CIAAC Ontem à noite foi assinado o protocolo de cedência da Cidadela de Cascais ao município.  Foi uma cerimónia simples, realizada dentro de uma tenda que, com o vento, parecia querer tornar audível a frustração e a tristeza daquelas velhas muralhas.  Os discursos oficiais foram formalmente correctos, embora deixassem sempre para último lugar as referências aos militares que foram durante séculos a razão de ser da cidadela.  Sentia-se bem que as autoridades civis consideravam ter-se feito justiça, sendo devolvida finalmente a Cascais uma parte significativa do seu centro, ocupada até então, e contra-natura, pelos militares.  Assinado o protocolo, os presentes tiveram o privilégio de ouvir as irmãs Labèque num bom concerto para dois piano e metais rangentes, sempre com receio que a tenda, vingativa, desabasse.  Depois, um Carcavelos de honra, onde faltaram os doces tradicionais da terra, como as areias ou as nozes, parte da esquecida doçaria local.  Ao sair, demorei-me um pouco dentro do recinto.  Edifícios simples mas dignos, com as paredes irregulares mas imaculadamente brancas marcadas regularmente pela cantaria das portas e janelas.  Com a sua velha calçada sem uma falha.  Degradado só mesmo o palacete, afecto à Presidência da República.  Todo o velho aprumo dos militares, em sua casa.  Ao sair, o render da guarda, numa cerimónia simples, mas digna.  O sentinela à porta, como há séculos.  Foi aí que realizei verdadeiramente o absurdo da situação.  A cerimónia destinou-se a comemorar, isso sim, a saída dos ocupantes legítimos da Cidadela.  Em breve lá teremos hotéis "de charme", maus museus e turistas às voltas, sem sinal daqueles para quem o edifício foi construído.  Mais uma pedra na tendência que temos de "libertar" conventos e fortes dos seus legítimos ocupantes, "devolvendo-os" à população.  Decididamente, o anti-clericalismo e o anti-militarismo estão ainda connosco.
CIIAAC - Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa
2003-11-01
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