda, iliba Fidel Castro das detenções de dissidentes, atribuindo a responsabilidade a Bush. Há na esquerda quem não tenha cura. Numa breve descrição do documentário vem esta pérola:
Enternecedor.
Cree que Castro renuncia a la reforma porque sigue anclado en la fase inicial de su revolución?
No está anclado en el pasado y, si acaso, es un pensador liberal en el sentido de que mira hacia delante. Está comprometido con el mundo y le preocupan los problemas del siglo XII. Sabe que hay limitaciones, pero no es un dictador al uso. És la versón latina de un hombre furte, un genuino revolucionario latinoamericano.
¿Qué lección extrajo en sus tres días con Castro?
Le admiro. Es un hombre carismático y un buen actor en el sentido de que interpreta muy bien a su ideología. En ningún momento se mostró a la manera de un 'yo, Fidel Castro'. Nunca percebí señales de egotismo. Sólo le sentí como un líder al servicio de la revolución. Obviamente, no es la caricatura que de él se hace en Estados Unidos, ni el carnicero que muchos denuncian. Nadie con esas características se sentiría tan cómodo y tan a gusto. Fidel Castro es un tipo que aguanta el escrutinio de la cámara y no tiene mala conciencia.
Oliver Stone não tem uma palavra crítica para com Fidel Castro, limitando-se a manifestar a sua admiração em relação à figura sinistra. Confessa que não é um socialista (será um "liberal" à americana), para logo a seguir dizer que espera que o McDonalds não entre em cuba. E note-se que Oliver Stone estava já ciente das últimas prisões políticas em Cuba:
No me extrañaría que Cuba sea el país número cuatro en el eje del mal de Bush. Ya han empezado a crear problemas en la isla, que provocaram la detención de disidentes.
Tal como Daniel Oliveira fazia há uns dias no Blog de Esquerda, iliba Fidel Castro das detenções de dissidentes, atribuindo a responsabilidade a Bush. Há na esquerda quem não tenha cura. Numa breve descrição do documentário vem esta pérola:
Balanceándose en dos mecedoras [Fidel Castro e Oliver Stone] hablan de la dirección de la política internacional: "Es impossible establecer un orden mundial basado en la fuerza... Tengo esperanza de que el pueblo norteamericano sea factor decisivo en la defensa de un mundo mejor."
Enternecedor.
Depois de tantos acertos durante a intervenção no Iraque, tinha de chegar também o maior falhanço da coligação: a manutenção da lei e da ordem. Como foi possível não terem pensado neste problema? Só espero que ponham cobro rapidamente ao caos e que haja poucos danos irreversíveis causados (talvez a esperança seja vã, pois aparentemente saquearam o Museu de Arqueologia de Bagdad).
Igualdade, liberdade e a natureza humana Steven Pinker, no seu "The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature" diz que:
Uma excelente síntese do que separa a esquerda da direita e das razões normalmente aduzidas para a negação da natureza humana e das diferenças inatas entre indivíduos.
A nonblank slate means that a tradeoff between freedom and material equality is inherent to all political systems. The major political philosophies can be defined by how they deal with the tradeof. The Social Darwinist right places no value on equality; the totalitarian left places no value on freedom. The Rawlsian left sacrifices some freedom for equality; the libertarian right sacrifices some equality for freedom. While reasonable people may disagree about the best tradeoff, it is unreasonable to pretend there is no tradeoff. And that in turn means that any discovery of innate differences among individuals is not forbidden knowledge to be suppressed but information that might help us decide on these tradeoffs in an intelligent and humane manner.
Uma excelente síntese do que separa a esquerda da direita e das razões normalmente aduzidas para a negação da natureza humana e das diferenças inatas entre indivíduos.
Os Soldados e a Moralidade da Guerra É interessante fazer o paralelo entre as condições lamentáveis proporcionadas às tropas portuguesas em La Lys, na 1ª Guerra Mundial, e as excelentes condições proporcionadas às tropas americanas no Iraque. As primeiras encontram-se num artigo do Independente desta semana. As segundas numa transcrição que Clara Ferreira Alvas faz no Expresso de ontem de um trabalho de Mary Gahan, da BBC News Online. Para Clara Ferreira Alves, as boas condições dadas aos «boys» [sic] americanos são um escândalo, uma imoralidade, face às condições das suas "vítimas" [sic]. Há aqui algumas questões mal esclarecidas. A primeira é que não se percebe quem são as "vítimas". Serão os soldados iraquianos ou referir-se-á à população? Caso sejam os primeiros, o termo certo é "inimigos". Caso sejam os segundos, julgo que Clara Ferreira Alves se equivocou. Em vez de vítimas das tropas aliadas, que as houve (menos do que se receava, mais do que se desejava), dever-se-ia referir, talvez, às muitíssimo mais numerosas vítimas do Sr. Saddam Hussein. A segunda questão é que aparentemente Clara Ferreira Alves, como tantos outros comentadores, considera imoral um exército tratar bem e proteger as suas tropas. Se assim for, julgo que Clara Ferreira Alves deveria oferecer os seus serviços ao exército americano, pois terão certamente muito a aprender com a nossa experiência em La Lys.
2003-04-12
Cobardia governativa Compreendo a necessidade táctica de fazer algumas reformas gradualmente. Mas há limites. A reforma do imposto da património, com a diminução da Sisa em vez da sua pura e simples substituição pelo IVA, a justiça fiscal e, agora, de novo a questão das propinas, demonstram-no.
Vários estudos têm mostrado que o perfil socio-económico dos estudantes do ensino superior é muito diferente do perfil da população em geral. Por outro lado, se é verdade que a educação é um factor fundamental de progresso, também é verdade que, pelo menos numa primeira fase, é o ensino não-superior que é prioritário. Estes factos fazem com que a virtual gratuitidade do ensino superior seja uma enorme injustiça, financiando quem não precisa para não financianciar apropriadamente quem precisa realmente. Mas não é apenas por isso que a gratuitidade é má, é-o também pelas distorções que introduz no mercado do ensino (sim, é um mercado), pela irresponsabilidade que induz em alguns docentes e discentes e pelo incentivo à retenção escolar a que conduz na prática.
Há já anos que defendo, como muitos outros, um modelo radicalmente diferente de financiamento, em que universidades públicas e privadas fiquem em pé de igualdade, em que o estado tenha como função principal garantir a igualdade de oportunidades, a mobilidade social e a possibilidade de escolhas informadas por parte dos candidatos a estudantes. Defendo que as propinas sejam fixadas pelas instituições e que estas não recebam qualquer financiamente por aluno, mas que se financiem de forma significativa através das propinas (sem prejuizo de poderem livremente atribuir isenções de propinas livremente, por mérito ou necessidade dos estudantes), para além fornecerem serviços remunerados à sociedade, de se financiarem através de projectos, etc. Defendo que o estado financie directamente o aluno, levando em conta o seu mérito, o seu aproveitamento, o tipo de curso frequentado e as suas necessidades económicas. Defendo que não se financiem de igual modo filhos de quadros superiores e estudantes verdadeiramente necessitados, que o sistema traga consigo um mínimo de justiça e racionalidade.
Mas, para além de garantir a mobilidade social e a igualdade de oportunidades através de uma intervenção financeira, julgo que o estado, e em particular o ministério que tutela o ensino superior, deveria promover os estudos de empregabilidade e progressão na carreira dos licenciados em cada curso, bem como promover as avaliações da sua qualidade intrínseca. Essas avaliações deveriam ser promovidas não contra as ordens profissionais, mas sim com elas, tentando apenas garantir a independência das avaliações realizadas. De facto, o estado não pode avaliar imparcialmente as universidades que detém. Só através da publicação destes estudos e avaliações os candidatos ao ensino superior poderão fazer uma escolha informada, passando as universidades a fixar as suas vagas de acordo com a procura existente e evitando-se a fixação dos numerus clausus como um dos poucos resquícios de economia de direcção central e planos quinquenais existentes na nossa sociedade.
