C'est une victoire pour le peuple irakien, et c'est une première marche importante, qui était indispensable pour la démocratie et pour le processus politique que nous souhaitons et auquel nous travaillons - je parle de la communauté internationale - depuis des mois."Nós" a "comunidade internacional". Incluindo, claro, a França, que contribuiu fortemente para as eleições no Iraque, como bem sabemos...
2005-01-31
A gargalhada
Acerca das eleições no Iraque, diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Michel Barnier:
2005-01-30
Temer ou esperar?
Para a TSF, nas eleições no Iraque não ocorreu o grau de violência esperado. Para a BBC, não ocorreu o grau de violência temido. A escolha inconsciente de uma palavra tão ambígua como esperada é reveladora da parcialidade da TSF.
Avidez de sangue
Na TSF já se ouvem os repórteres, ávidos de sangue, anunciando com satisfação mal disfarçada os atentados que vão ocorrendo no dia de eleições no Iraque.
A destruição lenta de Portugal
Autor? O Estado, claro. A costa de Cascais e do Estoril está a ser "requalificada". Detestamos a desordem das rochas, que ali estão, ao acaso, há milénios. Não suportamos as plantas que crescem onde lhes apetece, temos de "desmatar". Precisamos de betonar, "consolidar" arribas, permitir à população "usufruir" os belíssimos paredões que se constroem há décadas, e que se continuarão a construir por esse país fora.
Há uns tempos, numa assembleia de freguesia em que se discutia um orçamento que incluía pagar a um professor de Tai Chi para dar as suas aulas aos fregueses que o desejassem, pagar ateliers de pintura e outras "artes" a quem as poderia pagar do seu próprio bolso, pagar "acções praia-campo" a que qualquer freguês, rico ou pobre, pode mandar gratuitamente os seus filhos, financiar um deficitário posto médico onde o executivo e membros da assembleia têm direito a consultas gratuitas ("é necessário compensar-nos de alguma forma, que estamos aqui a trabalhar pela população, não é?", "afinal, não é isto que se faz em todo o país?", "o senhor é um idealista", "repare, isso é um mesquinhice, já viu o peso reduzido que isso tem sobre o orçamento?"), um membro da assembleia que, na oposição, se preparava para uma confortável abstenção, explicou-me que tudo isto era natural, pois as freguesias têm pouco poder e têm de descobrir coisas para fazer, em que possam gastar o dinheiro que têm à sua disposição.
O trágico é que o mesmo se passa, em escalas sucessivamente maiores, com os municípios e com o próprio governo. E assim vamos, com aulas de Tai Chi e TGV, passando por "requalificações do litoral", "mobiliário urbano" e "enchimento artificial da praias", aumentando o poder do estado, tornando-nos crianças a quem oferecem uns parques de diversões (que pena termos perdido a America's Cup... mas sempre ganhámos o Campeonato Mundial de Vela*!), habituando-nos a pedir sempre mais e mais, enquando se destrói um país e se quebra a espinha a um povo, lentamente.
* "Investimento" do Estado? 16 milhões de euros...
Há uns tempos, numa assembleia de freguesia em que se discutia um orçamento que incluía pagar a um professor de Tai Chi para dar as suas aulas aos fregueses que o desejassem, pagar ateliers de pintura e outras "artes" a quem as poderia pagar do seu próprio bolso, pagar "acções praia-campo" a que qualquer freguês, rico ou pobre, pode mandar gratuitamente os seus filhos, financiar um deficitário posto médico onde o executivo e membros da assembleia têm direito a consultas gratuitas ("é necessário compensar-nos de alguma forma, que estamos aqui a trabalhar pela população, não é?", "afinal, não é isto que se faz em todo o país?", "o senhor é um idealista", "repare, isso é um mesquinhice, já viu o peso reduzido que isso tem sobre o orçamento?"), um membro da assembleia que, na oposição, se preparava para uma confortável abstenção, explicou-me que tudo isto era natural, pois as freguesias têm pouco poder e têm de descobrir coisas para fazer, em que possam gastar o dinheiro que têm à sua disposição.
O trágico é que o mesmo se passa, em escalas sucessivamente maiores, com os municípios e com o próprio governo. E assim vamos, com aulas de Tai Chi e TGV, passando por "requalificações do litoral", "mobiliário urbano" e "enchimento artificial da praias", aumentando o poder do estado, tornando-nos crianças a quem oferecem uns parques de diversões (que pena termos perdido a America's Cup... mas sempre ganhámos o Campeonato Mundial de Vela*!), habituando-nos a pedir sempre mais e mais, enquando se destrói um país e se quebra a espinha a um povo, lentamente.
* "Investimento" do Estado? 16 milhões de euros...
2005-01-28
2005-01-27
Humor em Política
O Wall Street Jornal Europe publicou ontem uma notícia muito divertida. O jornal dá conta de uma brutal injecção de capital — cerca de 500 milhões de dólares — directamente dos cofres do Governo da República Francesa para a conta bancária de uma empresa privada, com o estimável propósito de a salvar da falência certa.
Não, não se trata da ELF, nem da Air France, nem da Renault, nem de nenhuma das ilustres bandeiras da economia francesa. Trata-se da Euro Disney SCA. Pois, essa mesmo: a subsidiária europeia da gigante americana Walt Disney Co.
E assim temos o campeão europeu do anti-americanismo a dar uma mãozinha (uma senhora mãozinha, diga-se de passagem) a um estandarte da cultura burguesa e consumista—provavelmente o maior dos estandartes, já que se baseia numa combinação inebriante de Hollywood e fast-food. É ou não é divertido?
Eu acho que é. Mas, para variar, o MNE francês tem uma opinião diferente. Para ele tudo isto é muito sério: "Nós estamos reconhecidos ao povo americano e temos muito respeito pela sua cultura."
Claro, claro... Pela mesmíssima cultura que há bem pouco tempo, como bem lembra o op-ed do WSJE, mereceu do Presidente da República Francesa o epíteto: "Desastre ecológico". Divertido, não é?
Bom, mas agora a sério: convém não perder de vista a crise do emprego em França, e só o parque de diversões da Disney (verdadeiro "Chernobyl cultural", no entender da elite cultural francesa) é responsável por 43.000 postos de trabalho.
p.s.: E andamos nós surpreendidos com as declarações dos humoristas portugueses?
Não, não se trata da ELF, nem da Air France, nem da Renault, nem de nenhuma das ilustres bandeiras da economia francesa. Trata-se da Euro Disney SCA. Pois, essa mesmo: a subsidiária europeia da gigante americana Walt Disney Co.
E assim temos o campeão europeu do anti-americanismo a dar uma mãozinha (uma senhora mãozinha, diga-se de passagem) a um estandarte da cultura burguesa e consumista—provavelmente o maior dos estandartes, já que se baseia numa combinação inebriante de Hollywood e fast-food. É ou não é divertido?
Eu acho que é. Mas, para variar, o MNE francês tem uma opinião diferente. Para ele tudo isto é muito sério: "Nós estamos reconhecidos ao povo americano e temos muito respeito pela sua cultura."
Claro, claro... Pela mesmíssima cultura que há bem pouco tempo, como bem lembra o op-ed do WSJE, mereceu do Presidente da República Francesa o epíteto: "Desastre ecológico". Divertido, não é?
Bom, mas agora a sério: convém não perder de vista a crise do emprego em França, e só o parque de diversões da Disney (verdadeiro "Chernobyl cultural", no entender da elite cultural francesa) é responsável por 43.000 postos de trabalho.
p.s.: E andamos nós surpreendidos com as declarações dos humoristas portugueses?
2005-01-26
Democracia e Coragem
O próximo Domingo será um dia crucial para a história do Médio-Oriente e para a da Democracia. O que está verdadeiramente em jogo não é a vitória de um ou outro partido. O que está em jogo não é sequer um julgamento da política externa americana. O que está em jogo é algo muito mais sério: é a própria Democracia e, com ela, a possibilidade da edificação de um Estado de Direito capaz de assegurar as liberdades mínimas a todos os iraquianos.
Para já, o que estamos a assistir é a uma lição de coragem humana. A coragem dos milhares de iraquianos que estão a contribuir activamente para o processo eleitoral. A coragem dos milhões de iraquianos que, arriscando as suas próprias vidas, se preparam para ir votar no próximo Domingo.
Para já, o que estamos a assistir é a uma lição de coragem humana. A coragem dos milhares de iraquianos que estão a contribuir activamente para o processo eleitoral. A coragem dos milhões de iraquianos que, arriscando as suas próprias vidas, se preparam para ir votar no próximo Domingo.
Democracia e Religião
Anda por aí a passear-se tranquilamente pelas ruas cá do burgo (cujo aburguesamento deve ser virtuosa e severamente punido, claro está) gente que insiste em não querer olhar de frente para o que se vai passando do outro lado do nosso querido Mediterrâneo.
É que, por essas tão encantadoras paragens, por onde pululam fanáticos criminosos que heroicamente resistem à praga globalizadora do capitalismo, da democracia e da liberdade, continua-se a dizer (e a repetir) coisas tão sublimes como estas: "A democracia assenta no direito de escolher a religião", e isso é, obviamente, "contra a lei de Deus".Está tudo dito. Deus é grande e, como tal, tem as costas largas. Larguíssimas!
