Mitos Parte do anti-americanismo que infecta a Europa é baseado em mitos sem qualquer correspondência com a realidade. Noutros casos, baseia-se numa certa incapacidade para nos olharmos ao espelho: é muito mais fácil vermos defeitos nos outros. Por exemplo, na última coluna de
Augusto M. Seabra no Público, afirma-se que "por marcadamente inigualitária que seja a democracia americana, ela tem, se calhar como poucas, mecanismos de verificação e controle". É impossível a um bom intelectual europeu fazer um elogio aos EUA sem na mesma frase os criticar. Vejamos, no entanto, se a crítica, que assumo referir-se à disparidade de rendimentos, tem razão de ser. De acordo com o
Relatório do Desenvolvimento Humano 2003 das Nações Unidas (ver página 282), são os seguintes os índices de
Gini de alguns países (valores de 0 a 100, onde 100 corresponde ao máximo de disparidade):
- Dinamarca: 24,7 (1997)
- França: 32,7 (1995)
- Alemanha: 38,2 (1998)
- Portugal: 38,5 (1997)
- Moçambique: 39,6 (1996-1997)
- China: 40,3 (1998)
- Estados Unidos: 40,8 (1997)
- Brasil: 60,7 (1998)
- Botswana: 63,0 (1993)
Outra forma de observar a disparidade é comparar a percentagem do rendimento ou consumo total correspondente aos 10% mais ricos da população com a correspondente aos 10% mais pobres:
- Dinamarca: 21,3 / 2,6 = 8,1
- França: 25,1 / 2,8 = 9,1
- Moçambique: 31,7 / 2,5 = 12,5
- China: 30,4 / 2,4 = 12,7
- Alemanha: 28,0 / 2,0 = 14,2
- Portugal: 29,8 / 2,0 = 15,0
- Estados Unidos: 30,5 / 1,8 = 16,6
- Brasil: 48,0 / 0,7 = 65,8
- Botswana: 56,6 / 0,7 = 77,6
Se alguma coisa podemos concluir destes números é que a disparidade de rendimentos nos EUA e em Portugal é muito semelhante, embora ligeiramente menor por cá. Se consideramos os EUA "marcadamente inigualitários", temos de fazer o mesmo em relação em Portugal.
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