Pode-se talvez dizer que as reformas da última década vão neste sentido e que a proposta recente do Ministério da Ciência e Ensino Superior de permitir às instituições fixar as propinas entre um e dois salários mínimos nacionais o demonstram. Não o creio. São reformas de uma timidez confrangedora. À velocidade a que estas reformas ocorrem teremos de esperar ainda várias décadas por efeitos visíveis.
Vários estudos têm mostrado que o perfil socio-económico dos estudantes do ensino superior é muito diferente do perfil da população em geral. Por outro lado, se é verdade que a educação é um factor fundamental de progresso, também é verdade que, pelo menos numa primeira fase, é o ensino não-superior que é prioritário. Estes factos fazem com que a virtual gratuitidade do ensino superior seja uma enorme injustiça, financiando quem não precisa para não financianciar apropriadamente quem precisa realmente. Mas não é apenas por isso que a gratuitidade é má, é-o também pelas distorções que introduz no mercado do ensino (sim, é um mercado), pela irresponsabilidade que induz em alguns docentes e discentes e pelo incentivo à retenção escolar a que conduz na prática.
Há já anos que defendo, como muitos outros, um modelo radicalmente diferente de financiamento, em que universidades públicas e privadas fiquem em pé de igualdade, em que o estado tenha como função principal garantir a igualdade de oportunidades, a mobilidade social e a possibilidade de escolhas informadas por parte dos candidatos a estudantes. Defendo que as propinas sejam fixadas pelas instituições e que estas não recebam qualquer financiamente por aluno, mas que se financiem de forma significativa através das propinas (sem prejuizo de poderem livremente atribuir isenções de propinas livremente, por mérito ou necessidade dos estudantes), para além fornecerem serviços remunerados à sociedade, de se financiarem através de projectos, etc. Defendo que o estado financie directamente o aluno, levando em conta o seu mérito, o seu aproveitamento, o tipo de curso frequentado e as suas necessidades económicas. Defendo que não se financiem de igual modo filhos de quadros superiores e estudantes verdadeiramente necessitados, que o sistema traga consigo um mínimo de justiça e racionalidade.
Mas, para além de garantir a mobilidade social e a igualdade de oportunidades através de uma intervenção financeira, julgo que o estado, e em particular o ministério que tutela o ensino superior, deveria promover os estudos de empregabilidade e progressão na carreira dos licenciados em cada curso, bem como promover as avaliações da sua qualidade intrínseca. Essas avaliações deveriam ser promovidas não contra as ordens profissionais, mas sim com elas, tentando apenas garantir a independência das avaliações realizadas. De facto, o estado não pode avaliar imparcialmente as universidades que detém. Só através da publicação destes estudos e avaliações os candidatos ao ensino superior poderão fazer uma escolha informada, passando as universidades a fixar as suas vagas de acordo com a procura existente e evitando-se a fixação dos numerus clausus como um dos poucos resquícios de economia de direcção central e planos quinquenais existentes na nossa sociedade.
Pode-se talvez dizer que as reformas da última década vão neste sentido e que a proposta recente do Ministério da Ciência e Ensino Superior de permitir às instituições fixar as propinas entre um e dois salários mínimos nacionais o demonstram. Não o creio. São reformas de uma timidez confrangedora. À velocidade a que estas reformas ocorrem teremos de esperar ainda várias décadas por efeitos visíveis.
2003-04-11
Correndo o risco de ser repetitivo, não posso deixar de recomendar o último Diário de Guerra de Pacheco Pereira. É bom ler quem sabe pensar.
Muito divertido o artigo de Domingos Lopes, vice-presidente do Conselho Português para a Paz e a Cooperação, no Público. Quando terá sido escrito? O texto é igual a tantos outros, mas a sua publicação hoje, quando muitos Iraquianos festejam nas ruas e quando na própria capa do Público se vê a estátua derrubada de Saddam Hussein, é de um anacronismo hilariante:
Não podem, de facto.