É que, por essas tão encantadoras paragens, por onde pululam fanáticos criminosos que heroicamente resistem à praga globalizadora do capitalismo, da democracia e da liberdade, continua-se a dizer (e a repetir) coisas tão sublimes como estas: "A democracia assenta no direito de escolher a religião", e isso é, obviamente, "contra a lei de Deus".Está tudo dito. Deus é grande e, como tal, tem as costas largas. Larguíssimas!
2005-01-24
Guerra e Democracia
"Nós declarámos guerra à democracia e a todos aqueles que procuram pô-la em prática." Quem o disse foi um terrorista assassino.
Para quem ainda não tenha percebido bem, isto é uma declaração de guerra. Para quem ainda não tenha percebido bem, somos nós o alvo. Nós, a nossa forma de vida, a nossa liberdade. Em guerra é bom saber por onde se anda. Nós não podemos dar-nos ao luxo de nos perdermos. "Nós vamos em frente com completa confiança no triunfo da liberdade."
p.s.: as frases citadas pertencem a dois recentíssimos dircursos tornados públicos: um da autoria de Zarqawi outro de Bush. Faça o favor de escolher.
Para quem ainda não tenha percebido bem, isto é uma declaração de guerra. Para quem ainda não tenha percebido bem, somos nós o alvo. Nós, a nossa forma de vida, a nossa liberdade. Em guerra é bom saber por onde se anda. Nós não podemos dar-nos ao luxo de nos perdermos. "Nós vamos em frente com completa confiança no triunfo da liberdade."
p.s.: as frases citadas pertencem a dois recentíssimos dircursos tornados públicos: um da autoria de Zarqawi outro de Bush. Faça o favor de escolher.
Libertação
Há coisas sobre as quais é difícil falar, escrever... até pensar. Auschwitz é uma delas. No próximo dia 27 de Janeiro faz 60 anos que esse nome entrou na nossa memória. Convém não esquecer — especialmente quando começa a desaparecer a memória viva.
2005-01-19
Auto-ajuda
A expressão causa-me arrepios. Associo-a a publicações como a Xis, com a sua mistura engenhosa entre pseudo-ciência e crendice, com a sua veneração pelo que é "alternativo", da "medicina alternativa" a tudo o resto. Aliás, a expressão auto-ajuda é duplamente mentirosa. Não é ajuda, nem "auto".
Mas eis que me caem os olhos sobre uns livrinhos que uma alma caridosa (?) fez surgir em minha casa. Título da colecção? "Auto-ajuda para crianças". Estamos perdidos.
Mas eis que me caem os olhos sobre uns livrinhos que uma alma caridosa (?) fez surgir em minha casa. Título da colecção? "Auto-ajuda para crianças". Estamos perdidos.
Ambiente, paisagem e Estado
Acabo de passar os olhos pelo Local, do Público. Uma notícia chama-me a atenção: a Câmara Municipal de Cascais prepara-se para requalificar a orla marítima. Não é tanto a notícia que interessa, mas muito mais o que me traz à memória. Cascaense de sempre, conheço bem a zona, e recomendo um exercício interessante. Percorra-se a costa desde a Estalagem do Farol até ao Forte de S. Julião da Barra. Toda a extensão onde o Domínio Público Marítimo foi cumprido está hoje coberta de betão, de "equipamento", de "mobiliário urbano". As zonas mais belas são aquelas onde as casas foram construídas até ao mar, onde os velhos rochedos foram preservados, onde o mar ainda bate onde sempre bateu: do Seixas (junto à praia do peixe) ao Albatroz, da Praia da Poça ao Forte de Santo António da Barra.
Colecção Mitchell & Kenyon
A não perder: Inglaterra — as imagens da História, no Xanelcinco. Aproveite para viajar um século em direcção ao passado, na "máquina do tempo".
2005-01-17
O arsenal da democracia
A propósito do discurso inaugural do Presidente dos EUA, que se espera grande, lembrei-me de um outro grande discurso, de um não menos grande Presidente:
"We must be the great arsenal of democracy. For us, this is an emergency as serious as war itself. We must apply ourselves to our task with the same resolution, the same sense of urgency, the same spirit of patriotism and sacrifice as we would show were we at war."O discurso retrata bem a determinação, o espírito resoluto do liberalismo americano. O Presidente em causa era o enorme FDR.
"Celebrating Freedom"
Começou a contagem decrescente para um dos momentos mais importantes da política mundial - o Discurso Inaugural do Presidente dos Estados Unidos da América. Será no próximo dia 20 de Janeiro, como manda a tradição.
O discurso do Presidente será subordinado ao tema "Celebrating Freedom, Honoring Service". Dado o contexto que se vive, este é um discurso que os liberais devem ouvir com toda a atenção.
O discurso do Presidente será subordinado ao tema "Celebrating Freedom, Honoring Service". Dado o contexto que se vive, este é um discurso que os liberais devem ouvir com toda a atenção.
Será do Frio?
Estava eu todo entretido a recuperar a leitura dos jornais diários da semana passada quando, a páginas tantas, fico absolutamente siderado: "PS ESTUDA CONGELAR VALOR DAS PROPINAS".
Mas isso é coisa que se estude? Ou melhor: isso é coisa que ainda se estude? Isto, sinceramente, cheira-me ao cábula que está a repetir a cadeira pela terceira ou quarta vez...
É que, desculpem a inocência, mas qual é o objectivo de uma política de educação? Será promover um ensino bom ou baratucho? Será melhorá-lo ou desbaratá-lo?
Mas isso é coisa que se estude? Ou melhor: isso é coisa que ainda se estude? Isto, sinceramente, cheira-me ao cábula que está a repetir a cadeira pela terceira ou quarta vez...
É que, desculpem a inocência, mas qual é o objectivo de uma política de educação? Será promover um ensino bom ou baratucho? Será melhorá-lo ou desbaratá-lo?
Crueldade Intolerável
De acordo com uma notícia da Sky News, um grupo de cidadãos de Staffordshire interpôs uma acção no High Court of England and Wales, pedindo a imposição de uma zona de exclusão de cinco milhas em torno das suas habitações. Exclusão de quem? De activistas defensores dos “direitos” dos animais. Esclareço desde já que considero absurda a noção de “direitos” dos animais: experimente decidir se uma vaca tem direitos de propriedade sobre si própria à hora do pequeno almoço (presumindo que consome leite nessa refeição). A melhor frase que encontrei sobre o assunto é de um leitor de um jornal americano, que disse “acreditar que todos os animais nascem com o direito natural e inalienável à vida, liberdade e a serem perseguidos por outros animais, para serem mortos e comidos”.
Ironias à parte, a inexistência de “direitos dos animais” não significa que os humanos não tenham obrigações éticas para com eles, significa apenas que estas obrigações, uma vez transpostas para a lei, acabarão inevitavelmente por ser usadas instrumentalmente e reduzir a liberdade humana. Infelizmente vai aumentando a frequência com que grupos de indivíduos histéricos cometem as mais elementares violações aos direitos humanos, em nome dos inexistentes “direitos” dos animais.
No caso em questão, o objecto da fúria irracional dos activistas é uma quinta onde são criados animais usados em experiências científicas. Associações como a “Salvem o Porquinho da Índia!”, “Campanha: Falem!” ou a “Frente de Libertação do Animal” (juro que não inventei os nomes) são acusadas de uma série de actos de vandalismo, desde ataques generalizados à propriedade alheia, incluindo fogo posto numa companhia que vende produtos à referida quinta até, pasme-se, à profanação de um túmulo, de onde desapareceu o cadáver do parente de um dos proprietários da quinta.
Se a zona de exclusão não resolver o problema, sugiro a aplicação aos membros destes grupos anti-sociais de uma “zona de restrição”, vulgarmente conhecida como prisão. Ou jaula, se isso os fizer sentir mais confortáveis.
Ironias à parte, a inexistência de “direitos dos animais” não significa que os humanos não tenham obrigações éticas para com eles, significa apenas que estas obrigações, uma vez transpostas para a lei, acabarão inevitavelmente por ser usadas instrumentalmente e reduzir a liberdade humana. Infelizmente vai aumentando a frequência com que grupos de indivíduos histéricos cometem as mais elementares violações aos direitos humanos, em nome dos inexistentes “direitos” dos animais.
No caso em questão, o objecto da fúria irracional dos activistas é uma quinta onde são criados animais usados em experiências científicas. Associações como a “Salvem o Porquinho da Índia!”, “Campanha: Falem!” ou a “Frente de Libertação do Animal” (juro que não inventei os nomes) são acusadas de uma série de actos de vandalismo, desde ataques generalizados à propriedade alheia, incluindo fogo posto numa companhia que vende produtos à referida quinta até, pasme-se, à profanação de um túmulo, de onde desapareceu o cadáver do parente de um dos proprietários da quinta.
Se a zona de exclusão não resolver o problema, sugiro a aplicação aos membros destes grupos anti-sociais de uma “zona de restrição”, vulgarmente conhecida como prisão. Ou jaula, se isso os fizer sentir mais confortáveis.
2005-01-16
"A Alemanha é na União Europeia"
Ouvi a frase ao meu filho. Um adulto jamais a diria. Talvez dissesse que "faz parte da" ou "é da", mas nunca "é na". Verá a próxima geração a União Europeia como um espaço geográfico, e não como uma construção política?
