2003-11-19

A nossa economia de direcção central: o caso do ensino da medicina

Segundo a TSF, o governo decidiu criar mais 300 vagas em cursos de medicina já no próximo ano lectivo. Cerca de 100 delas servirão para reconversão de dentistas já que responsáveis do sector dentário alertaram a formação de dentistas em excesso. O governo quer também autorizar, já para 2005, o ensino da medicina em duas das dez universidades privadas que desejam fazê-lo.

Germano de Sousa, bastonário da Ordem dos Médicos, afirma que o aumento do número de vagas nas escolas públicas é "um exagero". A Germano de Sousa não parece necessário um tão grande número de vagas, mas admite que esta medida, que classifica de demagógica, possa ter fins eleitorais. Para ele uma tal medida obriga o ministério a dispôr de uma grande verba que lhe permita financiar as escolas, pois de outra forma não haverá forma de contratar assistentes, equipar laboratórios, etc. "Desconfio que se possam abrir 300 vagas sem degradar a qualidade de ensino", diz ele, afirmando recear pela saúde dos portugueses. Quanto às escolas privadas, Germano de Sousa afirmou que a Ordem dos Médicos muito provavelmente se recusará a acreditar os novos cursos, ou melhor, que "os novos médicos podem ver barrada a inscrição na Ordem".

Repare-se que se continua, em Portugal, a decidir centralmente o número de vagas em cada curso, e a restringir o mais possível a acção das universidades privadas, de quem por princípio se tem uma enorme desconfiança. Note-se ainda como as ordens em Portugal, em vez do papel importante que poderiam ter de acreditar os cursos com independência, servem pelo contrário para proteger os interesses instituídos, chegando ao ponto de ameaçar não acreditar cursos que ainda não existem, e sobre os quais não têm, por isso, qualquer informação, apenas porque são oferecidos por escolas privadas.

Temos aqui Portugal no seu esplendor. As políticas iliberais e centralizadoras de Lynce continuadas pela nova titular do Ministério da Ciência e do Ensino Superior e o lamentável corporativismo das nossas ordens.

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