2003-10-08

"A globalização explicada aos jovens... e aos outros" Quem "explica" é José Jorge Letria, num livrinho com este título publicado há cerca de um ano pela Terramar. O livro passou despercebido, como acontece a quase todos os livros "para jovens". Sem mais comentário, seguem alguns extractos:
Uma coisa é hoje clara para praticamente toda a gente: a globalização, na sua vertente económica, tem contribuído substancialmente para tornar os ricos muito mais ricos e os pobres muito mais pobres [...]

O que torna a globalização condenável é justamente a circunstância de transformar a ganância e o lucro em valores absolutos, através de uma concepção económico-social que não deixa lugar para a solidariedade e não dá voz aos mais desfavorecidos, que são cada vez em maior número.

[Diálogo entre pai e filho:]

— Porque é que tu achas que isso
[os actos violentos durante as manifestações anti-globalização] acontece?

— Porque há organizações políticas que ficaram sem espaço nem expressão pública nos últimos anos e que aproveitam estas ocasiões para radicalizarem as suas formas de protesto.

— E o que é que tu achas que pode ser feito para evitar que isso aconteça?

— Não tenho uma resposta para essa pergunta, até porque estamos num período de transição da política tradicional para novas formas de fazer e organizar a vida política e ninguém sabe como irão ser essas formas nas próximas décadas. No fundo, estamos a viver uma quase revolução e, nas revoluções, há sempre excessos que só o tempo e o bom senso dos seres humanos permite moderar e corrigir.
[...]

[...]

[...] Entretanto, todo este debate ganhou uma nova dimensão depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro.

— Porquê?

— Porque o próprio terrorismo se tornou global e transnacional, usando os meios da globalização para finaciar as suas acções. Eles, os terroristas, usaram a especulação em várias Bolsas para conseguirem dinheiro para acções cada vez mais destrutivas, imprevisíveis e assustadoras.
[...]

[...]

[...] Normalmente, o conceito e a palavra [globalização] são usados no seu sentido económico, valorizando a ideia de que há um mercado global cujas regras são impostas pelos mais poderosos e em relação ao qual os consumidores e os trabalhadores são meros elementos passivos, sendo que os trabalhadores dos países mais pobres nem consumidores podem ser, pois vivem, em muitos casos, com cerca de um euro por dia, o que equivale a dois cafés ou a uma sanduíche ou a pouco mais de um litro e meio de leite. Este mercado global ignora as fronteiras e as economias nacionais e expande-se por onde quer e como quer, despedindo trabalhadores, desmantelando e deslocalizando fábricas e empresas e semeando a insegurança social.

— Mas sempre houve tendência para que isso acontecesse, ou não houve?

— Tendência houve, mas não existiam condições de concretização.

— Porquê?

— Porque havia os regimes comunistas do Leste, e nesses mercados não entravam ou entravam muito pouco os produtos de outros países. Só com a queda do Muro de Berlim a situação começou a alterar-se, e também com a entrada da República Popular da China para a grande rede do comércio mundial, com o apoio dos Estados Unidos, que viram ali não só o maior mercado mundial, mas também o maior criador de produtos baratos para abastecer certos mercados.
Etc.

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