Domingo Em Nova Iorque
Five Angels for the Millenium: Departing Angel, Birth Angel, Fire Angel, Ascending Angel e Creation Angel.
Xis
Elementos retirados da revista Xis, com o título "Ideias para pensar", distribuída com a edição do Público de Sábado, 15 de Janeiro de 2005:
Ajudar a morrer é aprender a viver—Amamentar—Depois do acto sexual—Alma e coração.
[Títulos de artigos]
Alberto Alvim acredita que temos "acordos espirituais" com a Humanidade e que o nosso propósito de vida consiste em conhecê-los. Depois de uma longa procura espiritual, hoje dedica-se à cura energética.
[Destaque em subtítulo de artigo]
Para Gilda Moura as "aventuras psíquicas" começaram quando viu um óvni a perseguir um carro de familiares seus. Seguiu-se a "escrita automática", uma "grande busca", a crise do divórcio e uma crescente abertura psíquica, um curso de hipnose, a descoberta da metáfora, aquilo que só tempo depois soube ser "uma subida da Kundalini".
[Excerto de uma caixa de destaque, inserida no artigo "Emergência espiritual e crise religiosa"]
Foi esta revista porque apareceu aqui em casa, "à boleia" do Público. Foi este número mas podia ter sido outro qualquer. A sociedade "pós-religiosa" não tolera tutelas espirituais ou magistrais. Nasceu "livre" das regras "castradoras" da sociedade e "descobre-se a si própria". Diz que já não acredita em nada mas acredita em tudo, desde os anõezinhos de Roswell até ao Prof. Karamba. Basta que seja esquisito, fútil e servido com uma mistura de cosmopolitismo e "etnicidade".
A vida no "fim da história" é como no princípio: tribal, desarticulada, cheia de ignorância e de crenças mágicas. Macacos com telemóveis e iPods.
Ajudar a morrer é aprender a viver—Amamentar—Depois do acto sexual—Alma e coração.
[Títulos de artigos]
Alberto Alvim acredita que temos "acordos espirituais" com a Humanidade e que o nosso propósito de vida consiste em conhecê-los. Depois de uma longa procura espiritual, hoje dedica-se à cura energética.
[Destaque em subtítulo de artigo]
Para Gilda Moura as "aventuras psíquicas" começaram quando viu um óvni a perseguir um carro de familiares seus. Seguiu-se a "escrita automática", uma "grande busca", a crise do divórcio e uma crescente abertura psíquica, um curso de hipnose, a descoberta da metáfora, aquilo que só tempo depois soube ser "uma subida da Kundalini".
[Excerto de uma caixa de destaque, inserida no artigo "Emergência espiritual e crise religiosa"]
Foi esta revista porque apareceu aqui em casa, "à boleia" do Público. Foi este número mas podia ter sido outro qualquer. A sociedade "pós-religiosa" não tolera tutelas espirituais ou magistrais. Nasceu "livre" das regras "castradoras" da sociedade e "descobre-se a si própria". Diz que já não acredita em nada mas acredita em tudo, desde os anõezinhos de Roswell até ao Prof. Karamba. Basta que seja esquisito, fútil e servido com uma mistura de cosmopolitismo e "etnicidade".
A vida no "fim da história" é como no princípio: tribal, desarticulada, cheia de ignorância e de crenças mágicas. Macacos com telemóveis e iPods.
2005-01-14
O contributo
Ninguém de bom senso espera imparcialidade nas decisões da Assembleia Geral da ONU relativamente ao conflito no Médio Oriente: a Assembleia nunca aprovou uma resolução que fosse condenando os terroristas palestinianos pelo massacre de cidadãos israelitas inocentes. Do Secretário-geral espera-se, pelo menos, que não atrapalhe a frágil hipótese de negociações bilaterais.
Em vão. Há dois dias, o Sr. Annan anunciou ao mundo, através do porta voz Stephane Dujarric, o seu mais recente "contributo" para a pacificação do Médio Oriente: a ONU tenciona abrir um gabinete na Palestina para registar as "queixas" dos palestinianos "afectados" pela construção da barreira de segurança. Quem preferir que lhe chame "muro", não muda o essencial: o desespero de um país que já não sabe como se defender de uma estratégia de carnificina indiscriminada. A dimensão do insulto e da provocação é inversamente proporcional à pequenez da intenção.
Hoje é um bom dia para Kofi Annan telefonar ao Primeiro-ministro israelita e perguntar-lhe onde deve ir (montar o seu especioso gabinete). Pode ser que Ariel Sharon lhe responda como ele merece.
Em vão. Há dois dias, o Sr. Annan anunciou ao mundo, através do porta voz Stephane Dujarric, o seu mais recente "contributo" para a pacificação do Médio Oriente: a ONU tenciona abrir um gabinete na Palestina para registar as "queixas" dos palestinianos "afectados" pela construção da barreira de segurança. Quem preferir que lhe chame "muro", não muda o essencial: o desespero de um país que já não sabe como se defender de uma estratégia de carnificina indiscriminada. A dimensão do insulto e da provocação é inversamente proporcional à pequenez da intenção.
Hoje é um bom dia para Kofi Annan telefonar ao Primeiro-ministro israelita e perguntar-lhe onde deve ir (montar o seu especioso gabinete). Pode ser que Ariel Sharon lhe responda como ele merece.
MEMRI - 1, Ken Livingstone - 0
Ken Livingstone deu uma conferência de imprensa em defesa de Sheikh Yousef Al-Qaradhawi, acusando o MEMRI de várias supostas baixezas, tais como ser dirigido por um antigo oficial israelita, imagine-se! Exigiu que o MEMRI pedisse desculpa a Al-Qaradhawi. Mas é Ken Livingstone quem tem de nos pedir desculpas por atacar quem, por boas ou más razões - aliás irrelevantes para o caso -, nos vem mostrando o que se diz nos meios de comunicação do Médio Oriente e por defender alguém com Al-Qaradhawi (veja-se os vídeos e declarações de Al-Qaradhawi disponibilizados pelo MEMRI).
Os justiceiros
As televisões portuguesas estão cheias de "justiceiros-jornalistas", que vêem a sociedade como uma enorme e permanente conspiração, orquestrada por entidades ocultas, altamente inteligentes e organizadas, que controlam e escondem a "verdade" aos cidadãos, porque "não lhes convém". Consequentemente, assumem que a sua obrigação primordial é "denunciar", "alertar" e expor os "interesses escondidos". Na generalidade dos casos não lhes ocorre que se limitam a substituir as suas obrigações profissionais pela prossecução de uma agenda política particular. Noutros, o uso da profissão como disfarce político é perfeitamente intencional. Como numa sociedade plural coexistem múltiplas agendas políticas divergentes e por vezes antagónicas, os "justiceiros" encontram sempre abundante evidência da "conspiração em curso" na conduta dos "justiceiros" aderentes às outras causas políticas.
Há "justiceiros" noutras profissões (cf. Vergonhas, mais abaixo nesta página) e a variante jornalística existe também nas rádios e nos jornais. Mas a sub-espécie televisiva é especialmente perigosa por estar presente diariamente nas casas da generalidade dos portugueses. O "justiceiro-jornalista" televisivo vive numa batalha épica e imaginária contra o Mal, onde obviamente não se pode limitar à singela tarefa de "informar": tem de corrigir o mundo. Por isso já não é possível ver uma entrevista ou um debate sem a constante intromissão e censura do "justiceiro" de ocasião. Quando ouve o que não lhe agrada interrompe desabridamente, manda calar ou fala por cima. Na batalha fictícia que se trava na sua cabeça é a única conduta possível: trespassar o peçonhento monstro da mentira, para "libertar" a verdade. O “justiceiro” televisivo responderá que não é assim; que lhe cabe “questionar e ser crítico”. Na interpretação benigna, não se apercebe que ao misturar a sua opinião com a informação, ou simplesmente ao substituir a segunda pela primeira, impede os cidadãos precisamente de exercerem o seu juízo crítico. Primeiro, porque os impossibilita de acederem a algo mais próximo de factos, com o mínimo possível de "filtragens opinativas"; segundo, porque ataca a própria noção de verdade, em nome da qual diz agir, ao reduzir tudo e todos a “opiniões relativas”. Na interpretação maligna, o "justiceiro" sabe disso perfeitamente e trata-se de uma acção deliberada e destrutiva, não de inépcia ou de inconsciência.
Muitos deles não têm grande escolha, são "instruídos" para agirem desse modo: são extensões por via auricular de um "justiceiro" remoto. Pelo seu carácter omnipresente ninguém como eles contribui tanto para o descrédito da política e para o ambiente de mal estar social. A inexistência de uma tradição cultural de civilidade, a pobreza crónica dos portugueses e a sensação que "a culpa disto tudo tem de ser de alguém" são a gasolina. O "justiceiro-jornalista" é o fósforo aceso.
