2003-11-22

Associações de estudantes de medicina: tirocínio corporativista

No Público de quinta-feira, as associações de estudantes de medicina afirmam que não querem mais vagas nem cursos de medicina em escolas privadas. Porquê? Simples: "Não há falta de médicos". Além disso, "o facto de se abrirem mais vagas pode levar a que daqui a uns anos os médicos estejam a ser formados para o desemprego, o que será um desperdício de recursos públicos, pois é um curso caro." E acrescentam que "somos contra a criação de novas faculdades porque as que existem são suficientes para a nossa população". Algumas perguntas aos estudantes:
  • Se há falta de médicos, porque se recrutam em Espanha? (Não me percebam mal: acho muito bem que venham para cá espanhóis.)
  • Onde se baseiam para afirmar que em breve haverá médicos a mais? Como podem ter a certeza? E se falharem a previsão, e os médicos faltarem? Assumem alguma responsabilidade?
  • Em que é que a criação de novas faculdades afecta os actuais estudantes? Se não afecta, porque se manifestam sobre a abertura de novas faculdades?
  • Estão realmente preocupados com as finanças públicas? Estariam de acordo em erradicar esse problema passando a pagar propinas apropriadas, de forma a que a sua formação não fosse suportada por todos nós (eu incluído)?
Na realidade estas perguntas são largamente retóricas. Tirando Ana Calafate, que afirma que o aumento do número de vagas poderá vir a piorar ainda mais as más (segundo ela) condições de ensino, todos os restantes argumentos são meramente proteccionistas e demonstram um sério pré-corporativismo. Espero que a ministra lhes dê a atenção que merecem: nenhuma.

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