2005-01-08

Evil Chucky

Vi Carlos Carvalhas chegar à liderança comunista, determinado e cheio de “consciência de classe”. Aos poucos e poucos foi envelhecendo, numa irreversível amarelidão alquebrada. Gasto e adoentado, trocaram-no por Jerónimo de Sousa, a solução que o aparelho comunista extraiu do baú das crisálidas gerontocráticas armazenado na Soeiro Pereira Gomes.

Mas Jerónimo de Sousa é apenas uma versão empobrecida e proletária da múmia de Bentham. Esse, malgré tout, ainda era utilitarista, o que para a esquerda, eternamente defensora de governos de “utopia” ou de “engenharia social”, sempre tinha algum préstimo.

Agora Carvalhas nem sequer consta das listas de candidatos a deputados comunistas. O país fica prejudicado. Nos anos a seguir à revolução de Abril, as bancadas da Assembleia pareciam um mural de Diego Rivera, uma mistura quente de cores, loucura e irresponsabilidade. Depois veio a “normalização” democrática e as cores do mural foram ficando desmaiadas. Agora até a bancada comunista é cinzenta, pequenina e chinesa.

Confesso que com o passar dos anos me afeiçoei ao “Cassete Carvalhas”. Quem em vez dele se erguerá agora daquela bancada para de dedo em riste, sibilinamente ciciante, nos debitar a cartilha marxista-leninista? Aquela entoação foi adquirida à custa de muitos anos de exercício. Exigiu esforço, persistência e uma fé inabalável. Sem a toada de lenga-lenga, que é a virtude de Carvalhas, destapam-se os parafusos e engrenagens do horroroso totalitarismo comunista. O débito ritmado das “verdades e certezas históricas” produzia um efeito reconfortante; tinha um som de coisa segura, com que se podia contar porque estava ali, sempre tinha estado e podíamos estar certos de que sempre estaria. Já não está.

É claro que ainda há a Dra. Odete Santos. Desde que discretamente medicada e adequadamente abastecida de tintas para o cabelo tem um efeito portentoso sobre o estado de espírito dos portugueses. Não é de desprezar mas sabe a prémio de consolação.

Como é que se chegou a esta tristeza? Desde há muito que desconfio que Carvalhas foi vítima de uma sinistra urdidura, montada por aquele Eusébiozinho encerado, cujo nome não me recordo, mas que aparecia em todas as reportagens televisivas a espreitar por detrás do ombro do “chefe”, de sorriso melífluo e muito aprumado. Carvalhas definhava e ele sempre impassível, sempre a sorrir.

Para mim, foi ele que deu cabo do Cassete.

Sem comentários: