2005-01-11

Prioridades e recomendações

A ONU está a trabalhar intensamente na ajuda às vítimas do maremoto asiático, fazendo o que melhor sabe: organizando conferências para "debater" o "problema" da ajuda humanitária. Claro que o "problema" da ONU não é o mesmo que o dos asiáticos: a ONU é o maior dos "necessitados" e a necessidade da ONU é de ordem diferente.

A ONU "necessita" urgentemente de garantir o monopólio da administração do dinheiro prometido a título de ajuda pelos governos de diversos estados: são 6 biliões de dólares. Quais as credenciais da ONU para se habilitar a gerir esta fortuna colossal, directamente ou através das agências que dela dependem?

Primeiro, a extensa e complexa rede de corrupção que a ONU montou ou deixou desenvolver em torno do programa "humanitário" Oil for Food. Há dois dias soube-se que, dos 58 relatórios preparados pelos auditores resultaram apenas 400 páginas de "conclusões". Fraude, corrupção, suborno? Nada: só foram identificados "problemas" e "lapsos operacionais". Parece que os auditores consideraram de especial gravidade a tendência que os empregados da missão da ONU no Iraque tinham para perder equipamento caro, por "esquecimento". Até a notícia on-line do New York Times tem o "detalhe" de incluir em posição central de destaque um anúncio da... UNICEF, pedindo "contribuições" para proteger "crianças em risco". Duas palavras bastam: branqueamento sórdido.

Na tentativa de branqueamento da corrupção instalada na ONU, Stephane Dujarric, um porta-voz das Nações Unidas, garante que as auditorias mostraram que "this [Oil for Food program] was a highly audited and supervised program."

Curiosamente, ao reclamar o monopólio da administração do dinheiro a doar (espera-se) pelos estados que anunciaram essa disposição, a ONU está consciente que a sua reputação não a recomenda para a tarefa. Mas tem uma solução: auditoria internacional. Anunciou por isso a contratação da PriceWaterhouseCoopers para investigar alegações de fraude, desperdício ou abuso (ver notícia da BBC).

É verdadeiramente extraordinário: as "intensas" auditorias que, durante e após o encerramento do programa Oil for Food não foram capazes de descobrir o óbvio são agora invocadas pela ONU como "factor de credibilidade"; uma espécie de seguro contra desmandos futuros.

Talvez o problema fosse da qualidade das auditorias. Sendo assim, a PriceWaterhouseCoopers é uma escolha acima de qualquer suspeita. Mas certamente que uma das melhores consultoras do mundo não trabalhará gratuitamente. Se a gestão destes dinheiros não for cometida à ONU, o custo de auditoria não terá de ser suportado, pelo que se pode e deve concluir que é um custo exclusivamente decorrente da reputação de corrupção da ONU. Se a auditoria internacional é necessária a título de "seguro" é porque a gestão da ONU representa um risco.

Para além da corrupção, será que os dirigentes da ONU também acham que isto (que considero tão repugnante que evito mencionar explicitamente o assunto nesta página) também a recomenda para gerir mais alguma coisa?

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