Há "justiceiros" noutras profissões (cf. Vergonhas, mais abaixo nesta página) e a variante jornalística existe também nas rádios e nos jornais. Mas a sub-espécie televisiva é especialmente perigosa por estar presente diariamente nas casas da generalidade dos portugueses. O "justiceiro-jornalista" televisivo vive numa batalha épica e imaginária contra o Mal, onde obviamente não se pode limitar à singela tarefa de "informar": tem de corrigir o mundo. Por isso já não é possível ver uma entrevista ou um debate sem a constante intromissão e censura do "justiceiro" de ocasião. Quando ouve o que não lhe agrada interrompe desabridamente, manda calar ou fala por cima. Na batalha fictícia que se trava na sua cabeça é a única conduta possível: trespassar o peçonhento monstro da mentira, para "libertar" a verdade. O “justiceiro” televisivo responderá que não é assim; que lhe cabe “questionar e ser crítico”. Na interpretação benigna, não se apercebe que ao misturar a sua opinião com a informação, ou simplesmente ao substituir a segunda pela primeira, impede os cidadãos precisamente de exercerem o seu juízo crítico. Primeiro, porque os impossibilita de acederem a algo mais próximo de factos, com o mínimo possível de "filtragens opinativas"; segundo, porque ataca a própria noção de verdade, em nome da qual diz agir, ao reduzir tudo e todos a “opiniões relativas”. Na interpretação maligna, o "justiceiro" sabe disso perfeitamente e trata-se de uma acção deliberada e destrutiva, não de inépcia ou de inconsciência.
Muitos deles não têm grande escolha, são "instruídos" para agirem desse modo: são extensões por via auricular de um "justiceiro" remoto. Pelo seu carácter omnipresente ninguém como eles contribui tanto para o descrédito da política e para o ambiente de mal estar social. A inexistência de uma tradição cultural de civilidade, a pobreza crónica dos portugueses e a sensação que "a culpa disto tudo tem de ser de alguém" são a gasolina. O "justiceiro-jornalista" é o fósforo aceso.
2005-01-13
Obrigado
Agradeço as menções simpáticas feitas a uma entrada recente deste blogue ("Character Assassination") pel' O Acidental, Super Flumina e, muito especialmente, pela Miss Pearls, que dá um toque de graciosidade e charme à blogosfera lusitana. Se tiver omitido algum blogue, espero que acreditem que é por falta de informação, não de educação.
Cultura e linguagem
1. Suponha que uma organização sugere a alguém a forte conveniência do pagamento de uma quantia monetária, a troco da garantia de protecção dos interesses do pagador, contra a ameaça que essa própria organização representa.
Se o ameaçado for uma entidade privada e os interesses em questão consistirem na vida ou saúde do próprio ou da respectiva família, trata-se de uma organização mafiosa ou criminosa. Se o ameaçado for um governante de um país ocidental e os interesses em questão forem a reputação individual, a imagem do governo que dirige ou a do próprio país, trata-se de uma organização não governamental (NGO).
2. Suponha que um vasto conjunto de indivíduos dotados de uma estrutura organizativa complexa e hábitos de vida que exigem gastos sumptuários, se desloca regularmente entre duas localidades europeias.
Suponha ainda que estes indivíduos se reclamam detentores de um poder político de natureza obscura para a generalidade da população, que os encara com receio, desconfiança, desinteresse ou simplesmente com aversão. Admita-se finalmente que a actividade regular destes indivíduos consiste na redistribuição de rendimentos, retirados à maioria da população e canalizados para algumas minorias de beneficiários, consideradas merecedoras de privilégios especiais, causando neste processo perdas puras de riqueza de dimensões bíblicas.
Se as localidades em questão forem Fontainebleau e Versalhes trata-se da corte francesa do séc. XVII; se forem Bruxelas e Estrasburgo trata-se da corte da União Europeia no séc. XXI.
3. Suponha que se depara com um texto escrito numa metalinguagem ininteligível, com muitas setas e muitos bonecos. Se o texto contiver uma profusão de k’s, inseridos de forma arbitrária e sugerindo que o autor sofre de idiotia profunda, trata-se de uma mensagem SMS; se em vez de k's surgirem kpi’s é um relatório de uma consultora financeira.
Se o ameaçado for uma entidade privada e os interesses em questão consistirem na vida ou saúde do próprio ou da respectiva família, trata-se de uma organização mafiosa ou criminosa. Se o ameaçado for um governante de um país ocidental e os interesses em questão forem a reputação individual, a imagem do governo que dirige ou a do próprio país, trata-se de uma organização não governamental (NGO).
2. Suponha que um vasto conjunto de indivíduos dotados de uma estrutura organizativa complexa e hábitos de vida que exigem gastos sumptuários, se desloca regularmente entre duas localidades europeias.
Suponha ainda que estes indivíduos se reclamam detentores de um poder político de natureza obscura para a generalidade da população, que os encara com receio, desconfiança, desinteresse ou simplesmente com aversão. Admita-se finalmente que a actividade regular destes indivíduos consiste na redistribuição de rendimentos, retirados à maioria da população e canalizados para algumas minorias de beneficiários, consideradas merecedoras de privilégios especiais, causando neste processo perdas puras de riqueza de dimensões bíblicas.
Se as localidades em questão forem Fontainebleau e Versalhes trata-se da corte francesa do séc. XVII; se forem Bruxelas e Estrasburgo trata-se da corte da União Europeia no séc. XXI.
3. Suponha que se depara com um texto escrito numa metalinguagem ininteligível, com muitas setas e muitos bonecos. Se o texto contiver uma profusão de k’s, inseridos de forma arbitrária e sugerindo que o autor sofre de idiotia profunda, trata-se de uma mensagem SMS; se em vez de k's surgirem kpi’s é um relatório de uma consultora financeira.
2005-01-12
A liberdade e o ambiente
Eco-nomics, de Richard L Stroup, é um pequeno livro (86 páginas) acerca do ambiente e da economia. Dirigido a leigos, é um bom antídoto para o ambientalismo português, quase todo ele socialista e visceralmente anti-liberal. Da contra-capa:
It's one thing to be passionate about protecting the environment. It's another to be successful at it. Many laws have been enacted over the past 30 years to clean up air and water pollution and to preserve natural beauty, but many of them don't work well, while others have had unintended consequences.O livro foi editado pelo Cato Institute e mereceu um prémio da Atlas Economic Research Foundation. O autor é membro do PERC (Property and Environment Research Center).
In Eco-nomics: What Everyone Should Know About Economics and the Environment, free-market environmentalist Rick Stroup explains why many of our environmental laws have failed us and how we might do a better job of protecting nature.
Revolucionar o Islão
Apesar de alguma falta de profundidade e de um estilo excessivamente coloquial, The Trouble With Islam, de Irshad Manji, é um livro muito revelador acerca da mundovisão islâmica. O facto de a autora estar nas margens dessa mundovisão - que não pretende rejeitar, mas sim reformar, ou melhor, revolucionar - dá-nos acesso a uma perspectiva única, valor principal da obra. Recomendo.
A utilidade da tortura
Anne Applebaum, uma das melhores cronistas americanas, publica hoje no Washington Post um artigo muito interessante sobre a tortura de prisioneiros de guerra. Um dos motivos de interesse do artigo é o facto de Applebaum limitar o seu argumento a uma avaliação puramente consequencialista da tortura: a tortura é ou não útil do ponto de vista de quem a pratica?
A opinião profissional e a opinião pública parecem ser diametralmente opostas. De um lado, militares e membros de agências de informação com enorme experiência de técnicas de interrogatório convergem para a desutilidade da tortura (note-se: declaram-na contraproducente e não "apenas" inútil):
A opinião profissional e a opinião pública parecem ser diametralmente opostas. De um lado, militares e membros de agências de informação com enorme experiência de técnicas de interrogatório convergem para a desutilidade da tortura (note-se: declaram-na contraproducente e não "apenas" inútil):
“ (…) listen to Army Col. Stuart Herrington, a military intelligence specialist who conducted interrogations in Vietnam, Panama and Iraq during Desert Storm, and who was sent by the Pentagon in 2003 — long before Abu Ghraib — to assess interrogations in Iraq. Aside from its immorality and its illegality, says Herrington, torture is simply "not a good way to get information." In his experience, nine out of 10 people can be persuaded to talk with no "stress methods" at all, let alone cruel and unusual ones. Asked whether that would be true of religiously motivated fanatics, he says that the "batting average" might be lower: "perhaps six out of ten." And if you beat up the remaining four? "They'll just tell you anything to get you to stop."Do outro lado, a opinião pública parece acreditar que "com uns bons apertões os tipos contavam tudo". Não deixa de ser irónico que uma das desvantagens da tortura seja precisamente isso: a perspectiva de um "apertão" leva o prisioneiro a contar "tudo", principalmente aquilo que suspeita que o torcionário deseja ouvir, por mais distante que esteja da verdade:
Worse, you'll have the other side effects of torture. It "endangers our soldiers on the battlefield by encouraging reciprocity." It does "damage to our country's image" and undermines our credibility in Iraq. That, in the long run, outweighs any theoretical benefit. Herrington's confidential Pentagon report, which he won't discuss but which was leaked to The Post a month ago, goes farther. In that document, he warned that members of an elite military and CIA task force were abusing detainees in Iraq, that their activities could be "making gratuitous enemies" and that prisoner abuse "is counterproductive to the Coalition's efforts to win the cooperation of the Iraqi citizenry."Far from rescuing Americans, in other words, the use of "special methods" might help explain why the war is going so badly.”