Os iraquianos, reprimidos pelo regime de Saddam Hussein, não hesitaram em adiar o combate pela sua libertação e fazer frente ao invasor. Acaso haverá algo de anormal ou misterioso neste facto? Ou não será antes perverso e cínico dar a entender que o mal está na resistência dos iraquianos? Os dirigentes dos EUA sonharam, divulgaram e venderam que os iraquianos iriam aplaudir os soldados americanos. Acaso podem agora dar o braço a torcer?
Não podem, de facto.
Caramba! Fátima Bonifácio escreve no Público o artigo mais desencantado e certeiro, mas também cínico, que li na imprensa portuguesa sobre a guerra no Iraque.
2003-04-10
Pronto. Desisto. Tinha decido não revelar quem são os colaboradores deste miserável Blog. Mudei de ideias.
Somos dois, por enquanto. O Rui Lopes, assistente no ISCTE e doutorando em Lancaster, UK, vai blogando e discordando de mim, que sou o Manuel Menezes de Sequeira, professor auxiliar do ISCTE. Somos ambos engenheiros electrotécnicos.
Podem-nos contactar em Picuinhices@yahoo.com.br.
Somos dois, por enquanto. O Rui Lopes, assistente no ISCTE e doutorando em Lancaster, UK, vai blogando e discordando de mim, que sou o Manuel Menezes de Sequeira, professor auxiliar do ISCTE. Somos ambos engenheiros electrotécnicos.
Podem-nos contactar em Picuinhices@yahoo.com.br.
Um elogio a Blair No Expresso OnLine, José António Lima faz um elogio rasgado e bem merecido a Tony Blair ao mesmo tempo que zurze em Mário Soares. Dois pequenos extractos:
Agora, enquanto o eixo franco-alemão se entretinha a congeminar os seus projectos de hegemonia europeia e de isolamento dos EUA, com Chirac a insultar de forma arrogante e insolente os países de Leste candidatos à integração na UE, Tony Blair voltou a mostrar as qualidades de um líder político lúcido e resoluto. Que, sem abdicar nas suas intervenções do papel central da ONU ou da importância de um Estado palestiniano, sabe estar do lado dos seus aliados, do lado da democracia contra o totalitarismo, do lado da liberdade contra a opressão, sem equidistâncias ambíguas ou neutralidades hipócritas.
É este político que Mário Soares continua a desmerecer publicamente, preferindo elogiar as ambiguidades, os receios e as hesitações de Chirac e Schroeder. Depois de não lhe reconhecer quaisquer «qualidades políticas especiais», de ironizar com o seu «sorriso de plástico» e de chegar ao ponto de o considerar «um pouco oportunista», Mário Soares comprazia-se, por altura da Carta dos Oito, com a contestação no Reino Unido: «Bem, o senhor Blair está aflito!» É demasiada cegueira política, mesmo sabendo que Soares sempre fez de Blair um dos seus inimigos de estimação e que se tornou, ultimamente, a principal vedeta dos comícios pacifistas do PCP e do Bloco de Esquerda.
A destilação das opiniões estúpidas sobre os EUA e a guerra O artigo de Arnaldo Jabor no Estado de S. Paulo é a destilação das asneiras que vêm sendo ditas acerca dos EUA e da guerra. A não perder. Uma verdadeira antologia.
As Obscenidades de Miguel Portas No DN de hoje, Miguel Portas diz:
Repare-se bem: "o que foi um mais que evidente sinal de aviso dos norte-americanos à comunicação social «unilateral»". Assim mesmo. Miguel Portas acredita que os tiros contra o Hotel Palestina resultam de uma política americana contra os média independentes. Parece impossível, mas é verdade. Não põe nenhuma outra hipótese: que pode ter sido um erro ou uma estupidez de um soldado, por exemplo. Que pode ter sido um acto irresponsável e estúpido, mas individual, de um militar. Sim, é verdade: em 250 000 militares há, com toda a certeza, gente incompetente, gente irresponsável, gente estúpida. Há, com certeza, gente que simplesmente se engana, que erra, como todos nós. Aos comandos de um tanque, os erros são trágicos, mas não deixam de ser erros. As atitudes individuais estúpidas e irresponsáveis também. Os erros são censuráveis? Sim, claro. As irresponsabilidades e a estupidez individual são censuráveis? Absolutamente! Mas daí a dar o passo seguinte e afirmar que ouve intenção de matar jornalistas e que essa intenção resulta de uma política dos EUA de perseguição aos média independentes é, simplesmente, obsceno.
