Colocar Portugal no ‘top of mind’ dos destinos turísticos e desta forma aumentar o fluxo de turistas (...). A nova campanha intitulada ‘Live Deeper’, que surge no seguimento da promoção do país feita a propósito do Euro 2004, tem como enfoque principal o “reforço do valor dos Oceanos na marca Portugal Turismo”.O texto acima, obviamente indecifrável, serve lindamente para passar o incentivo ao golfe e ao “scuba-diving” como prioridades da despesa pública.
Tendo como pano de fundo os oceanos, a nova campanha inspirada nas ideias de profundidade, diversidade e emoção, vai ser segmentada em sete temas: ‘relax’, romance, cultura, aventura, animação, golfe e MICE, dirigido ao turismo de negócios.
Já ninguém se incomoda com o sistemático anúncio de medidas que envolvem custos fiscais difundidos pela totalidade dos contribuintes e benefícios privados concentrados em subgrupos sociais bem identificados, neste caso as empresas ligadas às actividades turísticas e publicitárias. Os poucos que o fizerem receberão provavelmente como resposta uma vacuidade keynesiana: o Estado gasta, mas a bem da nação, porque as despesas com o turismo têm um “efeito multiplicador”. Não perguntar torna-se a melhor estratégia, os efeitos sociais são nulos e sempre se aturam menos patetices.
Mas há neste “anúncio de futuros anúncios” (tratam-se, afinal de contas, de campanhas publicitárias) uma linguagem, que no seu propósito instrumental de “anestesia fiscal” revela, sem o querer, demasiado sobre a verdadeira natureza do Estado português. Refiro-me em particular à “marca Portugal”. O absurdo de um país-marca, de uma união serôdia e forçada pela via fiscal dos interesses dos cidadãos em torno do “objectivo nacional” de promoção turística.
Tudo isto resulta num colectivismo sem socialismo, de baixas calorias, numa apoteose televisiva de castelos filmados de helicóptero, de um “povo” de cara cheia de sorrisos falsíssimos a acenar em câmara lenta, de lugares magníficos que só existem nas imagens promocionais.
Filósofos alemães como Oswald Spengler e Ernst Jünger, ambos influentes no advento do terceiro Reich, desejavam criar um “socialismo sem marxismo”. O governo português, que na balbúrdia política nacional se reclama “de direita”, tem a sua própria concepção de socialismo sem marxismo, mas agora em paródia consumista pós-moderna, com a história e a cultura reduzidas a um conjunto de imagens “hiper-reais”.
Welcome to Portugal.
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