“Given the overwhelmingly negative evidence, the really interesting question is not whether torture works but why so many people in our society want to believe that it works. At the moment, there is a myth in circulation, a fable that goes something like this: Radical terrorists will take advantage of our fussy legality, so we may have to suspend it to beat them. Radical terrorists mock our namby-pamby prisons, so we must make them tougher. Radical terrorists are nasty, so to defeat them we have to be nastier.Mas ler todo o artigo é muito melhor.
Perhaps it's reassuring to tell ourselves tales about the new forms of "toughness" we need, or to talk about the special rules we will create to defeat this special enemy. Unfortunately, that toughness is self-deceptive and self-destructive. Ultimately it will be self-defeating as well.”
Character Assassination
Declaração prévia: não sou militante de nenhum partido, nem sequer “simpatizante” (como é que se pode simpatizar com uma coisa dessas?). Nunca votei no PSD, independentemente da moeda política em circulação e não tenciono começar nas próximas eleições.
Dito isto, vou directo ao que interessa: o que a SIC está a fazer a propósito da viagem do ministro Morais Sarmento é pura campanha eleitoral, tempo de antena em nome de terceiros. Não há nada nesta viagem a S. Tomé e Príncipe que a distinga da maioria das outras viagens de políticos a qualquer lado do mundo: uma “agenda” largamente composta de boas refeições, visitas guiadas aqui e ali e uma série de “beaux gestes” traduzidos em acordos e protocolos, assinados com a gravidade ponderada do governante e esquecidos logo a seguir, na maioria dos casos ainda bem. A coisa termina como começa, com cumprimentos, acenos para uma multidão emocionada que não está presente e tudo para dentro do avião. No final, uma conta gorda para somar à despesa pública.
A SIC acha que desta vez houve algo de diferente. Toca de emitir reportagens sobre “o paraíso onde o ministro se hospedou”, a acicatar a inveja da populaça — “eles ali, no bem bom e nós aqui”—, seguidas das continhas de somar as despesas, feitas no ecrã com todo o detalhe. Repetir até à náusea. Depois da náusea, continuar a repetir.
A SIC não dá informação, usa-a; não informa, manipula. Porquê o ministro Morais Sarmento e porquê agora? Não é difícil: basta reparar nos cabeças de lista do PS e do PSD no círculo eleitoral de Castelo Branco. Em tempos, o Sr. Rangel proclamou que “vender políticos era como vender sabonetes”. Os actuais directores da SIC andam a “vender sabonetes como quem vende políticos”.
Não se espante se nas próximas semanas ao assistir aos telejornais das televisões portuguesas der por si com um desagradável gosto a sabão na boca. It’s that... SICkening feeling.
Dito isto, vou directo ao que interessa: o que a SIC está a fazer a propósito da viagem do ministro Morais Sarmento é pura campanha eleitoral, tempo de antena em nome de terceiros. Não há nada nesta viagem a S. Tomé e Príncipe que a distinga da maioria das outras viagens de políticos a qualquer lado do mundo: uma “agenda” largamente composta de boas refeições, visitas guiadas aqui e ali e uma série de “beaux gestes” traduzidos em acordos e protocolos, assinados com a gravidade ponderada do governante e esquecidos logo a seguir, na maioria dos casos ainda bem. A coisa termina como começa, com cumprimentos, acenos para uma multidão emocionada que não está presente e tudo para dentro do avião. No final, uma conta gorda para somar à despesa pública.
A SIC acha que desta vez houve algo de diferente. Toca de emitir reportagens sobre “o paraíso onde o ministro se hospedou”, a acicatar a inveja da populaça — “eles ali, no bem bom e nós aqui”—, seguidas das continhas de somar as despesas, feitas no ecrã com todo o detalhe. Repetir até à náusea. Depois da náusea, continuar a repetir.
A SIC não dá informação, usa-a; não informa, manipula. Porquê o ministro Morais Sarmento e porquê agora? Não é difícil: basta reparar nos cabeças de lista do PS e do PSD no círculo eleitoral de Castelo Branco. Em tempos, o Sr. Rangel proclamou que “vender políticos era como vender sabonetes”. Os actuais directores da SIC andam a “vender sabonetes como quem vende políticos”.
Não se espante se nas próximas semanas ao assistir aos telejornais das televisões portuguesas der por si com um desagradável gosto a sabão na boca. It’s that... SICkening feeling.
2005-01-11
Apelos
O Público dá conta dos apelos à libertação da jornalista do Libération Florence Aubenas, aparentemente raptada no Iraque. Um deles é o "Appel des journalistes arabes: Sauvons la vie de Florence". Entre vários argumentos advogando a independência dos jornalistas, há um que merece o destaque de um parágrafo:
Dans le monde arabe, du Maghreb au Machrek, les journalistes considèrent Florence Aubenas comme une amie précieuse qui a toujours su être du côté des causes justes et dire avec courage ce qui peut déplaire aux puissants de ce monde.Se a jornalista não fosse uma "amiga preciosa" ou se não estivesse sempre do lado das "causas justas", os signatários seriam tão afoitos no seu apelo? Há boas razões para duvidar.
A Coreia do Norte declarou guerra
... aos cabelos compridos. Segundo esta notícia da BBC, para os líderes comunistas coreanos, "o corte de cabelo reflecte o estilo de vida". Na Coreia do Norte, "curto" parece ser o adjectivo adequado ao estilo de vida local. A aparência desgrenhada e desleixada tem ser combatida para "impedir a infiltração de ideias corruptas capitalistas na sociedade, que destroem as virtudes comunistas". É de admitir que os comunistas coreanos supõem que as "ideias capitalistas" se escondem melhor por entre uma farta cabeleira. Eis o cartaz exemplificando o que pretendem eliminar:
Nada de novo
Título de notícia do Público: Sócrates põe aborto à frente da Europa em matéria de referendos.
Foi justamente o que fizeram os governantes europeus que decidiram referendar o projecto de Tratado Constitucional para a Europa, do Sr. Giscard d'Estaing.
Foi justamente o que fizeram os governantes europeus que decidiram referendar o projecto de Tratado Constitucional para a Europa, do Sr. Giscard d'Estaing.
Prioridades e recomendações
A ONU está a trabalhar intensamente na ajuda às vítimas do maremoto asiático, fazendo o que melhor sabe: organizando conferências para "debater" o "problema" da ajuda humanitária. Claro que o "problema" da ONU não é o mesmo que o dos asiáticos: a ONU é o maior dos "necessitados" e a necessidade da ONU é de ordem diferente.
A ONU "necessita" urgentemente de garantir o monopólio da administração do dinheiro prometido a título de ajuda pelos governos de diversos estados: são 6 biliões de dólares. Quais as credenciais da ONU para se habilitar a gerir esta fortuna colossal, directamente ou através das agências que dela dependem?
Primeiro, a extensa e complexa rede de corrupção que a ONU montou ou deixou desenvolver em torno do programa "humanitário" Oil for Food. Há dois dias soube-se que, dos 58 relatórios preparados pelos auditores resultaram apenas 400 páginas de "conclusões". Fraude, corrupção, suborno? Nada: só foram identificados "problemas" e "lapsos operacionais". Parece que os auditores consideraram de especial gravidade a tendência que os empregados da missão da ONU no Iraque tinham para perder equipamento caro, por "esquecimento". Até a notícia on-line do New York Times tem o "detalhe" de incluir em posição central de destaque um anúncio da... UNICEF, pedindo "contribuições" para proteger "crianças em risco". Duas palavras bastam: branqueamento sórdido.
Na tentativa de branqueamento da corrupção instalada na ONU, Stephane Dujarric, um porta-voz das Nações Unidas, garante que as auditorias mostraram que "this [Oil for Food program] was a highly audited and supervised program."
Curiosamente, ao reclamar o monopólio da administração do dinheiro a doar (espera-se) pelos estados que anunciaram essa disposição, a ONU está consciente que a sua reputação não a recomenda para a tarefa. Mas tem uma solução: auditoria internacional. Anunciou por isso a contratação da PriceWaterhouseCoopers para investigar alegações de fraude, desperdício ou abuso (ver notícia da BBC).
É verdadeiramente extraordinário: as "intensas" auditorias que, durante e após o encerramento do programa Oil for Food não foram capazes de descobrir o óbvio são agora invocadas pela ONU como "factor de credibilidade"; uma espécie de seguro contra desmandos futuros.
Talvez o problema fosse da qualidade das auditorias. Sendo assim, a PriceWaterhouseCoopers é uma escolha acima de qualquer suspeita. Mas certamente que uma das melhores consultoras do mundo não trabalhará gratuitamente. Se a gestão destes dinheiros não for cometida à ONU, o custo de auditoria não terá de ser suportado, pelo que se pode e deve concluir que é um custo exclusivamente decorrente da reputação de corrupção da ONU. Se a auditoria internacional é necessária a título de "seguro" é porque a gestão da ONU representa um risco.
Para além da corrupção, será que os dirigentes da ONU também acham que isto (que considero tão repugnante que evito mencionar explicitamente o assunto nesta página) também a recomenda para gerir mais alguma coisa?
A ONU "necessita" urgentemente de garantir o monopólio da administração do dinheiro prometido a título de ajuda pelos governos de diversos estados: são 6 biliões de dólares. Quais as credenciais da ONU para se habilitar a gerir esta fortuna colossal, directamente ou através das agências que dela dependem?
Primeiro, a extensa e complexa rede de corrupção que a ONU montou ou deixou desenvolver em torno do programa "humanitário" Oil for Food. Há dois dias soube-se que, dos 58 relatórios preparados pelos auditores resultaram apenas 400 páginas de "conclusões". Fraude, corrupção, suborno? Nada: só foram identificados "problemas" e "lapsos operacionais". Parece que os auditores consideraram de especial gravidade a tendência que os empregados da missão da ONU no Iraque tinham para perder equipamento caro, por "esquecimento". Até a notícia on-line do New York Times tem o "detalhe" de incluir em posição central de destaque um anúncio da... UNICEF, pedindo "contribuições" para proteger "crianças em risco". Duas palavras bastam: branqueamento sórdido.
Na tentativa de branqueamento da corrupção instalada na ONU, Stephane Dujarric, um porta-voz das Nações Unidas, garante que as auditorias mostraram que "this [Oil for Food program] was a highly audited and supervised program."
Curiosamente, ao reclamar o monopólio da administração do dinheiro a doar (espera-se) pelos estados que anunciaram essa disposição, a ONU está consciente que a sua reputação não a recomenda para a tarefa. Mas tem uma solução: auditoria internacional. Anunciou por isso a contratação da PriceWaterhouseCoopers para investigar alegações de fraude, desperdício ou abuso (ver notícia da BBC).
É verdadeiramente extraordinário: as "intensas" auditorias que, durante e após o encerramento do programa Oil for Food não foram capazes de descobrir o óbvio são agora invocadas pela ONU como "factor de credibilidade"; uma espécie de seguro contra desmandos futuros.
Talvez o problema fosse da qualidade das auditorias. Sendo assim, a PriceWaterhouseCoopers é uma escolha acima de qualquer suspeita. Mas certamente que uma das melhores consultoras do mundo não trabalhará gratuitamente. Se a gestão destes dinheiros não for cometida à ONU, o custo de auditoria não terá de ser suportado, pelo que se pode e deve concluir que é um custo exclusivamente decorrente da reputação de corrupção da ONU. Se a auditoria internacional é necessária a título de "seguro" é porque a gestão da ONU representa um risco.
Para além da corrupção, será que os dirigentes da ONU também acham que isto (que considero tão repugnante que evito mencionar explicitamente o assunto nesta página) também a recomenda para gerir mais alguma coisa?
2005-01-10
Todos somos vítimas
O presidente francês Jacques Chirac voltou a insistir na ideia do lançamento de um "imposto internacional" para "auxiliar as vítimas do maremoto no sudeste asiático". Sem especificar a natureza, base fiscal e carácter (temporário ou permanente) deste imposto, o Sr. Chirac pretende ainda assim que a sua "proposta" seja aprovada pelo G7+1. Várias hipóteses são possíveis:
1. O Sr. Chirac pretende restringir a colecta deste "imposto" aos países que pouco ou nada têm ajudado a reunir recursos humanos e materiais para auxiliar no alívio do sofrimento humano causado pelo maremoto. Principais países a tributar: França, China, Rússia, Arábia Saudita e quase todos os outros países árabes, Indonésia, Tailândia e Sri Lanka.
2. O Sr. Chirac refere-se apenas a uma operação de contabilidade internacional através da qual os orçamentos das organizações não governamentais (NGO’s) serão drasticamente reduzidos, a título de "imposto", do custo das operações humanitárias em curso no sudeste asiático. A medida incidirá particularmente sobre as agências dependentes da ONU, que distribuem mais propaganda política do que alimentos e medicamentos, como é o caso da UNICEF. Os beneficiários serão os países que contribuem para sustentar financeiramente as NGO’s na proporção em que têm ajudado as vítimas do maremoto, ou seja: essencialmente os EUA e a Austrália —verdadeiros campeões da ajuda humanitária unilateral. A medida tem ampla justificação na necessidade de reduzir os inacreditáveis gastos sumptuários das NGO's e canalizar os dinheiros nelas desperdiçados para finalidades mais urgentes e importantes, como o alívio do sofrimento humano nas suas formas extremas. Neste caso não vejo grande dificuldade em conseguir a anuência do G7 perante uma medida do mais elementar bom senso e sentido ético.
3. O Sr. Chirac não ignora que o lançamento de impostos é uma prerrogativa de soberania e aproveita a desgraça alheia para, com um cinismo repugnante, forçar o avanço de uma agenda política internacionalista, sempre orientada pela obsessão patética e demencial de colocar a França no centro da "construção" de um fictício contra-poder americano. Tudo serve e todos somos vítimas —não do maremoto asiático mas da megalomania neo-gaullista.
1. O Sr. Chirac pretende restringir a colecta deste "imposto" aos países que pouco ou nada têm ajudado a reunir recursos humanos e materiais para auxiliar no alívio do sofrimento humano causado pelo maremoto. Principais países a tributar: França, China, Rússia, Arábia Saudita e quase todos os outros países árabes, Indonésia, Tailândia e Sri Lanka.
2. O Sr. Chirac refere-se apenas a uma operação de contabilidade internacional através da qual os orçamentos das organizações não governamentais (NGO’s) serão drasticamente reduzidos, a título de "imposto", do custo das operações humanitárias em curso no sudeste asiático. A medida incidirá particularmente sobre as agências dependentes da ONU, que distribuem mais propaganda política do que alimentos e medicamentos, como é o caso da UNICEF. Os beneficiários serão os países que contribuem para sustentar financeiramente as NGO’s na proporção em que têm ajudado as vítimas do maremoto, ou seja: essencialmente os EUA e a Austrália —verdadeiros campeões da ajuda humanitária unilateral. A medida tem ampla justificação na necessidade de reduzir os inacreditáveis gastos sumptuários das NGO's e canalizar os dinheiros nelas desperdiçados para finalidades mais urgentes e importantes, como o alívio do sofrimento humano nas suas formas extremas. Neste caso não vejo grande dificuldade em conseguir a anuência do G7 perante uma medida do mais elementar bom senso e sentido ético.
3. O Sr. Chirac não ignora que o lançamento de impostos é uma prerrogativa de soberania e aproveita a desgraça alheia para, com um cinismo repugnante, forçar o avanço de uma agenda política internacionalista, sempre orientada pela obsessão patética e demencial de colocar a França no centro da "construção" de um fictício contra-poder americano. Tudo serve e todos somos vítimas —não do maremoto asiático mas da megalomania neo-gaullista.
2005-01-09
Domingo em Nova Iorque
Playing saxophone:
A série completa e muitas outras fotografias interessantes aqui. Num dos meus blogues favoritos.
A série completa e muitas outras fotografias interessantes aqui. Num dos meus blogues favoritos.
2005-01-08
Vergonhas
O Público de hoje inclui um artigo com o seguinte título: Governo Português Acusado de Cumplicidade na Invasão do Iraque. Sobressalto imediato: acusado por quem? O primeiro parágrafo esclarece:
O que distingue esta historieta de outras farsas típicas de um esquerdismo desagregador não é a finalidade: é a responsabilidade nominal na constituição do grupelho. Do conjunto de (ir)responsáveis por esta vergonha destacam-se Eduardo Maia Costa, procurador-geral adjunto e diversos juristas, entre os quais pontificam o fatal José Manuel Pureza e o advogado Garcia Pereira. Há ainda uma série de “justiceiros” avulsos: o historiador António Louçã, o médico e presidente da AMI Fernando Nobre, os coronéis Vasco Lourenço e Carlos Vale Ferraz e o general Pezarat Correia.
Quando procuradores-gerais adjuntos e juristas com alguma reputação e notoriedade pública se entretêm, em nome das suas afinidades políticas electivas, a abandalhar a instituição basilar do Tribunal, como e de quem esperar respeito pela Justiça? Que esta e outra gente, como Saldanha Sanches e Maria José Morgado, igualmente envolvidos na “ secção portuguesa da iniciativa”, pretendam integrar grupos de pressão política orientados para causas definidas, por mais questionáveis que sejam, estão apenas a usar as prerrogativas que as sociedade liberais possibilitam aos cidadãos, mesmo àqueles que—como eles—trabalham incessantemente para destruir e limitar a liberdade.
Mas quando esses grupos de reivindicação política se revestem da designação de “tribunal” todos os envolvidos passam do uso da liberdade de expressão e reunião para o simples aviltamento do conceito de Estado de Direito. Muitos dos integrantes da secção portugesa do "TMI" atrevem-se a participar nisto ao mesmo tempo que aparecem em quantos órgãos de comunicação social conseguem, sempre a lamentar a “descredibilização” da Justiça, a ausência de “seriedade” e de "empenho" dos governantes nas "reformas" da Justiça e o resto da ladainha. O sr. procurador-geral adjunto e demais acólitos juristas envolvidos no "TMI" acham que os tribunais a sério servem, como consta da citação destacada acima, para proferirem "condenações morais e políticas"?...