Com 11 mortes no activo, a comunicação social é duplamente vítima da guerra. Esperar-se-ia dos responsáveis jornalísticos clareza e firmeza. Mas ainda ontem José Manuel Fernandes conseguiu o milagre de elogiar a profissão sem condenar o que foi um mais que evidente sinal de aviso dos norte-americanos à comunicação social «unilateral». Há, aliás, nesta expressão uma indecorosa obscenidade: quem ataca unilateralmente um país, responsabiliza «unilateralidade» jornalística pelas mortes de jornalistas. Só faltou dizer que os verdadeiros culpados do fogo sobre o hotel Palestina eram os iraquianos.
Repare-se bem: "o que foi um mais que evidente sinal de aviso dos norte-americanos à comunicação social «unilateral»". Assim mesmo. Miguel Portas acredita que os tiros contra o Hotel Palestina resultam de uma política americana contra os média independentes. Parece impossível, mas é verdade. Não põe nenhuma outra hipótese: que pode ter sido um erro ou uma estupidez de um soldado, por exemplo. Que pode ter sido um acto irresponsável e estúpido, mas individual, de um militar. Sim, é verdade: em 250 000 militares há, com toda a certeza, gente incompetente, gente irresponsável, gente estúpida. Há, com certeza, gente que simplesmente se engana, que erra, como todos nós. Aos comandos de um tanque, os erros são trágicos, mas não deixam de ser erros. As atitudes individuais estúpidas e irresponsáveis também. Os erros são censuráveis? Sim, claro. As irresponsabilidades e a estupidez individual são censuráveis? Absolutamente! Mas daí a dar o passo seguinte e afirmar que ouve intenção de matar jornalistas e que essa intenção resulta de uma política dos EUA de perseguição aos média independentes é, simplesmente, obsceno.
Umas novas nações unidas? Sim, mas "de resto, a aplicação do direito internacional ainda pouco mais é do que um ajuste de conveniências variáveis. Só poderia ser tomada a sério se feita por organizações ou estruturas de que apenas sejam membros com direito a voto os Estados de direito", diz Vasco Graça Moura no DN de hoje. Não podia concordar mais.
Hoje, no Público, Eduardo Prado Coelho esteve muito bem. Condenação inequívoca de Fidel Castro, sem qualquer referência às supostas culpas dos EUA pela situação cubana. Excelente.
2003-04-09
O Blog de Esquerda tirou o champanhe do frigorífico. Junto-me a eles. Brindo à democracia no Iraque. O Blog de Esquerda esteve bem nesta, ao contrário de alguém que hoje, no ISCTE, frente às imagens na televisão, dizia que preferia que Saddam ganhasse a guerra, pois "Bush é pior que Hitler". É bom ver que no Blog de Esquerda, apesar de alguns lapsos (ver abaixo...), se sabe pensar.
O pensador chegou No Blog de Esquerda, há um novo pensador. Profundo. Veja-se:
Bem no fundo, portanto, os EUA até são responsáveis pelas prisões do ditador de estimação da esquerda. Mau começo para Daniel Oliveira.
Sete opositores ao regime cubano foram presos por delito de opinião. Castro aproveitou assim um sentimento de revolta em relação aos Estados Unidos para fazer sentir a sua mão pesada sobre jornalistas, intelectuais e activistas pelos direitos humanos. Enquanto o bloqueio americano durar, Fidel está seguro. O bloqueio une os cubanos, deixando sempre para mais tarde a oposição à ditadura. Com os mafiosos de Miami à espreita, parecem preferir o menos mau. No meio, democratas que, mantendo-se em Cuba, não desistem de lutar pela liberdade sem pedir autorização aos EUA, são as vítimas do costume.
