2003-09-01

Flores 5 Canada dos Paus Brancos, Fajã Grande. Prados separados por muros de pedra solta, negro de basalto coberto ainda da cinza dos líquenes. O ruído do vento atlântico na árvores. O cantar das lavandiscas e dos melros. O voo ocasional de uma narceja. O ar límpido e uma sensação de eternidade. A nossa vida, vista daqui, não tem qualquer importância. As nossas preocupações, as nossas ambições, os nossos anseios tomam as suas verdadeiras proporções: nada de nada.

Em breve esta canada será alargada, asfaltada, destruída. A ideia dói-me. O homem continuará sempre igual a si próprio. As nossas qualidades, a iniciativa, a curiosidade, a incapacidade de estar parado e simplesmente contemplar, são os nossos piores defeitos. O que demorou decénios, mesmo séculos, a realizar, à força de braços e de animais, hoje demora semanas, por vezes dias. O poder não nos trouxe maior sensatez. Ontem conseguimos alterar a natureza, lenta e persistentemente. Hoje destruímo-la rápida e eficazmente.

Mas quem sou eu para criticar, lisboeta de férias?

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