A frase final do artigo é outra citação de mais um dos responsáveis por esta pouca vergonha, acerca dos propósitos do “TMI”. No seu desígnio moralizador aplica-se perfeitamente a este texto:
“A secção portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque (TMI) tornou pública, na quinta-feira, a sua acusação contra o Governo português "pela sua cumplicidade na agressão do Iraque".Note-se a estranha utilização das aspas: conhecendo razoavelmente bem a organização judicial portuguesa, nunca tinha ouvido falar do “TMI”. Não sei qual a sua competência específica, área de jurisdição ou instância. Desconhecia-o por completo. Até agora. Algumas linhas mais abaixo, é explicitada a natureza constitutiva e os propósitos deste auto-designado “tribunal”:
“O TMI foi constituído em 2003 por um conjunto de organizações e personalidades empenhadas no movimento contra a guerra e recebeu este nome por adoptar a forma de um tribunal, uma vez que procura reunir provas e preparar depoimentos, embora não tenha os poderes próprios de um tribunal. No fundo, este "tribunal" visa esclarecer a opinião pública sobre a "agressão conduzida pelos EUA e pela Grã-Bretanha" contra o Estado iraquiano e obter "uma condenação moral e política" sobre esses factos (…)”Aqui a jornalista que assina o texto lá se lembra da conveniência de rodear das devidas aspas a palavra “tribunal”. Podia e devia tê-lo feito logo no início, tal como deveria ter o elementar cuidado de não assumir como título (com a correlativa presunção de verdade) as obscenidades políticas elucubradas pelo grupo de lunáticos auto-designados por “TMI” e evitado o absurdo segundo parágrafo (não reproduzido aqui), que tem como único propósito instrumental meter o “Vietname” na conversa, a título de "analogia" político-militar da presente situação no Iraque.
O que distingue esta historieta de outras farsas típicas de um esquerdismo desagregador não é a finalidade: é a responsabilidade nominal na constituição do grupelho. Do conjunto de (ir)responsáveis por esta vergonha destacam-se Eduardo Maia Costa, procurador-geral adjunto e diversos juristas, entre os quais pontificam o fatal José Manuel Pureza e o advogado Garcia Pereira. Há ainda uma série de “justiceiros” avulsos: o historiador António Louçã, o médico e presidente da AMI Fernando Nobre, os coronéis Vasco Lourenço e Carlos Vale Ferraz e o general Pezarat Correia.
Quando procuradores-gerais adjuntos e juristas com alguma reputação e notoriedade pública se entretêm, em nome das suas afinidades políticas electivas, a abandalhar a instituição basilar do Tribunal, como e de quem esperar respeito pela Justiça? Que esta e outra gente, como Saldanha Sanches e Maria José Morgado, igualmente envolvidos na “ secção portuguesa da iniciativa”, pretendam integrar grupos de pressão política orientados para causas definidas, por mais questionáveis que sejam, estão apenas a usar as prerrogativas que as sociedade liberais possibilitam aos cidadãos, mesmo àqueles que—como eles—trabalham incessantemente para destruir e limitar a liberdade.
Mas quando esses grupos de reivindicação política se revestem da designação de “tribunal” todos os envolvidos passam do uso da liberdade de expressão e reunião para o simples aviltamento do conceito de Estado de Direito. Muitos dos integrantes da secção portugesa do "TMI" atrevem-se a participar nisto ao mesmo tempo que aparecem em quantos órgãos de comunicação social conseguem, sempre a lamentar a “descredibilização” da Justiça, a ausência de “seriedade” e de "empenho" dos governantes nas "reformas" da Justiça e o resto da ladainha. O sr. procurador-geral adjunto e demais acólitos juristas envolvidos no "TMI" acham que os tribunais a sério servem, como consta da citação destacada acima, para proferirem "condenações morais e políticas"?...
A frase final do artigo é outra citação de mais um dos responsáveis por esta pouca vergonha, acerca dos propósitos do “TMI”. No seu desígnio moralizador aplica-se perfeitamente a este texto:
“ (…) é necessária uma "denúncia insistente" destes factos para que a população tome consciência da barbárie e inverta o curso político".Depois de 20 de Fevereiro é possível que a algumas destas pessoas sejam cometidas responsabilidades políticas. Eu nem o cão os deixava levar a passear.
Evil Chucky
Vi Carlos Carvalhas chegar à liderança comunista, determinado e cheio de “consciência de classe”. Aos poucos e poucos foi envelhecendo, numa irreversível amarelidão alquebrada. Gasto e adoentado, trocaram-no por Jerónimo de Sousa, a solução que o aparelho comunista extraiu do baú das crisálidas gerontocráticas armazenado na Soeiro Pereira Gomes.
Mas Jerónimo de Sousa é apenas uma versão empobrecida e proletária da múmia de Bentham. Esse, malgré tout, ainda era utilitarista, o que para a esquerda, eternamente defensora de governos de “utopia” ou de “engenharia social”, sempre tinha algum préstimo.
Agora Carvalhas nem sequer consta das listas de candidatos a deputados comunistas. O país fica prejudicado. Nos anos a seguir à revolução de Abril, as bancadas da Assembleia pareciam um mural de Diego Rivera, uma mistura quente de cores, loucura e irresponsabilidade. Depois veio a “normalização” democrática e as cores do mural foram ficando desmaiadas. Agora até a bancada comunista é cinzenta, pequenina e chinesa.
Confesso que com o passar dos anos me afeiçoei ao “Cassete Carvalhas”. Quem em vez dele se erguerá agora daquela bancada para de dedo em riste, sibilinamente ciciante, nos debitar a cartilha marxista-leninista? Aquela entoação foi adquirida à custa de muitos anos de exercício. Exigiu esforço, persistência e uma fé inabalável. Sem a toada de lenga-lenga, que é a virtude de Carvalhas, destapam-se os parafusos e engrenagens do horroroso totalitarismo comunista. O débito ritmado das “verdades e certezas históricas” produzia um efeito reconfortante; tinha um som de coisa segura, com que se podia contar porque estava ali, sempre tinha estado e podíamos estar certos de que sempre estaria. Já não está.
É claro que ainda há a Dra. Odete Santos. Desde que discretamente medicada e adequadamente abastecida de tintas para o cabelo tem um efeito portentoso sobre o estado de espírito dos portugueses. Não é de desprezar mas sabe a prémio de consolação.
Como é que se chegou a esta tristeza? Desde há muito que desconfio que Carvalhas foi vítima de uma sinistra urdidura, montada por aquele Eusébiozinho encerado, cujo nome não me recordo, mas que aparecia em todas as reportagens televisivas a espreitar por detrás do ombro do “chefe”, de sorriso melífluo e muito aprumado. Carvalhas definhava e ele sempre impassível, sempre a sorrir.
Para mim, foi ele que deu cabo do Cassete.
Mas Jerónimo de Sousa é apenas uma versão empobrecida e proletária da múmia de Bentham. Esse, malgré tout, ainda era utilitarista, o que para a esquerda, eternamente defensora de governos de “utopia” ou de “engenharia social”, sempre tinha algum préstimo.
Agora Carvalhas nem sequer consta das listas de candidatos a deputados comunistas. O país fica prejudicado. Nos anos a seguir à revolução de Abril, as bancadas da Assembleia pareciam um mural de Diego Rivera, uma mistura quente de cores, loucura e irresponsabilidade. Depois veio a “normalização” democrática e as cores do mural foram ficando desmaiadas. Agora até a bancada comunista é cinzenta, pequenina e chinesa.
Confesso que com o passar dos anos me afeiçoei ao “Cassete Carvalhas”. Quem em vez dele se erguerá agora daquela bancada para de dedo em riste, sibilinamente ciciante, nos debitar a cartilha marxista-leninista? Aquela entoação foi adquirida à custa de muitos anos de exercício. Exigiu esforço, persistência e uma fé inabalável. Sem a toada de lenga-lenga, que é a virtude de Carvalhas, destapam-se os parafusos e engrenagens do horroroso totalitarismo comunista. O débito ritmado das “verdades e certezas históricas” produzia um efeito reconfortante; tinha um som de coisa segura, com que se podia contar porque estava ali, sempre tinha estado e podíamos estar certos de que sempre estaria. Já não está.
É claro que ainda há a Dra. Odete Santos. Desde que discretamente medicada e adequadamente abastecida de tintas para o cabelo tem um efeito portentoso sobre o estado de espírito dos portugueses. Não é de desprezar mas sabe a prémio de consolação.
Como é que se chegou a esta tristeza? Desde há muito que desconfio que Carvalhas foi vítima de uma sinistra urdidura, montada por aquele Eusébiozinho encerado, cujo nome não me recordo, mas que aparecia em todas as reportagens televisivas a espreitar por detrás do ombro do “chefe”, de sorriso melífluo e muito aprumado. Carvalhas definhava e ele sempre impassível, sempre a sorrir.
Para mim, foi ele que deu cabo do Cassete.
2005-01-07
Orelhas de lata
O Departamento de Estado norte-americano divulgou no dia 5 de Janeiro o:
Report on Global Anti-Semitism (excertos)
For the purposes of this report, anti-Semitism is considered to be hatred toward Jews—individually and as a group—that can be attributed to the Jewish religion and/or ethnicity. An important issue is the distinction between legitimate criticism of policies and practices of the State of Israel, and commentary that assumes an anti-Semitic character. The demonization of Israel, or vilification of Israeli leaders, sometimes through comparisons with Nazi leaders, and through the use of Nazi symbols to caricature them, indicates an anti-Semitic bias rather than a valid criticism of policy concerning a controversial issue.