Daniel Oliveira
Bem no fundo, portanto, os EUA até são responsáveis pelas prisões do ditador de estimação da esquerda. Mau começo para Daniel Oliveira.
Uma conversa
Manuel: Rui, estou feliz! Viste as cenas no Iraque?
Rui: Como te dizia acerca do Sr. que tendo os filhos mortos pelo Saddam abençoava os ingleses que o iam matar, não surpreende. Compreendo que tenhamos alguma razão para hoje ser um dia melhor que todos os outros, cada ícone de ditador, cada muro de vergonha que cai é sempre uma vitoria!
Manuel: Pois não, mas põe-me feliz na mesma. Agora EUA e UK têm a maior das responsabilidades. Levar o Iraque rapidamente por bom caminho. É um 25 de Abril Iraquiano, de alguma forma.
Rui: Exactamente!!!!! Eu vejo o dia de hoje como um tomar aguada entre o sangue e o suor de ontem e esperamos o muito suor que ainda está à espera.
Manuel: Espero que tragam polícia da ONU rapidamente. Da Jordânia, do Paquistão. Espero que a ONU tenha um papel não humilhante. Espero que haja eleições rapidamente. Espero que haja quadros à altura.
Rui: Exacto as vinganças e as pilhagens são uma coisa que agora tem de ser evitado. Ser feito por países "islâmicos" só tem vantagens. É uma oportunidade para a ONU - digamos - corrigir a mão e a coligação mostrar a pureza das suas intenções.
Manuel: Espero que os "falcões" e a "direita sinistra" americana tenham razão: que seja um dominó, que a democracia ganhe raizes, que se propague, que invada os países vizinhos.
Rui: É muitíssimo difícil haver quadros - pelo menos que queiram regressar - num país com 24 anos de ditadura feroz.
Manuel: Ouvi dois jovens iraquianos na Jordânia, entusiasmados com a hipótese de levar o Iraque pelo bom caminho. Vi os exilados iraquianos nos EUA manifestarem-se nas ruas.
Rui: Tenho medo que o Iraque, na pressa de o entregar a "líderes" locais, se transforme numa Arábia Saudita.
Manuel: É verdade. Há muitos riscos. Mas, por mal que corra, nunca será pior para os iraquianos que os últimos 30 anos.
Rui: Podemos estar a assistir a um momento capital para o Médio Oriente, para o melhor e para o pior. Pior é quase impossível. O meu medo é com o resto do Medio Oriente. Se os piores medos se concretizarem, isto é se aquilo se transformar numa Arábia Saudita, a democratização do Médio Oriente fica adiada para as calendas gregas.
Manuel: Nas últimas semanas fez-se história. Pode ser que me engane, mas julgo que o mundo melhorou.
Manuel: Rui, estou feliz! Viste as cenas no Iraque?
Rui: Como te dizia acerca do Sr. que tendo os filhos mortos pelo Saddam abençoava os ingleses que o iam matar, não surpreende. Compreendo que tenhamos alguma razão para hoje ser um dia melhor que todos os outros, cada ícone de ditador, cada muro de vergonha que cai é sempre uma vitoria!
Manuel: Pois não, mas põe-me feliz na mesma. Agora EUA e UK têm a maior das responsabilidades. Levar o Iraque rapidamente por bom caminho. É um 25 de Abril Iraquiano, de alguma forma.
Rui: Exactamente!!!!! Eu vejo o dia de hoje como um tomar aguada entre o sangue e o suor de ontem e esperamos o muito suor que ainda está à espera.
Manuel: Espero que tragam polícia da ONU rapidamente. Da Jordânia, do Paquistão. Espero que a ONU tenha um papel não humilhante. Espero que haja eleições rapidamente. Espero que haja quadros à altura.
