A
carta que Bush escreveu a Sharon começa por saudar como corajoso o plano de Sharon que prevê o desmantelamento total dos colonatos da Faixa de Gaza e parcial dos colunatos na Cisjordânia. Até aqui nada a dizer: é um passo na direcção certa. Bush depois apresenta um conjunto de exigências à autoridade palestiniana, que incluem a sua demarcação clara de actos de violência contra Israel. Aqui a posição de Bush pode começar a ler-se como pró-israelita. De facto, Bush não se limita a exigir acções contra o incitamento do terrorismo, da matança indiscriminada de civis, mas afirma que os palestinianos "must undertake an immediate cessation of armed activity". O problema é que, independentemente de poder ter havido no passado boas razões para isso, os palestinianos vivem sob ocupação e têm o direito de a combater. O fim desses combates não pode ser exigido como condição prévia para as negociações, mas sim como resultado delas. Há que distinguir muito claramente entre combate contra uma ocupação e terrorismo, e Bush não o faz. E há que fazer muito claramente essa distinção mesmo que os palestinianos não a façam. Bush continua dizendo que a resolução do problema do retorno dos refugiados palestinianos tem de passar por permitir o seu regresso não às localidades de origem, mas a um novo estado da Palestina, a criar. A posição parece realista, mas peca por não prever qualquer contrapartida para o facto de os refugiados não poderem regressar a casa. Bush depois afirma que o muro que Israel está a construir "should be a security rather than political barrier, should be temporary rather than permanent, and therefore not prejudice any final status issues including final borders". Parece também uma posição sensata, bem como a afirmação de que é irrealista esperar que as fronteiras de 1949 venham a ser as fronteiras definitivas entre os estados de Israel e da Palestina. Mas não podemos, no meio de tanta aparente sensatez, deixar de notar que as cedências mais significativas recaem quase todas sobre os palestinianos. Bush não deixa claro, por exemplo, se a manutenção de alguns colonatos na Cisjordânia (aparentemente seis, com um total de cerca de 100 000 colonos, segundo a BBC World, presumindo-se que a maioria
há menos de 25 anos), corresponderá à cedência por Israel algum do seu território. O problema é que não basta que os EUA, e Bush em particular, esteja empenhado no estabelecimento de uma Palestina "viável, contígua, soberana e independente". É preciso mais. É preciso que a solução encontrada seja justa. Se é fundamental que não se ceda ao terrorismo, também o é que não se deixe, em nome do seu combate, de ceder naquilo que é justo. Temos de ter a força e a coragem de tornar o terrorismo irrelevante. As causas justas devem ser defendidas, mesmo que sejam apoiadas por terroristas.