Global anti-Semitism in recent years has had four main sources:
a. Traditional anti-Jewish prejudice that has pervaded Europe and some countries in other parts of the world for centuries. This includes ultra-nationalists and others who assert that the Jewish community controls governments, the media, international business, and the financial world;
b. Strong anti-Israel sentiment that crosses the line between objective criticism of Israeli policies and anti-Semitism;
c. Anti-Jewish sentiment expressed by some in Europe's growing Muslim population,based on longstanding antipathy toward both Israel and Jews, as well as Muslim opposition to developments in Israel and the occupied territories, and more recently in Iraq;
d. Criticism of both the United States and globalization that spills over to Israel, and to Jews in general who are identified with both.
Declarações proferidas um dia antes, 4 de Janeiro de 2005, por Abu Mazen (Mahmoud Abbas), provável líder eleito da Autoridade Palestiniana, a partir de 9 de Janeiro de 2005:
Arafat Lives (excertos)
“In one way, indeed, Abu Mazen [Mahmoud Abbas] is more extreme than many of his peers. While they revert to standard talk of Israel’s illegitimacy, he devoted years of his life to giving ideological firepower to the anti-Israel and anti-Jewish indictment. In a doctoral dissertation written at a Soviet university, an expanded version of which was subsequently published in book form, Abu Mazen endeavored to prove the existence of a close ideological and political association between Zionism and Nazism.Among other things, he argued that fewer than a million Jews had been killed in the Holocaust, and that the Zionist movement was a partner to their slaughter.
In the wake of the failed Camp David summit of July 2000 and the launch of Arafat’s war of terror two months later, Abu Mazen went to great lengths to explain why the “right of return” was a non-negotiable prerequisite for any Palestinian-Israeli settlement.“ Peace will not be achieved without the refugees getting back their sacred rights, which cannot be touched” he argued. “It is the individual right of every refugee, and no one can reach an agreement in this matter without his consent.” To dispel any doubt about the nature of this “right,” he emphasized that “the right of return means a return to Israel, not to a Palestinian state.”
On the assumption that the elections scheduled for January 9 go as forecast, Abu Mazen’s succession is thus no more likely to bring peace with Israel, or democracy to the Palestinians, than a new Germany would have been ushered in after World War II by the accession of one of Adolf Hitler’s erstwhile lieutenants.”
It is precisely here that the great importance of the Bush Doctrine lies. For while the EU seems all too happy to continue asking nothing of the Palestinians, as if they were too dim or too primitive to be held accountable for their own actions, Bush has tackled the issue of accountability head on. In his correct perception, it is the total absence of this factor from Middle Eastern political life that has allowed a long succession of local dictators, from Gamal Abdel Nasser, to Saddam Hussein, to Yasir Arafat, to inflict recurrent disasters and endless suffering on their peoples, and mayhem upon the world.
So long as the Palestinian territories continue to be run by men of this kind and by their terrorist organizations, there can be no true or lasting reconciliation with Israel. And so long as the territories continue to be governed by Arafat’s rule of the jungle, no Palestinian civil society, let alone a viable state, can develop. Just as the creation of free and democratic societies in Germany and Japan after World War II necessitated, above and beyond the overthrow of the ruling parties, a comprehensive purge of the existing political elites and the reeducation of the entire populace, so the Palestinians deserve a profound structural reform that will sweep the PA from power, free the territories from its grip, eradicate the endemic violence from political and social life, and teach the virtues of coexistence with their Israeli neighbors. Until this happens, there will be no lasting peace in the Middle East.”
Report on Global Anti-Semitism (excertos)
For the purposes of this report, anti-Semitism is considered to be hatred toward Jews—individually and as a group—that can be attributed to the Jewish religion and/or ethnicity. An important issue is the distinction between legitimate criticism of policies and practices of the State of Israel, and commentary that assumes an anti-Semitic character. The demonization of Israel, or vilification of Israeli leaders, sometimes through comparisons with Nazi leaders, and through the use of Nazi symbols to caricature them, indicates an anti-Semitic bias rather than a valid criticism of policy concerning a controversial issue.
Global anti-Semitism in recent years has had four main sources:
a. Traditional anti-Jewish prejudice that has pervaded Europe and some countries in other parts of the world for centuries. This includes ultra-nationalists and others who assert that the Jewish community controls governments, the media, international business, and the financial world;
b. Strong anti-Israel sentiment that crosses the line between objective criticism of Israeli policies and anti-Semitism;
c. Anti-Jewish sentiment expressed by some in Europe's growing Muslim population,based on longstanding antipathy toward both Israel and Jews, as well as Muslim opposition to developments in Israel and the occupied territories, and more recently in Iraq;
d. Criticism of both the United States and globalization that spills over to Israel, and to Jews in general who are identified with both.
Declarações proferidas um dia antes, 4 de Janeiro de 2005, por Abu Mazen (Mahmoud Abbas), provável líder eleito da Autoridade Palestiniana, a partir de 9 de Janeiro de 2005:
“Israel é o inimigo sionista”
Artigo publicado na Commentary de Janeiro de 2005, de Efraim Karsh, do King's College da Universidade de Londres:Arafat Lives (excertos)
“In one way, indeed, Abu Mazen [Mahmoud Abbas] is more extreme than many of his peers. While they revert to standard talk of Israel’s illegitimacy, he devoted years of his life to giving ideological firepower to the anti-Israel and anti-Jewish indictment. In a doctoral dissertation written at a Soviet university, an expanded version of which was subsequently published in book form, Abu Mazen endeavored to prove the existence of a close ideological and political association between Zionism and Nazism.Among other things, he argued that fewer than a million Jews had been killed in the Holocaust, and that the Zionist movement was a partner to their slaughter.
In the wake of the failed Camp David summit of July 2000 and the launch of Arafat’s war of terror two months later, Abu Mazen went to great lengths to explain why the “right of return” was a non-negotiable prerequisite for any Palestinian-Israeli settlement.“ Peace will not be achieved without the refugees getting back their sacred rights, which cannot be touched” he argued. “It is the individual right of every refugee, and no one can reach an agreement in this matter without his consent.” To dispel any doubt about the nature of this “right,” he emphasized that “the right of return means a return to Israel, not to a Palestinian state.”
On the assumption that the elections scheduled for January 9 go as forecast, Abu Mazen’s succession is thus no more likely to bring peace with Israel, or democracy to the Palestinians, than a new Germany would have been ushered in after World War II by the accession of one of Adolf Hitler’s erstwhile lieutenants.”
It is precisely here that the great importance of the Bush Doctrine lies. For while the EU seems all too happy to continue asking nothing of the Palestinians, as if they were too dim or too primitive to be held accountable for their own actions, Bush has tackled the issue of accountability head on. In his correct perception, it is the total absence of this factor from Middle Eastern political life that has allowed a long succession of local dictators, from Gamal Abdel Nasser, to Saddam Hussein, to Yasir Arafat, to inflict recurrent disasters and endless suffering on their peoples, and mayhem upon the world.
So long as the Palestinian territories continue to be run by men of this kind and by their terrorist organizations, there can be no true or lasting reconciliation with Israel. And so long as the territories continue to be governed by Arafat’s rule of the jungle, no Palestinian civil society, let alone a viable state, can develop. Just as the creation of free and democratic societies in Germany and Japan after World War II necessitated, above and beyond the overthrow of the ruling parties, a comprehensive purge of the existing political elites and the reeducation of the entire populace, so the Palestinians deserve a profound structural reform that will sweep the PA from power, free the territories from its grip, eradicate the endemic violence from political and social life, and teach the virtues of coexistence with their Israeli neighbors. Until this happens, there will be no lasting peace in the Middle East.”
2005-01-06
Behold the sea
...
The daylight was shimmering
And the ghost of a breeze
Was rattling flagpoles
And whispering through the trees
"That was the river
This is the sea"
...
I wandered like a phantom down alleys and passageways
Heavy with history
I heard nothing but silence
Silently saying to me
"That was the river
This is the sea"
...
Slipped into the cathedral
It was quiet and cool
The air was humming with incense
The windows were studded with jewels
There was a stained glass image of Jesus
Shining in front of me
Haloed and bleeding, surrounded by children
And shining in front of me
And as I walked out
I was still saying "that was the river"
I was still saying "this is the sea"
I went down to the harbour
Stepped out in the rain
With a song in my head
And the blood pounding in my veins
I went down to the harbour
Fell on my knee
For at the end of all roaming
I found You in me
"That was the river
This is the sea"...
Words: Mike Scott, London, 1985.
The daylight was shimmering
And the ghost of a breeze
Was rattling flagpoles
And whispering through the trees
"That was the river
This is the sea"
...
I wandered like a phantom down alleys and passageways
Heavy with history
I heard nothing but silence
Silently saying to me
"That was the river
This is the sea"
...
Slipped into the cathedral
It was quiet and cool
The air was humming with incense
The windows were studded with jewels
There was a stained glass image of Jesus
Shining in front of me
Haloed and bleeding, surrounded by children
And shining in front of me
And as I walked out
I was still saying "that was the river"
I was still saying "this is the sea"
I went down to the harbour
Stepped out in the rain
With a song in my head
And the blood pounding in my veins
I went down to the harbour
Fell on my knee
For at the end of all roaming
I found You in me
"That was the river
This is the sea"...
Words: Mike Scott, London, 1985.
Subscrever:
Mensagens (Atom)