Rui: Exacto as vinganças e as pilhagens são uma coisa que agora tem de ser evitado. Ser feito por países "islâmicos" só tem vantagens. É uma oportunidade para a ONU - digamos - corrigir a mão e a coligação mostrar a pureza das suas intenções.
Manuel: Espero que os "falcões" e a "direita sinistra" americana tenham razão: que seja um dominó, que a democracia ganhe raizes, que se propague, que invada os países vizinhos.
Rui: É muitíssimo difícil haver quadros - pelo menos que queiram regressar - num país com 24 anos de ditadura feroz.
Manuel: Ouvi dois jovens iraquianos na Jordânia, entusiasmados com a hipótese de levar o Iraque pelo bom caminho. Vi os exilados iraquianos nos EUA manifestarem-se nas ruas.
Rui: Tenho medo que o Iraque, na pressa de o entregar a "líderes" locais, se transforme numa Arábia Saudita.
Manuel: É verdade. Há muitos riscos. Mas, por mal que corra, nunca será pior para os iraquianos que os últimos 30 anos.
Rui: Podemos estar a assistir a um momento capital para o Médio Oriente, para o melhor e para o pior. Pior é quase impossível. O meu medo é com o resto do Medio Oriente. Se os piores medos se concretizarem, isto é se aquilo se transformar numa Arábia Saudita, a democratização do Médio Oriente fica adiada para as calendas gregas.
Manuel: Nas últimas semanas fez-se história. Pode ser que me engane, mas julgo que o mundo melhorou.
Estou feliz! O regime de Saddam afunda-se. A guerra aproxima-se do fim. Os iraquianos estão felizes, e eu por eles. Viva a liberdade e a democracia! Ah, defensores de Saddam, gente que compara Bush a Hitler, envergonhem-se. Vejam a alegria dos exilados iraquianos. Vejam e revejam o povo iraquiano a apear estátuas do grotesco ditador...
2003-04-04
Análise lúcida de Charles Krauthammer no Washington Post, sobre as espectativas de uma guerra rápida:
The point of allowing expectations to remain unrealistically high was to encourage waverers in Hussein's entourage to turn against the regime very early and end the war even before it began. It was a good idea. It did not pan out. But given the possible benefits, it was certainly worth a try.
The regime did not collapse overnight. Hence Plan B, an adapted version of the original war plan. It involves real fighting and real losses. Plan A, in contrast, while always plausible, was a hope for the miraculous. It was a kind of anti-war plan, as it would not have required any real battles at all.
The miracle having not happened, we are now fighting a conventional war. And winning -- thanks to the Franks plan and its flexibility, and despite the carping of those who, in conflict after conflict, see Vietnam in anything short of immediate immaculate victory.
De acordo com o Público de hoje, "a estação de televisão Al-Jazira, com sede no Qatar, anunciou a suspensão da sua cobertura da guerra no Iraque, em protesto contra uma decisão do regime Iraquiano mandar sair um dos seus enviados em Bagdad, e impedido o outro de fazer reportagens na capital". Na passada semana Miguel Sousa Tavares dizia que "se as equipas da Al-Jazira forem capturadas, ficaremos apenas com a informação do "nosso lado". É verdade, mas parece que quem "capturou" a Al-Jazira foi o regime de Bagdad. A aversão do regime à liberdade de expressão excede a sua simpatia por uma televisão que claramente não apoia a guerra no Iraque.
2003-04-02
Os Dias do Engano No Público de hoje, Luís Fernandes comunica ao mundo uma sua recente descoberta: é possível não falar verdade sem mentir. Luís Fernandes, como Sokal demonstrou tão bem, confunde "verdade" com "crença". A verdade é absoluta. A crença é relativa. A crença refere-se à nossa convicção acerca da veracidade de uma dada afirmação. É, por isso, perfeitamente possível não falar verdade e no entanto não mentir. Basta que a nossa crença... não corresponda à verdade. Acontece. Acontece deste o início dos tempos.
