2004-11-23

Os jogos das nações

De acordo com a edição de ontem do Washington Post, a NBA impôs a vários jogadores de basquetebol as sanções mais pesadas na história da organização por assuntos não relacionados com o consumo de drogas.

Um jogador dos Indiana Pacers foi suspenso por 73 jogos (o resto da temporada) e sujeito a uma caução salarial de mais de 5 milhões de dólares. Este jogador, que já tem um longo historial de suspensões, tinha pedido recentemente ao clube para ser dispensado dos jogos durante um mês para se dedicar a tarefas de promoção musical (pelo menos agora vai ter oportunidade para o fazer). Dois colegas de equipa foram suspensos por 30 e 25 jogos, respectivamente. Motivo: envolvimento dos jogadores em confronto físico com espectadores. Dos confrontos resultaram nove feridos e um número indeterminado de acções judiciais.

Com esta medida a NBA espera reduzir os maus exemplos de conduta cívica entre os jogadores profissionais de basquetebol, que se tornaram recorrentes ao longo dos últimos dois anos, desde o caso mais mediático do jogador dos LA Lakers, Kobe Bryant, acusado de violação, até aos cada vez mais frequentes problemas de consumo de drogas, de condução alcoolizada, etc.

Do ponto de vista da NBA o problema é simples: o negócio do basquetebol é em grande parte o negócio dos patrocínios empresariais e estes dependem crucialmente do valor comercial da marca NBA. A má conduta cívica de um número crescente de jogadores tem degradado a imagem e a reputação da NBA junto do público americano. Isso reflecte-se numa perda de valor comercial da marca que se traduz em perdas consideráveis de dinheiro de patrocínios.

Os EUA não são uma sociedade “desmoralizada”, onde apenas alguns políticos descentrados da realidade é que “descobrem” os “valores morais” de quatro em quatro anos, para consumo eleitoral. Mas nos EUA, como na generalidade das sociedades desenvolvidas, os cidadãos não votam periodicamente: votam todos os dias, como consumidores, com o seu próprio dinheiro, fazendo escolhas e interagindo permanentemente no vasto e complexo conjunto de mercados da economia.

Os americanos não estão dispostos a “votar monetariamente” em produtos de empresas cuja imagem é associada à violência, à droga e ao desrespeito das leis. As empresas sabem disso. A NBA também. Por isso prefere tomar medidas exemplares a deixar que certos maus hábitos sociais de alguns afundem um gigantesco negócio que depende crucialmente da imagem social dos desportistas.

Veja-se a diferença para a Europa, onde o futebol tem o maior destaque. Em Portugal, apenas para citar o exemplo próximo, os jogos são pretextos para a exibição dos piores hábitos de conduta, por parte de jogadores, público e mesmo comentadores. Até pessoas, que de outro modo se comportam de forma inteiramente razoável, quando se trata da “bola”, do “clube”, entram num estranho estado de “suspensão da razão” e substituem o discurso examinado por um absurdo relativismo. Mesmo em Inglaterra, bem mais próxima de qualquer definição aceitável de civilização, há casos como o do jogador do Manchester United, Roy Keane, que admitiu na sua “biografia” ter deliberadamente partido a perna a um adversário, uma agressão que lhe pôs termo à carreira profissional.

O livro foi um sucesso.

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