Acerca da morte de civis num mercado em Bagdad, Vital Moreira escreve no Público que:
Será possível que Vital Moreira creia mesmo que os EUA atacaram propositadamente civis em Bagdad? Sem falar nas questões morais, pois trata-se do tipo de pessoa que acredita piamente que a administração Bush é capaz disso e de muito mais, não é por demais evidente que este tipo de acontecimento não traz qualquer vantagem à coligação contra Saddam? Acção destinada a infundir terror na população civil? Se a coligação desde o início que tenta ter a população iraquiana do seu lado... Enfim, argumentos absurdos e dum profundo cinismo.
É difícil acreditar que se tenha tratado de simples "efeitos colaterais". Dada a sofisticação bélica americana, dois erros na mesma semana sobre o mesmo tipo de alvos é de mais. Em ambos os casos os ataques tiveram lugar de dia, na hora de maior ajuntamento. Não havia alvos militares por perto. Sobretudo as bombas utilizadas eram das que servem para matar muitas pessoas e não para destruir edifícios. O mais provável portanto é que se tenha tratado de uma operação propositada, destinada a infundir o terror na população civil, a fazê-la fugir da capital e a quebrar a sua resistência moral. Mesmo sem intenção, o erro é criminoso.
Será possível que Vital Moreira creia mesmo que os EUA atacaram propositadamente civis em Bagdad? Sem falar nas questões morais, pois trata-se do tipo de pessoa que acredita piamente que a administração Bush é capaz disso e de muito mais, não é por demais evidente que este tipo de acontecimento não traz qualquer vantagem à coligação contra Saddam? Acção destinada a infundir terror na população civil? Se a coligação desde o início que tenta ter a população iraquiana do seu lado... Enfim, argumentos absurdos e dum profundo cinismo.
2003-04-01
Gary Kasparov escreve sobre a guerra no Iraque no Público. O artigo é razoavelmente interessante, mas sobretudo é um surpresa, vindo do campeão mundial de xadrez.
O "olho negro" de José Vitor Malheiros No Públic de hoje, José Vitor Malheiros escreve:
A citação é grande, mas a imoralidade do artigo também: tinha de ser aqui reproduzida para ficar nos registos da infâmia. É a primeira pessoa que diz claramente que deseja mortes nesta guerra. Não as suporta: deseja-as. Alguns soldados americanos mortos (simpaticamente excluiu britânicos e australianos) para que não se "[abra] a porta a maiores fanatismos, a novas loucuras de conquista e de conversão dos infiéis". Lamentável e profundamente estúpido.
Mas a pergunta continua em cima da mesa e vou jogar o jogo. Quem quero que ganhe? Os EUA. Por quê? Porque a alternativa seria a manutenção no poder de Saddam.
Mas seria imoral que os EUA ganhassem esta guerra ilegítima e desnecessária, venal e fanática, unilateral e arrogante, sem custos, como um piquenique. Porque isso abriria a porta a maiores fanatismos, a novas loucuras de conquista e de conversão dos infiéis, novas guerras, legitimadas apenas pela força, num desrespeito crescente pelo direito, pela comunidade internacional.
Será útil ao mundo que os EUA ganhem, mas que aprendam uma lição, que ganhem de uma forma que lhes saiba a derrota, que os faça perceber que a guerra é uma má escolha e deve ser a última opção, que paguem o tributo da guerra. Pelo menos com um olho negro. É infeliz que o "olho negro", neste caso, represente vidas de soldados (seria melhor que o custo fosse financeiro, em prestígio, em tempo perdido). Mas os soldados não são mais inocentes que os inocentes que morrem do outro lado.
A citação é grande, mas a imoralidade do artigo também: tinha de ser aqui reproduzida para ficar nos registos da infâmia. É a primeira pessoa que diz claramente que deseja mortes nesta guerra. Não as suporta: deseja-as. Alguns soldados americanos mortos (simpaticamente excluiu britânicos e australianos) para que não se "[abra] a porta a maiores fanatismos, a novas loucuras de conquista e de conversão dos infiéis". Lamentável e profundamente estúpido.
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